Juventude sem remédio?

(Elements+Antonio Scarpinetti/Unicamp)

A juventude de hoje faz parte da geração Z. Ela manifesta claramente muito da esperança, desilusão e pressão da sociedade atual. Os efeitos do uso excessivo da tecnologia são sentidos com muita clareza, assim como uma grande desilusão em assuntos como política e cidadania. Com tantas questões relevantes ocorrendo no país, algumas questões são sentidas com ainda mais clareza.

Encontrei um aluno na semana passada com as características clássicas de alguém que passa por um momento de transição delicado. Os pais haviam perdido o emprego, ele precisou conseguir uma bolsa para continuar estudando e estava bem desanimado em relação ao ano. Estudava cada vez mais, mas mesmo assim se sentia impossibilitado de entrar na universidade. Veio pedir um conselho: valeria a pena tomar um medicamento para TDAH para tentar melhorar a capacidade de concentração? Ele não tinha o diagnóstico do transtorno, mas precisava de um rendimento ainda maior. Ele já tomava medicamento para ansiedade e depressão: a cobrança era muito pesada.

Para os alunos que estudam para entrar nas universidades é comum que algumas dessas questões aconteçam. Com uma concorrência cada vez maior e sem amparo psicológico muitos buscam tomar medicamentos para intensificar o rendimento e, quem sabe, passar no vestibular.

Para alguns jovens da geração é comum buscar medicamentos para melhorar todos os aspectos pouco satisfatórios da vida: se não estiver tudo bem, é só buscar uma droga para melhorar a situação. Remédio para emagrecer, para estudar, para ansiedade, para depressão, para sobreviver.

Infelizmente, no Brasil, o amparo psicológico passou a ser acessível somente para jovens das classes mais altas. As consultas costumam custar mais caro do que grande parte conseguiria pagar e somente instituições de ensino particulares (algumas vezes) oferecem um apoio psicológico de qualidade.

Na maior parte das vezes as famílias são ausentes, principalmente devido ao excesso de trabalho. Com isso, em muitas situações o diálogo fica em segundo plano. Tanto os jovens quanto os responsáveis preferem utilizar as redes sociais nos momentos de descanso, enquanto a realidade é de uma juventude desamparada e precisando de atenção.

Falando em tecnologia, a praticidade e a fragilidade das relações sociais aparecem claramente no Instagram, Tinder e várias outras redes. Se o amigo decepcionou, basta bloquear ou deixar de seguir , não precisa discutir. Se o objetivo é ter alguém por uma noite, o Tinder pode ajudar. É usar, jogar fora e manter muito da fragilidade das relações. Além disso é importante torcer para que os jovens saibam se proteger sexualmente, porque diante de todo esse ímpeto as doenças ou a gravidez podem ser um novo desafio. E se bater a solidão, tristeza ou depressão é só procurar um remedinho, se o bolso ajudar.

A participação política é também um desafio para os jovens. A maioria afirma que ao observar os políticos não se sentem representados em todos os sentidos. A aparência do senhores-brancos-heterossexuais-ricos não corresponde ao que a juventude enxerga quando se olha no espelho. O vocabulário dos políticos então, nem se fala. Salvo raríssimas exceções, a linguagem é muito rebuscada e pouco objetiva e um assunto que poderia ser muito atrativo acaba parecendo muito distante. Associado ao distanciamento, muitos dos partidos políticos não criam estratégias para esse grupo e distanciam ainda mais grande parte da juventude.

Com todos esses desafios o importante mesmo seria reconhecer e atender as demandas desse grupo. Como em todas as épocas, é necessário que haja mais amparo para esses indivíduos. Atendimento psicológico gratuito, preventivo e de qualidade é uma das estratégias mais importantes para essa juventude pressionada e desamparada.

É preciso oferecer estratégias de discussão sobre política, educação sexual e o ensino sobre o uso da tecnologia. Na semana passada foi noticiado aqui no BHAZ o suicídio de Yasmin Gabrielle, ex-caloura do programa do Raul Gil, aos 17 anos. Muitos associam esse tipo de situação ao desamparo do século 21. Caso a situação continue dessa maneira no Brasil continuaremos a lamentar e a sofrer com os episódios desse tipo, além de situações de assassinato, gravidez indesejada e falta de cidadania. E para algumas coisas não tem remédio.

Marcelo Batista[email protected]

Marcelo Batista é professor de redação no Bernoulli, no Qi, na plataforma Kuadro, na Qualoo e na Transvest. Graduado em letras pela UFMG, é o fundador da Aprendi com o Papai, plataforma que conta com um canal no Youtube e salinha de redação em Belo Horizonte. Com quase 15 anos de experiência em sala de aula, já trabalhou no ensino fundamental, médio, pré-vestibulares e preparatórios para concursos públicos, o que faz com que tenha uma grande proximidade não só com a educação, mas também com as temáticas mais relevantes para a juventude.

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