Professor é morto com tiro na cabeça e, em vídeo, mãe desabafa: ‘Quando vão parar de matar trabalhadores?’

(Reprodução/Voz da Comunidade)

Um professor de jiu-jitsu foi morto na tarde dessa terça-feira (14) com um tiro na cabeça no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Moradores e parentes acusam policiais militares pelo disparo que matou o professor. Um vídeo com o relato desesperado de sua mãe, Sandra Mara, cobrando Justiça e o fim da matança de cidadãos trabalhadores e pais de família na capital fluminense viralizou nas redes.

Jean Rodrigues da Silva Aldrovande, de 39 anos, era mestre num projeto social no Complexo do Alemão, onde dava aula para cerca de 90 alunos. Segundo testemunhas, Jean estava chegando para dar aulas, estacionou seu veículo em frente à Escola Maneco Team, sede do projeto, quando foi alvejado. Um rapaz que frequenta a academia e estava perto de Jean ficou ferido na perna e levado para um hospital público.

De acordo com moradores, policiais militares teriam entrado na comunidade atirando e um tiro atingiu o atleta na cabeça. Após a morte de Jean, moradores fecharam a Estrada Adhemar Bebianno, em Inhaúma, um dos acessos ao Complexo do Alemão, e atearam fogo em madeiras e pneus. A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que foi acionada para uma manifestação que culminou em duas pessoas atingidas por tiros (leia abaixo) e que está apurando os fatos.

(Voz das Comunidades/Reprodução)

“Ele estava chegando para dar aula. Os policiais são muito despreparados. Foi baleado com um tiro de fuzil na cabeça quando estava com as mãos levantadas, dizendo que ela morador, trabalhador. Para mim, foi execução”, disse o pai do professor, Carlos Alberto Aldrovande, de 65 anos, ao jornal Extra.

Segundo a mulher de Jean, a jornalista Andreia Rios, ele era referência para jovens e adolescentes do Alemão, onde tinha 90 alunos na favela. “Ele tirou muito jovem do crime. Era aquele tipo de pessoa que estimulava os alunos, conseguia quimono para quem não tinha. Era uma pessoa muito especial”, afirmou Andreia.

O projeto social no Complexo do Alemão é custeado pelo Ministério do Esporte e Jean ganhava R$ 950 por mês, de acordo com o contracheque de abril, apresentado pela família do atleta. 

De acordo com o Jornal Voz das Comunidades, editado no Alemão, Jean ia participar de uma competição de jiu-jitsu em Juiz de Fora (MG), de disputar o torneio do Sesi e um campeonato brasileiro neste mês.

Reprodução/YouTube

Assista ao vídeo em que Sandra Mara, mãe de Jean, desesperada pede o fim das mortes. Ela, muito emocionada, pergunta aos repórteres: “Quando vão parar de matar nossos filhos? Quando a polícia vai parar de matar trabalhadores e prender bandido? É isso que eu quero saber. Pergunta pro Witzel (governador do Rio de Janeiro). Meu filho era pai de quatro filhos… Quem vai sustentar os filhos do meu filho?”, questionou.

Protesto na Câmara pede fim da mortandade de negros no país

Junto ao vídeo de Sandra Mara, há na sequência um manifesto ocorrido na Câmara dos Deputados na manhã dessa terça-fera (14), sobre uma sessão solene que homenageou os 131 anos da assinatura da Lei Áurea.

O evento foi marcado por protestos do movimento negro, que não aceita o título de redentora, comumente dado à então regente do Império, que assinou a lei de libertação dos escravos em 13 de maio de 1888.

“Parem de nos matar!”, cobraram integrantes de movimentos negros presentes à solenidade. A deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) afirmou que a data serve para denunciar o racismo diário que a população negra sofre.

Sessão Solene em homenagem aos 131 Anos da Assinatura da Lei Áurea
Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Representantes do movimento negro afirmaram que a data é dia para denunciar o racismo. “Hoje é dia de denúncia de uma abolição inconclusa e de uma abolição que não foi conquistada por nenhuma princesa. Nós nascemos livres e nós também conquistamos com a luta de negros e negras escravizadas e escravizadas no passado colonial que não se encerrou. De um estado que traz execuções em cima de favelados, que têm cor, que têm mães negras”, criticou Talíria.

“Nossos antepassados deram sangue para construir essa terra e não vamos aceitar que se homenageie uma mulher branca, que diz que nos deu a liberdade, não vamos pagar as balas que matam nossos filhos. Não podemos admitir que se comemore uma data que não representa a nossa luta. A data de 13 de maio, para nós, é o dia da denúncia contra o racismo, a discriminação e o preconceito”, disse a ativista Deise Benedita.

O que disse a PM do Rio sobre a ação no Alemão

Em nota, a assessoria da Polícia Militar informou que, na tarde de terça-feira, equipes das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Complexo do Alemão foram acionadas para verificar uma ação que culminou com dois homens atingidos por disparos de arma de fogo na Rua Canitar. Chegando ao local, “os policiais constataram o fato e já se depararam com uma manifestação na Estrada Adhemar Bebianno, atuando para estabilizar a região. O comando da Coordenadoria de Polícia Pacificadora está apurando a dinâmica como o fato ocorreu”.

No documento, a PM não informa se houve alguma ação na comunidade em que houve troca de tiros envolvendo militares e traficantes de drogas.

Com informações do Extra, da Agência Brasil e da Agência Câmara

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