Idosa sofre injúria racial de médico dentro de hospital: ‘Levar chibatadas’

Facebook/Reprodução

Uma idosa de 61 anos foi vítima de racismo dentro de um hospital em Diadema (SP), na manhã dessa segunda-feira (12). Um médico do local teria ficado nervoso por um erro da mulher, que trabalha no local, e gritado ofensas racistas à vítima.

A funcionária e a filha registraram boletim de ocorrência contra o médico. Já o Hospital Municipal de Diadema abriu um processo disciplinar e afastou o profissional. A Polícia Civil, por sua vez, informa que investiga o caso.

Pelas redes sociais, a filha da vítima, Janaína Teodoro (que também usa o nome Ìyá Omi Lade), postou um desabafo.

“Minha Mãe me ligou pela manhã com a voz trêmula, pedindo para que eu fizesse uma carta para uma amiga entregar à direção Hospital Munipal de Diadema sobre um caso de Racismo. Minutos depois ela confessou que a vítima era ela”.

Segundo a sacerdotisa, um médico teria ficado nervoso com a idosa. “Um médico da maternidade do hospital, após ouvir que minha mãe tinha errado no preenchimento de um documento e estava pedindo ele de volta para correção, GRITOU na frente de todos os colegas de trabalho presentes no posto médico: ‘Essa nega tem que levar 50 chibatadas por isso'”.

“Perdi o sono a noite pensando no que ela ouviu por segundos ontem, segundos que traz a história de nossa família a tona, o avô de minha mãe nasceu no cativeiro mesmo após a Lei Áurea, foi escravizado”, desabafou Janaína em postagem com a foto da mãe.

“Pela manhã, ela me disse que aquilo doía. Ela não sabia explicar o porquê ouvir aquilo doeu como se as chibatadas fossem algo para além das palavras”, escreveu. 

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Minha mãe, Lurdes, voltou a estudar aos 37 anos, começou a trabalhar fora aos 38, era empregada doméstica na casa de um jovem casal, nesse trabalho ela juntou dinheiro e fez o curso de Auxiliar de Enfermagem, prestou concurso público e passou. Quando pediu as contas para começar a trabalhar no Hospital o ex patrão da minha mãe fez um escândalo dizendo que ela era uma traidora porque estava abandonando a oportunidade dada por ele, indignado com ela ele não sabia como arrumariam outra empregada de confiança, ele não a parabenizou. Homens brancos agem como “senhores de escravos”, não precisamos alongar muito o assunto, ele é seco e cruel, eles são racistas e acreditam ter posses sobre nós em qualquer espaço social que ocupemos. São um pouco mais de 20 anos de profissão, ela já passou por cada situação que eu acho que eu desistiria. Perdi o sono a noite pensando no que ela ouviu por segundos ontem, segundos que traz a história de nossa família a tona, o avô de minha mãe nasceu no cativeiro mesmo após a Lei áurea, foi escravizado. Comprou a sua alforria lavando as fezes da família do seu agressor e recolhendo o ouro que eles comiam. Aí eu ouvi branco falar da Princesa Isabel e tenho raiva! Quando eu penso no primeiro “patrão” da minha mãe e hoje penso nesse médico eu gostaria apenas de um “amansa senhor”. Eu entrei em uma guerra e não vou sair dela se não for vitoriosa. Meu bisavó era um homem de Ógùn, eu tenho Ógùn… Estou com sangue nos olhos!

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Médico afastado e investigação

Ao BHAZ, a assessoria de imprensa do Hospital Municipal de Diadema informou que “o caso foi encaminhado para apuração junto à comissão de ética médica do serviço e um processo administrativo disciplinar foi aberto. O profissional foi afastado das suas atividades assistenciais, já assumidas por outro profissional. A Prefeitura de Diadema não compactua com o ocorrido e toma todas as medidas cabíveis com relação ao caso”.

Através de nota enviada ao BHAZ, a Polícia Civil de São Paulo disse que “o caso foi registrado como injúria no 2º DP de Diadema, que instaurou inquérito policial para apurar os fatos. Os envolvidos e testemunhas serão ouvidos durante a investigação”.

Racismo x Injúria racial

A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Já o racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível. Clique aqui para saber mais.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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