Febre maculosa: Capivaras da Pampulha podem ter levado doença para a Grande BH

Carlos Avelino/PBH

Capivaras de Belo Horizonte podem ter migrado para Contagem, na região metropolitana. É o que denunciam moradores do bairro Vila Boa Vista, no município vizinho, onde quatro pessoas da mesma família morreram de febre maculosa – a causa de duas mortes segue em análise. A Prefeitura de Contagem afirma que no município não havia o registro dos roedores, que são os principais hospedeiros do carrapato-estrela, infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii.

Há 37 anos Vitor Antônio dos Santos mora no bairro infestado pelo carrapato e conta ao BHAZ que nunca houve a presença de capivaras por lá. O motorista e jardineiro critica a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pelo fato de os roedores terem ido para a região. “Desde o meio do ano passado, quando teve registro de febre maculosa no Parque Ecológico da Pampulha, as capivaras de lá começaram a ser capturadas para o processo de esterilização. Nós percebemos que algumas começaram a vir para a nossa região, porém era em menor número. Agora tem mais ou menos umas 15 [capivaras] por aqui”, disse.

Capivaras na orla da Lagoa da Pampulha, animais continuam sendo monitoradas pela PBH (Carlos Avelino/PBH)

O fato de o bairro Vila Boa Vista estar próximo do limite entre Contagem e Belo Horizonte favorece a ida dos animais para o local, conforme afirma Júlio César Santos, responsável pela assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde de Contagem. “Se você seguir o terreno, onde as pessoas foram picadas pelo carrapato-estrela, chegará ao zoológico de BH. É uma distância, em linha reta, de aproximadamente 500 metros. O bairro é muito próximo da lagoa”, explica.

O trânsito das capivaras ocorre às margens dos córregos afluentes da Bacia Hidrográfica da Pampulha e do Córrego Sarandi, em Contagem. Segundo a Secretaria de Saúde de Contagem, a migração dos animais não havia ocorrido anteriormente. “Nunca tivemos o registro de migração das capivaras saindo da Pampulha e margeando os córregos do município. É algo novo e estamos estudando estratégias para fazer a captura e esterilização dos animais”, acrescenta Júlio Santos.

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Para o morador Vitor dos Santos, a PBH “não conseguiu resolver o problema das capivaras” e acabou “transferindo a responsabilidade” para Contagem. “Acredito que alguns animais foram esterilizados e os outros mandados para cá passando pelo afluente da Lagoa da Pampulha”.

PBH se posiciona

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte (SMMA) afirma que a denúncia dos moradores não procede. “Durante todo o trabalho de manejo das capivaras foi amplamente divulgado que os roedores passariam pelo processo de captura, esterilização, aplicação de carrapaticidas e seriam soltos na orla da Lagoa da Pampulha em no máximo 72 horas”, afirma a pasta.

Sobre a esterilização dos animais, a SMMA de BH ressaltou que “a capivara adulta não transmite a doença febre maculosa para carrapatos”. “Os filhotes de capivaras, entre três e quatro meses de vida, são que transmitem a doença febre maculosa para os carrapatos. Por isso, a esterilização dos animais foi a opção adotada pela PBH. Com a cirurgia, os roedores não terão filhotes que são os responsáveis por transmitir a doença para os carrapatos”, explicou a SMMA em nota.

A informação da PBH sobre a esterilização dos filhotes é rebatida pela professora de parasitologia veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Júlia Angélica. “A esterilização não significa que encerrou de vez a bactéria. É preciso fazer um controle do carrapato, pois ele é extremamente resistente e consegue transmitir a bactéria para seus filhotes carrapatos”, explica.

A professora ainda acrescenta que de maio a setembro o carrapato-estrela está na fase ninfa, quando parasita mais o ser humano e aumenta sua população. “Os órgãos municipais precisam identificar as áreas de risco e nesse período do ano indicar os locais para a população evitá-los. O correto seria a população não ter acesso aos pontos críticos. Caso isso não ocorra, é fundamental orientar as pessoas a passar repelentes, inspecionar o corpo e se tiver febre, procurar uma unidade de saúde”.

Atualmente, a PBH continua monitorando a chegada de novas capivaras, mas afirma que isso não ocorre desde o fim de 2017, data em que o monitoramento teve início. “A SMMA tem dedicado atenção especial ao  local onde ocorre o desassoreamento da Lagoa da Pampulha porque é um local de difícil acesso, seja por barco ou a pé. Estamos contando com a empresa contratada até o fim de 2019 e qualquer nova capivara identificada sem manejo será tratada (captura, cirurgia de esterilização e aplicação de carrapaticida)”.

Busca por solução

Junto à PBH, o Executivo municipal de Contagem busca medidas para adotar diante dos animais, pois o município não tem plano de manejo. Nesta terça-feira (4) uma reunião será realizada entre os integrantes das equipes das secretarias de Meio Ambiente dos dois municípios.

Desde a última sexta-feira (31), animais abandonados estão sendo recolhidos nas ruas do bairro Vila Boa Vista. “Nove cavalos já foram retirados das ruas. Eles estão passando por análise para ver se os carrapatos que estavam neles sãos os que transmitem a doença”, explica Júlio César.

Ações estão sendo realizadas pela Prefeitura de Contagem para combater o carrapato-estrela na região do Nacional (Divulgação/Secretaria de Saúde de Contagem)

O ciclo do carrapato

O ciclo de dispersão da bactéria Rickettsia rickettsii, que provoca a febre maculosa em humanos, ocorre da seguinte forma: o carrapato fêmea põe ovos e vai ter uma prole. Em cada postura, pode colocar de 7 mil a 10 mil ovos.

A larva do carrapato, já eclodida, pode ficar de três a 12 meses no ambiente, sem se alimentar.

“Se o carrapato fêmea se alimentou do sangue de um algum vertebrado silvestre (gambá, rato, cavalo, capivara) que está num pico de infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii ou se herdou da mãe a bactéria, pode passar para parte da sua prole, na chamada transmissão transovariana”, explicou ao BHAZ o professor da Universidade Federal de Viçosa, Cláudio Lísias Mafra, médico veterinário e especialista há mais de 30 anos no carrapato causador da febre maculosa.

Se os animais estão infectados com a bactéria e o carrapato suga seu sangue, e o homem entra em contato com o carrapato, ele é contaminado e a doença se mantém nessa região.

Divulgação/PBH
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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