Advogado negro é fotografado em blitz no Rio e motoristas relatam casos semelhantes

Trecho da avenida Brasil (Google Street View/Reprodução)

Um advogado negro foi parado em uma blitz da Polícia Militar (PM) e fotografado enquanto revistavam o carro dele, no Rio de Janeiro, na madrugada dessa terça-feira (6). De acordo com Bruno Cândido, cinco policiais brancos fizeram a abordagem, e um “fichamento” por um celular pessoal. O advogado alega ter sido vítima de racismo.

Ao BHAZ, o advogado e vítima do fato, Bruno Cândido, disse que o caso ocorreu na avenida Brasil, perto de Parada de Lucas, quando estava voltando para casa, por volta das 2h. “Tinha uma blitz, fizeram sinal de parada, e como o meu carro tem vidros escuros, abaixei. Pedi autorização para tirar o cinto, e desci do veículo. Coloquei as duas mãos no capô e os policiais começaram a me revistar com certa intensidade”, relata.

De acordo com o advogado, um outro policial, que fazia a contenção do carro, pegou um celular pessoal e começou a fotografá-lo. “Ele pegou o celular pessoal dele, virou em minha direção e tirou uma foto. A área de extensão dessa fotografia pega a placa do meu carro, eu com a mão no capô e o outro policial me revistando”.

Segundo o advogado, nenhum documento de identificação foi pedido, nem mesmo do veículo. Ele pensou em questionar o policial, perguntar o motivo de estar tirando uma fotografia dele. “Naquele momento, pelo lugar que eu estava, pelo horário e por quem eles eram, eu calculei que o silêncio seria a melhor forma de me proteger”.

‘Todo preto é igual’

Bruno tem medo de retaliação por parte dos policiais. “Eu conheço o sistema, conheço exatamente o que vai acontecer. Ela [a foto] vai ser postada e ficará rodando nos grupos de WhatsApp dos policiais. Para eles, todo preto é igual. Ele fotografou a placa exatamente para me procurar depois”, conta.

Passada a blitz, Bruno foi liberado e voltou para casa. “Mesmo eu sendo advogado, mesmo conseguindo absolver pessoas na mesma situação que eu, fica a sensação de impotência, fragilidade. Não adiantou nada eu estudar, ser advogado”.

O defensor preferiu não registrar denúncia, mas diz que não pretende deixar o caso ser esquecido. “Já fui procurado por diversas instituições e estou pensando em mecanismos de discutir essa forma de reconhecimento, desse fichamento indevido. São violações chanceladas pelo Estado”.

Após o susto, o advogado desabafa. “Não sei nem onde está essa fotografia. Daqui uns tempos chega a polícia na minha porta. Há um processo de criminalização, demonização de ativistas, e eu sou um ativista. Como que não vou ter medo? Não era para eu existir, já que moro em uma das regiões mais perigosas do Rio”, completa.

Junto aos tuítes de Bruno, outras pessoas se identificaram e contaram experiências similares à do advogado.

O BHAZ pediu um posicionamento à Polícia Militar do Rio de Janeiro sobre as abordagens em blitz. A redação entrou em contato em quatro oportunidades nessa quarta-feira (7), mas não obteve resposta até o momento de publicação desta reportagem. Caso o órgão se posicione, atualizaremos a matéria.

Minas

Em entrevista ao BHAZ, a capitão Layla Brunnela, chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais, diz que no Estado a abordagem não é feita como no Rio de Janeiro.

“Eu desconheço essa prática [de tirar foto com celular de uso pessoal]. A abordagem é feita de praxe em veículos suspeitos, em geral com mais indivíduos, que tenha algum tipo de alteração, rebaixamento”, explica.

“Esses veículos são abordados, mas desconheço o fato de fotografar os carros ou pessoas. A ocorrência pode ser filmada, caso o policial militar queira, inclusive alguns andam com câmera go-pro. Contudo, essas imagens não são divulgadas”, reitera a capitão.

De acordo com a chefe da Sala de Imprensa da PM, em caso de apreensão, os responsáveis pelo guincho fotografam o veículo antes dele ser levado. “Isso para uma questão de resguardo. Perícia também fotografa, em caso de acidentes. Mas em uma situação comum de blitz, só para fotografar, ter em arquivo, isso não é comum, não é prática nossa”.

Em Minas, documentos são exigência. “No momento da abordagem, sempre é pedido um documento de identificação, normalmente a carteira de habilitação, por ser de porte obrigatório ou pelo aplicativo. As identificações dos integrantes, e do próprio veículo, são obrigatórias”, completa.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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