Por que você não deve compartilhar (nem assistir) o vídeo de Fábio Assunção

Fábio Assunção
Divulgação/Globo

Imagens expondo a intimidade do ator Fábio Assunção voltaram a tomar conta das redes sociais nessa quarta-feira (26). Após ter a vida privada exposta por meio de um vídeo publicado no início do ano, no qual estava supostamente embriagado, desta vez, o ator aparece em momento íntimo com outras pessoas.

A rapidez com que a devastação da vida particular do artista se alastra, traz à tona o questionamento ético e moral a respeito do compartilhamento desse tipo de conteúdo.

Assunção já se declarou dependente químico em tratamento e, após a vitória em um processo impetrado contra autores de uma música que o ridicularizava, decidiu doar o valor da indenização para instituições que tratam pacientes que lutam contra a doença.

Na ocasião, Fábio divulgou a decisão judicial por meio de seu perfil no Instagram. “Antes de qualquer coisa, eu preciso falar com as pessoas que passam pelo mesmo problema que eu. Eu não endosso, de maneira nenhuma, essa glamourização ou zoeira com a nossa dor. Minha preocupação é com quem sente na pele a dor de ser quem é. Com as suas famílias”, disse o ator. Fábio explicou por que entrou em contato com o grupo: “Entre não censurar e deixar de conscientizar, existe um abismo que não me conforta”.

Nesta quinta-feira (27), a namorada e o filho do ator se manifestaram sobre a divulgação do novo vídeo. A publicitária Mel Pedroso destacou que a aparência atual dele é diferente da exibida no vídeo divulgado, ontem, e questionou o porquê de Fábio incomodar tanto as pessoas. “Essas aqui são fotos atuais do meu namorado. Cabelo comprido, barba longa, pq está interpretando um personagem de 50 anos, pra uma série da Rede Globo. Ele está com esse cabelo branco e essa barba há mais de 6 meses, que nem o favorece fisicamente, mas que ele mantem por amor à arte, por amor à profissão”, afirmou.

“Enquanto muitos seguem a vida fazendo fofocas sem construir nada, eu observo e admiro meu namorado construindo obras e obras, trabalhos e mais trabalhos que impactam vidas, seres humanos. Esse dia, que estou de vermelho, ele recebeu o prêmio de melhor ator do país”, declarou a publicitária.

E desabafou: “Será que alguém que trabalha tanto, e faz tão bem aos outros, não merece um pouco de paz? Discutam política, discutam o país, discutam direitos humanos. Não invadam a privacidade alheia. Façam o bem, pra receberem bem de volta”.

O filho de Fábio também usou o perfil no Instagram para desabafar sobre a situação e partir em defesa do pai. “Apesar de nunca ter tido a chance de morar com meu pai, o impacto que temos na vida do outro é imensa. Por ser uma figura muito pública, quando passamos por tempos ruins, sofremos em dobro, aguentando olhares julgadores, comentários, posts, tweets e mais criticando como se aquelas ações ruins definissem seu caráter, por completo”, declarou.

E acrescentou: “Fico decepcionado com muitas coisas, e uma delas definitivamente não é meu pai. Sinto ele finalmente feliz de novo, e com a maior certeza do mundo digo que este vídeo não nos derrubará e não vai o tirar de sua jornada”.

A propagação do conteúdo gerou debates intensos nas redes sociais. Enquanto alguns internautas afirmaram que a divulgação fazia parte de uma mera brincadeira, outros consideraram a prática cruel e questionaram a motivação e o interesse nesse tipo de material.

Para a psicóloga Maria Clara Jost, pós-doutora em psicologia clínica e professora de pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), a realidade atual, baseada no consumismo, objetifica tudo e desumaniza o outro. “As pessoas estão ficando insensíveis à dor do seu semelhante. A matéria tem se sobreposto ao humano, e este está sendo objetificado em relações de uso, troca, abuso, como coisas descartáveis”, disse.

Jost também destaca que a escolha de repassar o material adiante diz muito sobre quem envia o conteúdo. ” O prazer em ver o sofrimento do outro é decorrente de uma pessoa que tem uma baixíssima autoestima. É como se ela precisasse pisar no outro pra se sentir grande. ‘Olha como o outro é ruim e eu sou bom. Olha como ele é doente e eu sou saudável’. São traços de uma forte insegurança emocional”, afirma a doutora.

A profissional ainda pondera sobre as implicações psicológicas que as vítimas desse tipo de devastação da vida íntima sofrem. “A exposição causa dores e aumenta o sofrimento de quem, neste caso, por exemplo, já luta contra uma doença como a dependência química. A sociedade é corresponsavel pela saída e por afundar o outro ainda mais no problema. Quando as pessoas compartilham, podem estar assinando embaixo de uma sentença cruel”, pontua.

E completa. “Essa maldade anônima estigmatiza a vítima. A reduz apenas àquela ótica. Como se ela fosse apenas aquilo. É um ato irresponsável e requer uma autoavaliação”, completa.

Além do aspecto ético e moral, quem compartilha conteúdos do gênero, pode responder judicialmente pelo ato. Para o especialista em direito digital Alexandre Atheniense, de um modo geral, as pessoas não se dão conta do risco, sob o ponto de vista jurídico, que correm ao repassar imagens da esfera íntima ou publicações jocosas do outro.

“As plataformas digitais deixam rastros muito maiores do o mundo analógico. Você pode não conseguir pegar todos, mas pode alcançar muitos e esses estão sujeitos à aplicação da lei’, afirma Atheniense.

Ele lembra que os ofendidos devem acionar a justiça para que medidas sejam tomadas. “Caso os envolvidos busquem a tutela jurídica, quem compartilhou pode responder civilmente por exposição da imagem e até por crimes de injúria, caso haja ofensa direta às vítimas”, destaca.

O advogado acredita que a certeza da impunidade, supostamente garantida pela tela do computador, é o que encoraja as pessoas a divulgarem esse tipo de material.

E alerta: “Caso receba conteúdos dessa natureza, ignore e apague. Dessa forma, você pode evitar grandes problemas, além de buscar agir de forma mais ética”, finaliza.

Sinara Peixoto

Formada em Comunicação Social com Ênfase em Jornalismo no Centro Universitário de Belo Horizonte e com pós-graduação na PUC Minas em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa. Atuou como editora na CNN Brasil, desde a estreia do veículo no país, e na edição do Portal BHAZ. Também despenhou várias funções ao longo de 7 anos na TV Record Minas, onde entrou como estagiária.

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