ONG põe aviso no telhado: ‘Escola. Não atire’; região foi alvo de ação da polícia, com oito mortos

Uerê/Divulgação

Uma organização não governamental do Rio de Janeiro, o projeto Uerê, afixou uma placa no telhado da sua sede, localizada no Complexo da Maré, no bairro conhecido como Baixo do Sapateiro, na Zona Norte da capital fluminense, para afastar possíveis tiros disparados em operações policiais.

A imagem está circulando esta semana em grupos do WhastApp, em função de uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro ocorrida no início da semana, que deixou oito mortos.

Na terça-feira (7), defensores públicos do Rio de Janeiro fizeram uma visita à comunidade e disseram, segundo o portal G1, que, segundo testemunhas que moram na comunidade, a polícia teria repetido um padrão operacional de outra ação, também na Maré, em junho de 2018, quando sete pessoas foram mortas – uma delas o adolescente Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, baleado na barriga a caminho da escola. A tática da polícia seria usar o helicóptero para encurralar os suspeitos e, depois, executar as pessoas num espaço confinado.

Ao portal G1, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou, por nota, que houve confronto e por isso os suspeitos foram mortos.

Na ocasião, a subdefensora pública-geral, Paloma Lamego, disse que as narrativas dos moradores foram contundentes em afirmar que os tiros foram dados sem a presença de policiais em terra. Ela também mostrou preocupação com a situação de estudantes durante a operação. “A gente percebe que não há um protocolo nas escolas”, explicou a defensora.

Crianças e jovens precisaram fugir durante ação da polícia (Maré Viva/Reprodução)

Durante a ação, crianças da Orquestra Maré do Amanhã precisaram se esconder no corredor da unidade de educação e as aulas foram suspensas devido aos disparos.

De acordo com a presidente da ONG Uerê, Luciana Campos Ramos Martha, na segunda-feira (6), vários helicópteros sobrevoaram a região, dando rasantes. “Quando isso acontece, é um corre-corre, todas as escolas têm de fechar, as crianças e jovens ficam impedidos de ir e vir e precisamos interromper todas as atividades e ir embora”, conta.

Procurada nesta sexta-feira (10) pelo BHAZ, a Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro (Sepol) informou que a operação teve como objetivo prender Thomaz Jhayson Vieira Gomes, conhecido como “3N”, e que “a ação foi criteriosa e seguiu todos os protocolos usados em incursões em áreas de risco no Rio de Janeiro, inclusive quanto ao uso de aeronaves” (leia abaixo a nota na íntegra).

O perigo vem do céu

A placa afixada no teto da ONG tem os dizeres: “Escola, não atire. Projeto Uerê”. Ela foi afixada no telhado em 2016 e até hoje está lá.

(Projeto Uerê/Divulgação)

“As rajadas vindas dos helicópteros eram a novidade do ano, em 2016. Um perigo. Uma coisa de louco aquele corre-corre macabro. Tínhamos que nos proteger de alguma maneira, e Yvonne Bezerra de Melo, pedagoga e fundadora do Projetu Uerê, teve a ideia de colocarmos uma placa de aviso no telhado. Genial. Eu logo aderi e preparei uma arte bem grande, amarela. A placa está lá até hoje e, de fato, funcionou”, conta Luciana Ramos, comentando que pensou recentemente em produzir uma placa maior.

O projeto Uerê atua há 20 anos na Maré, um grande complexo formado por vários bairros entre as linhas Vermelha e Amarela, e oferece projetos variados para 370 crianças e jovens, entre 6 e 18 anos, atendidos no contra-turno escolar. Além de atividades educacionais, a ONG oferta oficinas culturais, esportivas e de informática.

Segundo a presidente da Uerê, o projeto tem metodologia pedagógica própria, criada por Yvonne Melo, para o desenvolvimento de trabalhos socioeducacionais com crianças e jovens traumatizados por situações de violência.

“A metodologia é reconhecida nacional e internacionalmente. Para se ter ideia, Yvonne, que é conhecida por ter abrigado os jovens sobreviventes da Chacina da Candelária – ocorrida em 23 de julho de 1993, quando oito jovens foram assassinados por militares, no Centro do Rio – está agora na Suécia, numa capacitação para educadores que atuam com imigrantes na Europa”, conta Luciana.

Pedido de apoio

A estrutura da ONG conta atualmente com 18 profissionais, entre administrativo e professores e precisa de apoio para custear 400 refeições servidas diariamente no local para os participantes e funcionários (café da manhã, almoço e lanche), que têm custo semanal em torno de R$ 2 mil, bem como para ajudar na folha de pagamento.

Conforme a dirigente da instituição, os patrocinadores e apoiadores atuais querem colaborar diretamente por projeto específico, como nas oficinas ou nas aulas de futebol. “Estamos correndo o risco de no segundo semestre termos apenas projetos pontuais ou termos de cancelar alguns deles”, lamenta.

Nos próximos dias, a ONG vai lançar duas campanhas virtuais no intuito de arrecadar doações. Quem tiver interesse em ajudar o projeto Uerê, pode entrar em contato pelo telefone: (21) 3881-6219 ou acessar o site.

Nota na íntegra da Polícia Civil do Rio de Janeiro

“A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) informa que a operação realizada na Maré teve como objetivo prender Thomaz Jhayson Vieira Gomes, conhecido como “3N”. A ação foi desencadeada a partir de informações da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil (Ssinte) apontando que o traficante comandaria nos próximos dias invasão à comunidade Salgueiro, em São Gonçalo, onde sucessivos confrontos têm provocado diversas vítimas. 

A ação foi criteriosa e seguiu todos os protocolos usados em incursões em áreas de risco no Rio de Janeiro, inclusive quanto ao uso de aeronaves. 
A Delegacia de Homicídios da Capital está conduzindo as investigações. Todos os procedimentos investigativos estão sendo tomados.”

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