Diretora acusada de racismo nega autoria de e-mail: ‘Que essa fraude seja investigada’

Arquivo pessoal/Márcia Cristina Alves

A diretora de Prevenção à Criminalidade, da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), acusada de enviar um e-mail afirmando que “lugar de negra é limpando chão” afirma “veemente que o referido e-mail não foi escrito por minha pessoa”. Márcia Cristina Alves posicionou-se através de uma nota na qual alega que registrou um boletim de ocorrência sobre a mensagem enviada do seu e-mail corporativo e reforçou que tem 27 anos de trabalho como servidora pública.

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O caso tornou-se público na última quarta-feira (31) após a jornalista e publicitária Etiene Martins, de 35 anos, publicar no Facebook o conteúdo do e-mail com conteúdo racista (veja abaixo). Então gerente de Prevenção à Violência, da Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção de Belo Horizonte (SMSP), Etiene recebeu ofensas racistas do e-mail corporativo de Márcia, cuja diretoria da qual é titular faz parte, também, da SMSP.

Reprodução/Facebook

Márcia não concedeu entrevista e, inicialmente, se manifestou através do posicionamento da secretaria (leia o comunicado na íntegra abaixo). Posteriormente, a diretora manifestou-se por nota, na qual diz “veementemente que o referido e-mail não foi escrito por minha pessoa”.

“O referido e-mail a que se refere a denúncia é do dia 22 de maio de 2019 e chegou ao meu conhecimento no dia 28 de junho, mais de um mês após ao seu envio. Durante todo esse período jamais fui notificada da existência dele ou qualquer outra pessoa tomou conhecimento deste e-mail”, afirma, ao complementar que procurou as autoridades assim que teve ciência da mensagem eletrônica.

Márcia, de fato, registrou um Boletim de Ocorrência no dia 19 de julho afirmando que o e-mail enviado de sua conta não foi escrito por ela. Procurada sobre os desdobramentos dessa denúncia, a Polícia Civil não respondeu até a publicação deste material, que será atualizado tão logo a corporação se manifeste.

A diretora alega que, no mesmo dia e horário do envio do e-mail, estava em uma agência bancária “a 3 quilômetros de distância do meu local de trabalho”. “Destaco que pelo padrão do e-mail assim como pelo histórico de Google o referido e-mail foi acessado às 12h30 de um computador, não de um celular. De todo modo dentro da agência não é possível usar o celular”, escreve.

Márcia diz que possui filmagens de sua presença no banco, além “dos comprovantes com os horários de todas as transações, na presença do gerente do banco”.

“Apesar de todas estas provas materiais, tenho uma prova muito importante, de minha índole e ética, de 27 anos de trabalho como servidora pública na defesa e promoção de direitos de crianças, adolescentes e jovens, comprovada pelas inúmeras ações, projetos, funções e inclusive publicações a respeito do Genocídio de Jovens Negros na cidade de Belo Horizonte”, complementa em trecho da nota (leia na íntegra abaixo).

Nota da Márcia Cristina Alves na íntegra:

“1 – Afirmo veementemente que o referido e-mail não foi escrito por minha pessoa e inclusive já registrei ocorrência policial sobre isso há mais de um mês. 

2 – O referido e-mail a que se refere a denúncia é do dia 22 de maio de 2019 e chegou ao meu conhecimento no dia 28 de junho, mais de um mês após ao seu envio. Durante todo esse período jamais fui notificada da existência dele ou qualquer outra pessoa tomou conhecimento deste e-mail.

3 – Imediatamente ao conhecimento deste e-mail procurei as autoridades municipais para solicitar que fosse apurada a origem do mesmo e assim como afirmei veemente jamais ter escrito este e-mail.

4 – Registrei Boletim de ocorrência na delegacia de crimes virtuais, com provas materiais de que no dia e horário do envio do e-mail estava em uma agencia bancária, a 03 quilômetros de distância do meu local de trabalho, realizando uma transação presencial com uso inclusive de minhas digitais e filmagens de minha presença no banco, além dos comprovantes com os horários de todas as transações, na presença do gerente do banco, ficando neste local por um período de 01 hora das 12h20min às 13h15min.

5 – Destaco que pelo padrão do e-mail assim como pelo histórico de Google o referido e-mail foi acessado às 12h30min de um computador, não de um celular. De todo modo dentro da agência não é possível usar o celular e como disse anteriormente, as imagens e comprovantes do Banco atestam que eu não estava no computador nesse horário.

6 – Apesar de todas estas provas materiais, tenho uma prova muito importante, de minha índole e ética, de 27 anos de trabalho como servidora pública na defesa e promoção de direitos de crianças, adolescentes e jovens, comprovada pelas inúmeras ações, projetos, funções e inclusive publicações a respeito do Genocídio de Jovens Negros na cidade de Belo Horizonte. Quando assumi cargos na politica pública coordenando Programas e Projetos sempre defendi publicamente os direitos à vida, à liberdade e à justiça. Durante toda a minha trajetória profissional compartilhei experiências com as comunidades mais vulneráveis, com as pessoas mais fragilizadas e dediquei toda a minha profissional a estas pessoas.

7 – É necessário que essa fraude seja investigada e quem a cometeu seja responsabilizado.

8 – Esse momento crítico em que vemos as redes sociais sendo utilizadas para destruir pessoas, desqualificar projetos de interesse daqueles que mais precisam, atacar pessoas sem nenhum critério de razoabilidade, (pode-se ver pelo conteúdo do e-mail publicado com meu nome que nenhuma pessoa escreveria algo desta natureza sabendo de todas as suas consequências).

9 – Reafirmo que a discussão sobre as questões raciais é fundamental, sobretudo neste momento de crise de representatividade. Temos nos debruçado muito sobre isso na produção de dados da SMSP, sobretudo pleiteando este recorte no IVJ (Índice de Vulnerabilidade Juvenil), que é nosso principal indicador para implementação das políticas de prevenção à Criminalidade na PBH. Para nós o combate ao racismo, é uma ação permanente, que se torna fundamental para as transformações sociais e rompimento dos silenciamentos históricos que desejamos. 

Para me defender de um ataque que considero grave é NECESSÁRIA A MINHA MANIFESTAÇÃO EM DEFESA DO DIREITO DE RESPOSTA, DO MEU COMPROMISSO PÚBLICO E DA MINHA LUTA DE ANOS PELA IGUALDADE NESSA CIDADE E NESTE PAÍS”.

Nota da SMSP na íntegra:

“A Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção está apurando com rigor as denúncias de racismo feitas pela servidora. Esclarecemos que o episódio envolvendo o agente da Guarda Municipal ocorreu durante um evento promovido pela pasta, que reunia representantes de movimentos em defesa da igualdade racial com o objetivo de construir políticas voltadas para a redução do elevado índice de homicídios praticados contra jovens negros, tema que é alvo de atenção especial na SMSP.

Na ocasião, os procedimentos para a apuração interna da denúncia foram iniciados imediatamente, no âmbito da própria secretaria, por parte da Corregedoria da Guarda Municipal. A investigação minuciosa dos fatos resultou na conclusão pelo arquivamento do processo contra guarda municipal.

Com relação à acusação feita contra a diretora de Prevenção, a apuração detalhada do teor da denúncia segue seu trâmite na Subcontroladoria de Correição do Município. A análise  da veracidade de mensagens enviadas por e-mails institucionais, divulgadas em redes sociais pela servidora,  está em curso com o mesmo rigor.”

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