Ainda de pé, casa onde Guimarães Rosa morou em BH será restaurada

Amanda Dias/BHAZ

A notícia de uma possível demolição da casa onde morou o escritor Guimarães Rosa em Belo Horizonte alarmou, nesta quinta-feira (25), arquitetos e a população local, trazendo de volta o assunto sobre a conservação dos imóveis na rua Congonhas, no bairro Santo Antônio, e sobre o patrimônio da cidade.

Na esquina das ruas Congonhas e Leopoldina, 13 imóveis foram tombados pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, em agosto de 2007. O alerta para a possível demolição do imóvel ocorreu depois que uma moradora da região fez uma publicação a respeito da situação das casas abandonadas e cercadas por tapumes. Próximo delas será construído um prédio de 27 andares pela Construtora Canopus, que comprou um terreno na região.

O espaço onde Guimarães Rosa morou fica no número 415 da rua Leopoldina, onde também funcionou o Bar do Lulu, um dos mais famosos pontos de encontro da boemia belo-horizontina, fechado em 1999.

Procuradas pelo BHAZ, a construtora e a Diretoria de Patrimônio Cultural, Arquivo Público e Conjunto Moderno da Pampulha (DPAM) desmentiram os boatos de que o imóvel onde Guimarães Rosa morou teria sido demolido. “Não tem nada de demolição. Estamos fazendo a limpeza do terreno e retirando algumas coisas que não estão no projeto original das casas”, explica o diretor de marketing e vendas da Canopus, Tarcio Barbosa.

Um acordo firmado junto com a Prefeitura (PBH) para que ocorresse a construção do empreendimento determinou que o Habite-se, documento necessário para que o imóvel seja ocupado, será entregue somente após o término das restaurações.

No total, 13 imóveis serão restaurados (Amanda Dias/BHAZ)

A previsão é de que as obras durem pelos próximos três anos e, agora, a construtora realiza a fundação do edifício. “Os modelos das casas serão preservados. O prédio será construído atrás delas, com isso a entrada e garagem será pela rua São Domingos do Prata”, disse.

O BHAZ solicitou junto à Canopus os projetos das casas, mas foi informado de que o Conselho Municipal seria o responsável por repassá-lo. Procurado, o Conselho disse não ter autorização para disponibilizar o material, já que os imóveis são particulares.

Mineiro de Cordisburgo, Guimarães Rosa nasceu em 1908 e morreu em 1967. Formou-se em medicina, mas foi na literatura que tornou-se um expoente de renome internacional. Sua obra, ambientada quase toda no sertão mineiro, destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais. Sua obra-prima é “Grande sertão: veredas”, traduzida para diversas línguas em todos os continentes.

Tapumes cercam o espaço (Amanda Dias/BHAZ)

Cuidado com o patrimônio

Apesar do imóvel não ter ido para o chão, o arquiteto André Veloso da Silva, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-MG) e membro do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, ressalta que BH tem “cuidado muito mal de seu patrimônio”. “Muitas das vezes falta interesse dos proprietários em cuidar dos espaços. Quem perde com isso é a cidade, pois isso faz parte da nossa história. Aos poucos temos percebido uma mudança no cenário com as pessoas buscando a conscientização, mas é só o começo”, disse.

Outro fator que contribuiu para que os imóveis não sejam mantidos é a “pressão econômica”. O arquiteto explica que os casarios antigos da cidade estão muitas das vezes em espaços onde as construtoras desejam construir prédios. “Os imóveis, como esses da Congonhas e Leopoldina, estão em um local que dá um bom retorno financeiro, caso aconteça a venda. Há a pressão das construtoras para que aconteça a verticalização da cidade. BH tentou criar mecanismos, mas a pressão econômica é muito forte”, concluiu.

Construção do prédio está na parte da fundação (Amanda Dias/BHAZ)

Nota da DPAM na íntegra:

“A Diretoria de Patrimônio Cultural, Arquivo Público e Conjunto Moderno da Pampulha – DPAM informa que os imóveis particulares tombados, localizados na Rua Congonhas (487 a 579) e Rua Leopoldina (415), NÃO estão sendo demolidos. Estes imóveis foram tombados pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município – CDPCM em 22/08/2007, com publicação no DOM em 30/08/2007.

O Conselho aprovou projeto de restauração elaborado pela Construtora Canopus para o local, com uma série de diretrizes que preservam e valorizam o imóvel. O projeto está sendo executado. Nenhuma casa foi demolida – todas estão sendo restauradas de acordo com projeto aprovado pelo Conselho.”

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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