CPI: Vale realizou explosões na mina de Brumadinho no dia do rompimento da barragem

Barragem da Vale em Brumadinho, que colapsou em janeiro deste ano (Divulgação/ALMG + Amanda Dias/BHAZ)

A mineradora Vale realizou explosões na Mina do Córrego do Feijão no dia 25 de janeiro, data em que a barragem B1 se rompeu, deixando centenas de mortos, em Brumadinho. As informações foram passadas por funcionários ligados à mineradora durante sessão da CPI de Brumadinho, nesta segunda (24).

Essas explosões, conforme autoridades, podem representar dois problemas: ter contribuído para a ruptura da barragem, segundo relatórios de empresa contratada pela Vale teriam apontado (leia mais abaixo); e/ou evidenciar que funcionários da mina não foram avisados da tragédia mesmo após ter se passado mais de 1h do rompimento.

Para isso, parlamentares da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) querem, agora, descobrir se as detonações ocorreram antes ou depois do colapso da barragem e como as explosões nas proximidades da barragem podem ter influenciado na tragédia.

Além disso, as explosões depois do colapso da barragem B1, poderiam ter prejudicado a barragem B6, estrutura vizinha a B1, que estava em risco de rompimento após a tragédia.

O deputado André Quintão (PT), presidente da CPI, disse que os parlamentares vão apurar se foram realizadas mais explosões na mina. “Vamos checar e cruzar informações para saber se foi somente esta explosão no dia do rompimento e, também, se não houve nenhum contato com a participação da hierarquia superior da Vale nesta ação”, disse.

O engenheiro da Vale, Edmar de Rezende, que perdeu parentes na tragédia, afirma que as explosões aconteceram às 13h33 do fatídico dia. Contudo, o mecânico de mineração, Eiichi Osawa, da empresa Sotreq, que prestava serviços à Vale, alega que as detonações ocorreram entre 12h20 e 12h40. A barragem se rompeu às 12h28, no dia 25 de janeiro.

Os dois divergiram durante a sessão na ALMG. Para sustentar sua afirmação de que as explosões ocorreram após o rompimento, o engenheiro entregou um vídeo aos parlamentares que mostra o momento da explosão e o horário da gravação.

Além da filmagem, Edmar garantiu que outras pessoas testemunharam a explosão no horário afirmado por ele. “Eu estava com outras três pessoas e, além disso, mais dois topógrafos que fariam medições na mina viram a detonação depois do horário de rompimento da barragem”, disse.

Outras explosões

O deputado André Quintão (PT) questionou Edmar sobre a quantidade de explosões realizadas na cava da mina do Córrego do Feijão. O funcionário disse que as detonações ocorriam de duas a três vezes por semana. Contudo, ele não soube precisar se houve explosões na semana da tragédia.

Segundo Quintão, os relatórios da Tuv Sud, empresa de engenharia contratada pela Vale, diziam para evitar detonações nas proximidades da barragem. Questionado se foi avisado do fato, o funcionário da Vale negou.

“Não fui comunicado dos cuidados que deveriam ter com a proximidade da barragem. Nem gerente, nem supervisor, ninguém me informou nada”, disse Edmar.

Ele também garantiu que explosões foram realizadas na mina, ao longo do mês de janeiro, e que os registros constam em documentos enviados à Vale.

Diante disso, os deputados abriram requerimento à mineradora para que disponibilize os documentos com registro de explosões realizadas nos meses de dezembro e janeiro, a carga de explosivos utilizadas e as imagens com horário das explosões.

Para Quintão, os depoimentos mostram os equívocos e omissões cometidos pela Vale na mina do Córrego do Feijão. “Trânsito pesado e detonações. Aqui fica comprovado que ocorreram durante todo o ano de 2018 quando foi feito a recomendação, bom como os dias que antecedera, resta dúvida sobre horário. Se ocorreu depois, quem tomou a decisão? Poderia agravar a situação das pessoas que estavam na lama. Série de falhas e que funcionários não foram alertados”.

Prorrogação

A CPI de Brumadinho solicitou a prorrogação de suas atividades por mais 60 dias. Desta forma, o novo prazo para o término das ações, caso Plenário aprove o pedido, será no dia 16 de setembro e não mais 7 de julho, como está previsto. O pedido se deve à necessidade dos deputados de mais tempo para análise e conclusão dos trabalhos.

Vale

O BHAZ questionou a Vale sobre os horários e o número de detonações realizadas no dia 25 de janeiro na Mina do Córrego do Feijão e, também, ao longo da semana que antecedeu a tragédia. Perguntamos a mineradora sobre a distância das explosões para a barragem, qual a quantidade de explosivos utilizados e se tinham ciência se as detonações poderiam impactar na estabilidade das barragens B1 e B6.

Em nota, a mineradora se limitou a dizer “que a ocorrência de detonações é inerente às atividades de mineração. No relatório emitido pela TUV SUD em junho/18, não existe a recomendação expressa de paralisação das operações das minas. Essas detonações foram realizadas de forma monitorada na cava das minas de Córrego do Feijão e de Jangada, estando de acordo com as recomendações da auditoria”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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