Moro achava delação de Palocci fraca, sugerem mensagens; divulgação foi às vésperas da eleição 2018

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Diálogos atribuídos a integrantes da operação Lava Jato obtidos pelo The Intercept Brasil e publicados nesta segunda-feira (29) pelo jornal Folha de S.Paulo sugerem que considerações políticas pesaram na decisão de Sergio Moro em divulgar parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial em 2018.

A divulgação de trechos da delação ocorreram, apesar de Moro duvidar que o conteúdo do depoimento – incriminado governos conduzidos por políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) – pudesse vir a ser comprovado.

Em uma das mensagens divulgadas hoje, o procurador Paulo Roberto Galvão escreve: “Russo [como Sergio Moro era chamado pelos colegas] comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista”, afirmou Galvão num grupo de mensagens do aplicativo Telegram em 25 de setembro, chamando Moro pelo apelido que eles usavam e fazendo referência à Omertà, o código de honra da máfia italiana.

A afirmação de Galvão indicaria que Moro, embora considerasse frágeis as provas apresentadas por Palocci, achava a colaboração do político importante, por representar um racha nos vínculos entre os membros do PT.

Naquele dia, segundo a Folha, Moro acabara de receber as provas entregues pelo delator e se preparava para divulgar um dos depoimentos do ex-ministro. O comentário reproduzido por Galvão sugere ainda, conforme o jornal, que o juiz deixara de lado sua insegurança sobre as provas ao levantar o sigilo sobre a delação.

Outros membros do grupo também se mostraram céticos. “Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele”, afirmou a procuradora Laura Tessler. “O melhor é que [Palocci] fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja”, comentou Antônio Carlos Welter.

Moro divulgou a delação de Palocci em 1º de outubro, uma semana após o comentário reproduzido por Paulo Roberto Galvão no Telegram e uma semana antes do primeiro turno das eleições presidenciais.

No depoimento, tomado pela Polícia Federal em abril de 2018, o ex-ministro disse que Lula autorizou o loteamento da Petrobras pelos partidos que apoiavam seu governo e sabia que eles recolhiam propina das empreiteiras que faziam negócios na estatal, como a Odebrecht.

Moro negou intenção de influenciar eleições

Palocci disse também que as campanhas da ex-presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014 receberam dinheiro de caixa dois e tiveram custos cerca de três vezes maiores do que o indicado nos registros oficiais. Tornado público por Moro às vésperas das eleições, o depoimento teve grande repercussão na mídia. À época, o candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, acusou Moro de tentar prejudicar o partido.

Moro negou que sua intenção fosse influenciar as eleições presidenciais, ao se defender de uma reclamação contra ele, encaminhada ao Conselho Nacional de Justiça.

Um mês depois de apresentar essas explicações ao CNJ, Moro deixou a magistratura ao aceitar assumir cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública no governo de Jair Bolsonaro.

Acordo de Palocci com a PF

Palocci fechou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal em março do ano passado, após fracassarem suas negociações com a Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

Segundo a Folha de S.Paulo, as mensagens analisadas pelo jornal e pelo Intercept mostram que os procuradores encerraram as negociações por considerarem que a delação de Palocci acrescentava pouco ao que já sabiam e não incluía provas para sustentar os depoimentos que continham novidades.

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