BH tem pouco a celebrar no Dia do Ciclista: Promessa de expansão das ciclovias não saiu do papel

Novas ciclovias e manutenção das atuais são aguardadas pela população da capital (PBH/BHTrans/Reprodução)

A Campanha Bicicleta Segura, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), chama a atenção para o Dia do Ciclista, comemorado nessa segunda-feira (19). A ação, que vai até o fim do mês, visa a orientar as pessoas na prevenção de lesões em acidentes envolvendo bicicletas.

Somente no ano passado, 11.741 brasileiros foram internados por envolvimento em acidentes com bicicleta, gerando custo superior a R$ 14 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS), informou Moisés Cohen, presidente da Sbot.

Em Belo Horizonte, foram computados 337 acidentes em 2018 envolvendo ciclistas, segundo a Rede Fhemig, que administra o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e recebe grande parte desse tipo de vítima na capital. Neste ano, desde janeiro, o hospital atendeu 252 ciclistas acidentados no trânsito da cidade, no primeiro semestre, contra 205 no mesmo período do ano passado.

As ciclovias, que representam, além de melhor aproveitamento do sistema viário, uma alternativa para dar segurança para os cidadãos, e, consequentemente, menos mortes e acidentes no trânsito, andam devagar na capital mineira: são cerca de 90 quilômetros já implantados.

Há uma promessa, desde 2017, da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), para aumentar em mais 50 quilômetros as vias exclusivas para ciclistas, mas o projeto ainda não saiu do papel.

Para o Movimento BH em Ciclo – Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte, uma instituição sem fins lucrativos, formada por cidadãos que optaram pela bicicleta e defendem o direito desse meio de transporte transitar pelas vias da capital como qualquer outro veículo – a cidade e os ciclistas daqui têm pouco a celebrar.

“O projeto Planbici, aprovado pelo prefeito Kalil, em 2017, em nada avançou na cidade. Pelo contrário, o que percebemos é que o que tem vem sendo deteriorado ao ponto de deixar de existir. Não há previsão para o início de ações simples, que sequer precisariam de dinheiro. Estamos chegando no final da gestão Alexandre Kalil sem nenhum metro a mais de ciclovia, ciclofaixa ou ciclorota na cidade”, diz um dos representantes do BH em Ciclo, Marcos Gomes.

Segundo ele, “nossa realidade é uma cidade sem nenhuma ação de educação da BHTrans com a população sobre a bicicleta e sobre ela ser parte da solução do trânsito”. “A gestão atual, inclusive, tem mostrado desconhecer o orçamento público municipal, onde o prefeito disse que se fizer ciclovia vai ficar sem dinheiro para educação e para saúde”.

Gomes se refere a uma entrevista de Alexandre Kalil dada em 21 de janeiro deste ano ao jornal Itatiaia Noite, da rádio belo-horizontina de mesmo nome, na qual o prefeito afirmou que a capital tem “verdadeiras aberrações chamadas de ciclovias”.

“Tem ‘picolé de baiano’ em saída de garagem, lombada, ciclovia separada por verdadeiros obstáculos para matar ciclistas. A ciclovia passa por educação. Temos um trânsito caótico, um país em crise, então falta ciclovia, falta mesmo”, disse o prefeito na entrevista.

No contexto do tema e fazendo uma avaliação dos dois anos de seu governo durante a entrevista, Kalil justificou a falta de investimentos nas ciclovias dizendo que “falta reabilitar o SUS, tenho que ter abrigo para o morador de rua, tenho que ter remédio, tenho que ter médico, professora, tenho que ter uniforme. E não pode faltar recapeamento. E não dá para ter isso tudo e ter ciclovia. Isso é demagogia. A ciclovia tem dois caminhos: tem que encolher o lugar do carro ou desapropriar e aumenta o lugar da rua. Tá sobrando remédio, tá sobrando atenção, curso profissionalizante, concurso da Guarda, mas tá faltando um tanto de coisa. E não vai faltar o básico, não vou deixar. Nessa crise medonha, porque tenho que fazer tudo e fazer ciclovia?”, indagou Kalil.

BHTrans desenvolve projetos

Passados oito meses da entrevista em que o prefeito da capital alegou falta de recursos para investir nas ciclovias, o BHAZ procurou a assessoria central da prefeitura, que informou que as ciclovias de fato não foram priorizadas no início do ano, mas que um estudo está em desenvolvimento pela BHTrans para reavaliar a rota cicloviária da cidade.

A BHTrans informou que “está em curso a contratação de empresa para prestação de serviços de revisão e elaboração de projeto executivo de infraestrutura cicloviária integrada à rede estruturante de transporte público de Belo Horizonte”.

Em 12 de junho, foi publicada a homologação da empresa Imtraff Consultoria e Projetos de Engenharia Ltda., vencedora da tomada de preços para revisar e elaborar o projeto de infraestrutura cicloviária da cidade, pelo valor global de R$ 411.867.

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Disse ainda que “estão sendo priorizados recursos para desenvolver a elaboração de projetos. Posteriormente, a administração municipal trabalhará na captação de recursos para a implantação dos projetos”.

A BHTrans informou também que estão em andamento projetos de credenciamento de empresas para implantação, instalação, manutenção e operação de sistema de compartilhamento de bicicletas com estação e sem estação na capital.

Segundo a BHTrans, há hoje, em operação e implantados, 89,93 quilômetros de ciclovias na cidade.

Questionada se estava fazendo alguma ação especial para o Dia do Ciclista, a autarquia informou que, diariamente, por meio de ações educativas dos diversos programas da BHTrans Educa, está empenhada em promover e incentivar o uso da bicicleta na cidade. “Nossa próxima ação é a entrega e início da operação do Sistema de Compartilhamento de Bicicletas com Estação na orla da Lagoa da Pampulha”.

Procurada pelo BHAZ, a Serttel, empresa que vai gerenciar o sistema compartilhado de bicicletas na Pampulha, com a implantação de 14 novas estações, se limitou a dizer que as novidades serão informadas em breve à população.

Poucos municípios brasileiros têm estrutura para ciclistas

Apesar do aumento da prática do ciclismo nas grandes cidades, motivada pelo baixo custo, a rapidez, praticidade, saúde e preocupação ambiental, “a maioria dos municípios brasileiros não têm estrutura para o ciclismo e também porque as pessoas não têm orientações para entender a bicicleta como esporte”, diz Moisés Cohen, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot).

“O ciclista deve estar paramentado, ou seja, com capacete, que é algo fundamental, e obedecer às regras. Essa conscientização é importante, baseada no aumento das lesões que os ortopedistas têm encontrado. Um trauma no crânio, como resultado de uma queda de bicicleta, por exemplo, pode representar risco para o ciclista, além de fraturas da clavícula, na região do ombro”, diz o presidente da Sbot.

Cohen alerta que não há no Brasil dados referentes a ciclistas que ficaram com sequelas irreparáveis e que, “muito provavelmente”, incluem traumas na cabeça, coluna, pernas e braços, que resultaram em afastamento do trabalho, perda da capacidade de realizar tarefas simples do dia a dia e, até mesmo, pedalar.

Segundo a Sbot, a cada dois dias, pelo menos um ciclista internado em hospital público de São Paulo morre vítima de acidente de trânsito. As principais causas de acidentes são embriaguez de motoristas de automóvel, desrespeito às leis de trânsito e bicicletas no mesmo espaço que outros veículos.

Dia do Ciclista

O Dia do Ciclista celebrado em 19 de agosto homenageia o biólogo Pedro Davison, que morreu atropelado em 2006, em Brasília, aos 25 anos de idade, enquanto pedalava no Eixão Sul, via expressa da capital federal, que é fechada ao tráfego de veículos aos domingos para se transformar em área de lazer.

A data integra o calendário oficial do país. Sua aprovação tem o objetivo de estimular o uso da bicicleta, a cidadania e a mobilidade sustentável e plural, além de criar novas oportunidades para promover a educação para a paz no trânsito.

Motoristas

A campanha não se atém apenas ao ciclista. Moisés Cohen ressalta que, indiretamente, a campanha é mais importante para o motorista de automóveis, ônibus e caminhões, porque os acidentes graves que ocorrem nas cidades são principalmente causados por esses condutores de veículos. Os acidentes são de grande monta e, geralmente, ocorrem à noite, vitimando em especial ciclistas que pedalam em grupo. “Você tem os dois lados: o lado da queda casual e o lado dos acidentes que trazem, geralmente, consequências muito mais sérias”.

A campanha visa a estimular a população a agir com cidadania e segurança. Entre as recomendações feitas pela Sbot aos ciclistas estão o respeito às leis de trânsito; o uso das ciclovias; o cuidado ao passar por carros estacionados; a circulação sempre do lado direito da via, próximo ao meio-fio e no mesmo sentido dos veículos. Além disso, respeito, atenção e prevenção são palavras-chave para quem usa a bicicleta diariamente, lembra a entidade.

As dicas de segurança incluem equipamentos (usar sempre capacete, luvas e óculos); iluminação (usar sempre luz branca na frente e vermelha atrás); velocidade (andar em uma velocidade compatível à via); não ultrapassar o sinal vermelho; usar sempre calçados fechados para pedalar; e seguir a orientação ergonômica para evitar possíveis problemas no joelho.

Com informações da Agência Brasil

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