Vítima fica 9h na Delegacia da Mulher, é alvo de deboche de policiais e desiste de fazer BO: ‘Total desrespeito’

Google Street View + WhatsApp/Reprodução

Uma jovem, de 23 anos, desistiu de prestar queixa contra o ex-companheiro após ficar por quase 9h aguardando atendimento na unidade policial com um bebê de dois meses no colo. Além da espera, ela ouviu risadas e deboches de policiais da delegacia criada justamente para atender mulheres, a Especializada de Atendimento à Mulher de Belo Horizonte, no Barro Preto, nessa terça-feira (9).

Ao BHAZ, a vítima explica que foi acompanhada de uma amiga e com o filho, de dois meses, até a avenida Barbacena, nº 288. Elas chegaram à delegacia por volta de 12h30. “Chegamos e não tinha ninguém na portaria. Fomos até o terceiro andar e pediram para aguardar”, explica a jovem.

A mulher conta que fez todo o procedimento de praxe para ser atendida. “Dei todos os meus dados, fiz tudo o que foi pedido. Meu nome nem no papel para ser chamada foi colocado”, explica.

Vítima conversa com familiar 1h após chegar na delegacia (WhatsApp/Reprodução)

Descaso e deboche na delegacia

Mesmo com o bebê no colo, a amiga da vítima explica que não houve preferência ou qualquer tipo de auxílio. “Perguntei para um policial sobre prioridade, e ele riu da nossa cara, ficou debochando e dizendo que todas ali tinham prioridade. Uma grosseira”, desabafa.

As horas foram passando e nada de atendimento. “Uma outra mulher chegou, tinha sido ameaçada com uma faca pelo marido. Ela também desistiu. Ouvi muitas reclamações por lá”.

Vítima desabafa após quase 6 horas na delegacia (WhatsApp/Reprodução)

“Acho um total desrespeito. A gente [mulher] vive com medo o tempo todo. Parece que somos obrigadas a aceitar tudo. Quando finalmente criamos coragem para abrir a boca e denunciar as agressões, somos tratadas como lixo por outros homens, por policiais”, relata a amiga da vítima.

Quando as duas desistiram de prestar queixa, e estava à noite, com um bebê de colo, um policial resolver dar uma carona de volta para a casa delas. “Imagina ter que pegar dois ônibus, com um bebê, num frio desses, à noite. Praticamente 21h e a gente na rua ainda. Inclusive correndo perigo ainda. O que a gente não se submete para fazer uma denúncia?, relata a jovem ameaçada.

“Constrangimento todo para fazer e não fizemos. Por isso que muita mulher desiste, é descaso, desrespeito mesmo”, complementa.

Ameaça

A vítima foi à unidade policial denunciar o ex-companheiro, que não quer assumir a paternidade da criança. “As ameaças começaram depois que eu entrei com um processo de paternidade. Nós tínhamos um teste de DNA marcado na semana passada, e ele faltou”, explica.

“Fui questioná-lo o motivo dele não ter ido, aí ele veio com muita ignorância, bem agressivo. Ele começou a me fazer ameaças, dizendo que eu não conhecia ele direito. Eu me senti muito mal com isso, porque estou buscando um direito do meu filho, para que ele possa ser registrado com o nome do pai dele”, relata a jovem.

“Quero que o pai assuma as responsabilidades. Passei minha gestação completamente sozinha, só com a ajuda de familiares e amigos, e ainda perdi meu emprego”, desabafa.

A vítima faz um desabafo e diz que não desistirá. “A gente vai buscar uma segurança, chega na delegacia e é recebida daquela forma. Muito desagradável, desrespeitoso, um descaso total”.

“A gente fica sem saber o que fazer, mas não vou desistir. Vou voltar lá, prestar queixa. Eu acho que é a única segurança que vou ter”, completa.

Movimento maior que o habitual

Por meio de nota (leia abaixo na íntegra) enviada ao BHAZ, a Polícia Civil lamentou o ocorrido e disse que, nessa terça-feira (9), a delegacia “registrou um movimento maior que o habitual”.

Segundo o órgão, a maioria do efetivo da delegacia é composta por policiais femininos. Sobre a demora no atendimento e a grosseria do policial, o órgão disse “que adota critérios de preferencialidade, respeitadas as particularidades dos casos de violência, e, portanto, irá apurar a denúncia quanto à conduta do servidor”.

Nota da Polícia Civil na íntegra

“A Polícia Civil de Minas Gerais lamenta o ocorrido e esclarece que nada data de ontem, 09/07, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) registrou um movimento maior que o habitual. A PCMG informa ainda que possui, em sua grande maioria, policiais femininos para o atendimento, e que adota critérios de preferencialidade, respeitadas as particularidades dos casos de violência, e, portanto, irá apurar a denúncia quanto à conduta do servidor. A DEAM se coloca a inteira disposição para atender esta vítima, excepcionalmente, com agendamento de horário”.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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