Animais morrem e moradores suspeitam de água contaminada da Vale: ‘Estamos em pânico’

Arquivo pessoal/Reprodução

Moradores de uma comunidade em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte, denunciam as mortes de animais após o rompimento da barragem da mineradora Vale S.A., em Brumadinho, no começo do ano. O local onde eles moram fica às margens do Rio Paraopeba, que está contaminado pela lama de rejeitos. Eles suspeitam que a água fornecida para eles esteja contaminada.

A doméstica Silvana Vieira conta, ao BHAZ, que desde março seus animais estão morrendo. O caso mais recente foi nessa terça-feira (30), quando um bezerro morreu enquanto era atendido por veterinários. “O primeiro animal que veio a óbito foi um cavalo, no mês de março. Achei até ‘normal’, pois ele chegou a frequentar a margem do Paraopeba depois do rompimento da barragem. No entanto, as mortes não pararam por aí e com o tempo perdi 35 galinhas”, disse.

Desde que ocorreu o rompimento da barragem, em 25 de janeiro, moradores da comunidade recebem semanalmente água da mineradora. “Na sexta-feira, eles entregam a água mineral e, duas vezes por semana, colocam água no reservatório. É de lá que tiramos a bebida pros animais”, acrescenta Silvana.

Para buscar entender as causas das mortes, Silvana Vieira levou o assunto para uma reunião entre moradores e representantes da mineradora. “Deve ter uns 15 dias que essa reunião ocorreu. Fui lá e disse os problemas, pois estávamos pelejando com um bezerro que estava com diarreia”.

Na sexta-feira da semana passada, um representante da Vale foi à comunidade, conforme contou Silvana, no entanto, no dia seguinte o animal morreu. “Entrei em desespero e até informei a situação para os órgãos competentes. Nossa situação está crítica”.

Um veterinário da Vale também visitou a comunidade Fhemig no domingo (28), mas as mortes não pararam. “Segunda-feira eu fui em outra reunião e quando voltei encontrei uma leitoa morta”, contou, emocionada.

O caso mais recente ocorreu ontem e deixou a doméstica abalada, pois o animal veio a óbito enquanto era atendido por veterinários. “Não sabemos o que tem causado isso. Estamos com medo e pânico. Nem dormi direito essa noite por causa da cena que vi [bezerro morrendo]”.

Além de Silvana, outros moradores da região têm sofrido com as perdas dos animais, que na maioria das vezes são utilizados como forma de garantir a renda das famílias. “Eu perdi 35 frangos de granja, a minha vizinha mais de 40. Antes do rompimento, a gente nunca teve animais morrendo nessa quantidade. Vou ser sincera, quando eu perdia um [frango] era devido à invasão de cachorro no terreno”, relatou.

Conforme contou a doméstica, técnicos da Vale estiveram na comunidade recolhendo amostras da água na segunda-feira (29). Uma orientação dada a deixou assustada. “O rapaz pediu que eu não jogue a água do reservatório nas plantas, mas sem explicar o motivo. Se não pode jogar em planta, pode dar pra animal beber?”.

Na segunda-feira mais um bezerro morreu na propriedade de Silvana (Arquivo pessoal/Reprodução)

Apesar de não terem a confirmação, os moradores suspeitam de que a água dos reservatórios possa estar contaminada, visto que ela é utilizada com frequência para a hidratação dos animais. “Acredito que o problema está sendo causado por essa água”, disse Silvana. O reservatório citado pela doméstica tem capacidade para 5 mil litros.

Procurada pelo BHAZ, a Vale informou, em nota, que a água fornecida para a população “é oriunda da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Copasa de Juatuba (MG) ou Pompéu (MG) e entregue para a população local via caminhões pipa”. A mineradora disse que a qualidade da água pode ser conferida clicando aqui.

Sobre as mortes de galinhas, bezerros e cavalos, a Vale se “comprometeu a realizar exames dos animais em laboratórios especializados e com especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”. A nota enviada pode ser lida na íntegra abaixo.

Nota da Vale na íntegra:

“Desde o rompimento da barragem B1 em Brumadinho (MG) e a consequente proibição de captação de água no Rio Paraopeba, a Vale tem fornecido água mineral e potável para as comunidades atingidas. Recebem a água disponibilizada pela Vale as propriedades que não possuem água encanada, que captavam água diretamente no Rio Paraopeba e os usuários de poços artesianos e cisternas que estão até 100 metros de distância do Rio.

A água disponibilizada é oriunda da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Copasa de Juatuba (MG) ou Pompéu (MG) e entregue para a população local via caminhões pipa. Até o dia 29/07, a Vale já havia distribuído cerca de 268 milhões de litros de água potável para consumo humano, dessedentação de animais e irrigação.

Os resultados das análises da qualidade da água estão disponíveis no site da Copasa no link: http://www.copasa.com.br/wps/portal/internet/abastecimento-de-agua/qualidade

A Vale se comprometeu a realizar exames dos animais em laboratórios especializados e com especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).”

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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