Apresentador que pediu demissão da Globo ao vivo faz revelações e desabafa: ‘Me apunhalou’

Reprodução/Facebook/Twitter

O apresentador Kaio Cézar, que pediu demissão do Globo Esporte ao vivo, nesse sábado (16), usou o Facebook para fazer uma espécie de desabafo e contar os motivos que o levaram a se desligar da emissora Verdes Mares, afiliada da Globo no Ceará. Ele contou que a convivência com o diretor de Programação e Jornalismo do grupo, Paulo César Norões, ficou insustentável e o chamou de “arrogante”. “Me apunhalou por muito tempo”, disse em um trecho do post.

Nesse sábado, quando se demitiu ao vivo, Kaio disse que não abria mão do “respeito”, mas não explicou o que o levou a tomar tal atitude. No desabafo ele conta, no entanto, que nunca ofendeu a honra pessoal de colegas do trabalho, mas que fizeram isso com ele. “Quanto ao hoje diretor, eu preciso não me calar e encarar qualquer consequência e até retaliação”, diz. “Arrogante, ele nunca soube lidar com quem pensa diferente, principalmente os que julga inferiores”, continua.

Em outro trecho, o apresentador diz ter se sentido tão pressionado que chegou a pensar em tirar a própria vida. “Quanto ao desgaste emocional, as pressões me deixaram no chão. Na Rússia, encarei uma crise emocional tão dura que, por Deus e pelas pessoas que amo, reconsiderei fazer o pior”, escreveu o narrador.

Nem a Verdes Mares nem o diretor citado por Kaio se pronunciaram a respeito do assunto. Por meio do Twitter, a afiliada da Globo disse nesse sábado ter sido pega de surpresa com o desligamento do apresentador. Veja abaixo do posto o desabafo dele na íntegra!

Veja na íntegra o texto divulgado por Kaio Cézar

“Sobre qualidade e defeito, um dia me disseram que há cargos cujos profissionais, para ocupá-los, precisam ter os dois, especialmente o segundo. Uma espécie de código real e não oficial, situado nas camadas baixas da honra e envolvido por conceitos tanto arrogantes quanto ultrapassados: ‘Diz-me teus defeitos que eu fabricarei tuas qualidades’. Talvez seja tarde, mas hoje digo sob absoluta convicção que o que ouvi não era um pensamento vão, mas realidade comum e incontestável.

Em quase 11 anos de empresa –cheguei aos 17 de idade– cometi, lógico, muitos erros. Todos, no entanto, no âmbito profissional, ainda assim julgo ter passado bem, sem qualquer falta grave. Nunca um erro de ordem ética, no sentido de diminuir algum colega enquanto pessoa, por exemplo, ou assediá-lo moralmente. É só ir atrás e você vai ver que mantive minha linha, com retidão. Jamais ofendi a honra pessoal muito menos a família de alguém no meio de uma redação, outro exemplo.

Fizeram isso comigo. E fizeram mais.

Darei apenas um nome, uma vez que os outros, de cargos menos elevados, cometeram falhas, acredito, mais por ter a proteção dele do que por maldade, simplesmente. E quanto a esses outros, já tratei dos problemas pessoalmente, então caso resolvido. Mas, quanto ao hoje diretor Paulo César Norões, eu preciso não me calar e encarar qualquer consequência e até retaliação. Me apunhalou por muito tempo.

Arrogante, ele nunca soube lidar com quem pensa diferente, principalmente os que julga inferiores. E eu, por ter raízes, convicções –políticas e esportivas– e personalidade extremamente opostas nunca fui respeitosamente aceito por ele. Lembro-me que um dia, no meio de uma reunião do esporte, quando era nosso editor-chefe, mandou-me ‘tomar no cu’ por ter discordado dele. Curioso é que pouco antes, quando eu ainda estava na na TV Diário, outra emissora do SVM, ele havia tentado me barrar da cobertura da Copa das Confederações sob a alegação de que eu era ‘tímido demais’, nas palavras do diretor Roberto Moreira, diretor da TV Diário.

Roberto Moreira, aliás, apesar de amigo pessoal do PC, sempre foi muito correto comigo. Foi ele quem me abriu as portas dentro da empresa, me defendeu e me deu grandes oportunidades. Até quando tomou alguma atitude que me prejudicasse, procurou agir com decência e lealdade. Devo a ele gratidão e respeito. Espero que seja sempre assim.

Pois bem, depois da Copa das Confederações, com a ida de Antero Neto para o Rio de Janeiro, surgiu uma vaga na TV Verdes Mares. O próprio Roberto Moreira me chamou e, por três vezes, insistiu para que eu fosse conversar com PC a fim de ganhar uma oportunidade na principal emissora do estado –a esta hora PC já tinha achado um substituto em Fábio Pizzato, que passou a narrar os jogos. Eu relutei porque imaginava que ele, Roberto, estivesse me testando.

Só após o quarto pedido tomei coragem de me dirigir ao PC, que disse não ter vaga. Ocorre que, quando Roberto soube da resposta, imediatamente entrou em contato com o diretor da TV Verdes Mares, Marcos Gomide e, poucos dias depois, eu estava ocupando a tal da vaga, já existente.

O tempo foi passando e os movimentos estranhos continuaram. Outra vez foi no Bom Dia Ceará, onde eu era o substituto do Marcos Montenegro. Quando estavam preparando a saída do Marcos para o CETV2, veio a informação de que outro profissional, então estagiário, ocuparia o lugar. Curioso é que, poucos meses antes, a Lianne Quezado, editora-chefe do Bom Dia e uma das pessoas mais profissionais e corretas que conheço, tinha me falado sobre muitos elogios feitos à minha desenvoltura dentro do telejornal por uma equipe da Globo, que comumente vai às afiliadas avaliar o padrão jornalístico.

Não fiquei calado e disse diretamente ao PC que aquela atitude era uma ‘sacanagem’ comigo. Foi aí que o diretor Marcos Gomide interferiu e me confirmou no bloco de esportes do Bom Dia, dizendo, segundo me afirmou Fábio Pizzato, a seguinte frase: ‘Kaio é um talento que a gente não está aproveitando’.

Mesmo pouco depois saindo da editoria de esportes para ser um dos diretores do SVM, PC continuou interferindo nos assuntos do esporte dentro do grupo. E um dos projetos desenvolvidos logo após ele assumir o cargo que era do pai, Edilmar Norões –saudoso e de respeitosa memória– foi o projeto dos Craques da Verdinha, sob coordenação de Antero Neto e sob o rótulo da renovação.

Para minha surpresa, mesmo tendo inclusive entregado um projeto –até os jingles da equipe são com minha letra, umas em parceria com Antero Neto– do qual muitas ideias foram aproveitadas e já sendo narrador da Rádio Verdes Mares desde 2008, fiquei inicialmente de fora. Só entrei depois da desistência de Bosco Farias, ainda assim, só para constar, com um dos menores, se não o menor salário da equipe. E tudo isso eu vinha denunciando.

Ainda em relação à rádio, num evento mais recente, durante a Copa da Rússia, Antero Neto, meu amigo e conterrâneo, teve uma atitude digna. Vendo que eu não estava narrando nenhum jogo do Brasil, me sugeriu narrar o último da primeira fase, único até então garantido de acontecer na capital russa, onde eu estava baseado.

Para minha surpresa, ato contínuo do Antero: ‘Mas o PC não deixa. Embora eu não concorde, ele disse para eu narrar todos os jogos do Brasil e que eu sou o sucessor do Gomes Farias’. Daí eu indaguei, só por indignação: Por que narramos juntos os jogos do Brasil na Copa América de 2011? E por que ele vem me elogiando tanto no grupo em meio a tantos diretores? Dissimulação? Fiquei sem resposta e continuei, com a força da gratidão, narrando os outros jogos.

Tudo isso foi ocorrendo em combinação com outros acontecimentos, que não posso reputá-los todos ao PC Norões, mas, por tudo isso que já relatei, seria natural pelo menos desconfiar que alguns tenham interferência dele.

Para me ater apenas ao que se refere à narração esportiva, inicialmente me tiraram dos jogos do Premiere Futebol Clube, onde narrei, se não me falha a memória, quatro jogos em três anos e depois de muita briga, mesmo sendo o titular da afiliada da Globo no Ceará. Depois, me tiraram da rádio, alegando, pasmem, que minha saída era para que eu pudesse me dedicar aos jogos do PFC, sendo que depois voltei pro rádio para tapar buracos e sem o salário que eu lá recebia.

Por último, fui perdendo espaço também nas transmissões da TV Verdes Mares. O motivo? Tive que folgar obrigatoriamente dois domingos no mês. Apesar de absurdo do ponto de vista da rotina jornalística –muito mais do esporte, que trabalha essencialmente às quartas e domingos– tudo bem. Se é uma norma da empresa em acordo com o Ministério do Trabalho, o jeito é acatar. Mas, por que há contratos diferentes que não exigem isso? Mais uma vez fiquei sem resposta.

Por último, deixei para relatar o mais grave, que foge sobremaneira da esfera profissional. Em meio a tantos fatos que configuram perseguição, certa vez PC Norões se dirigiu a mim e proferiu ofensas à minha família que não as repito aqui porque tenho dois filhos, entre eles uma enteada, e poderia expor pessoas que não tem nada a ver com a história. Só adianto uma coisa, não tem nada a ver com traição da minha mulher, como inventaram de ontem pra hoje.

E foi assim que pouco a pouco me escantearam, sem qualquer pudor ou respeito por mim, um profissional que se dedica há tanto tempo à mesma empresa, e que foi avaliado como sendo de ‘bom-caráter’ ao ser promovido de uma emissora a outra dentro do SVM.

Não quero dizer, com isso, que sou melhor ou pior –não é essa minha indignação. Quero apenas constatar que as pessoas aprovaram meu trabalho, que foi construído ao longo de, ao todo, 15 temporadas da minha vida. Hoje sou um narrador de rádio e TV que, aos 28 anos, tem três Copas do Mundo, duas Copas América e uma Copa das Confederações, currículo raríssimo no Brasil para alguém da minha idade.

Recentemente, diante de todos esses problemas, cheguei a pedir minhas contas ao Marcos Gomide, diretor da TV Verdes Mares. Ele me pediu paciência e a única coisa que aconteceu foi aumentar o salário por um lado e tirar as horas extras por outro. Ou seja, ficou na mesma.

Fora dos jogos do PFC, passei a não receber mais cachês –que, por sinal, já avisaram que não serão mais pagos aos profissionais que trabalharem neste ano; fora da rádio, meu salário foi reduzido em quase R$ 3 mil, sem falar no corte das horas extras. Quanto ao desgaste emocional, as pressões me deixaram no chão. Na Rússia, encarei uma crise emocional tão dura que, por Deus e pelas pessoas que amo, reconsiderei fazer o pior.

Apesar de tudo, preciso agradecer. Sou profundamente grato ao Sistema Verdes Mares pelas oportunidades que tive, embora nos últimos anos, o diretor citado tenha insistido em me tirar do páreo. Aproveito e pontuo aqui minha gratidão à outra pessoa, o mestre Tom Barros, que sempre esteve à minha disposição. Da mesma forma, faço saudações a todos os colegas do SVM e de outras empresas que, de alguma forma tenham me ajudado e que podem estar passando por algo parecido. A Mirela Forte, minha esposa, por exemplo, foi demitida um mês depois de voltar de licença maternidade, recebendo a notícia de que voltaria em breve. Alguns meses depois, foi decidido que não iriam mais contratar cônjuges de funcionários.

Disto isso, diante do paradoxo dos resultados que apresentei com meu trabalho enquanto narrador esportivo –minha principal função e motivo pelo qual me dedico ao jornalismo– e os problemas que enfrentei nos bastidores durante esses anos, humilde e despretensiosamente chego a uma conclusão: as qualidades necessárias para narrar no Sistema Verdes Mares eu possuo, mas os defeitos ideais para me manter no cargo, estes me faltam.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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