Restos mortais de idoso desaparecem do Cemitério da Paz e família busca respostas

Arquivo Pessoal/Rogéria Moreira + Celso Santa Rosa/PBH

Uma família que vive no bairro Jardim América, na região Oeste de BH, procura pelos restos mortais de um ente querido que desapareceu do Cemitério da Paz. João dos Santos foi enterrado no local há três anos, após sofrer complicações com problemas do coração e morrer. Os familiares do falecido compraram um novo jazigo para o idoso, mas, quando foram transferir o corpo, descobriram que não se tratava dele.

“É um absurdo que isso aconteça, um desrespeito. Estamos sem saber o que fazer”, afirma a filha de João, a técnica em enfermagem Rogéria Moreira, de 47 anos.

A família desconfiou da situação quando parentes perceberam que a roupa que estava dentro do caixão era diferente da que João usava no dia em que foi enterrado. “Ele estava com uma camisa social azul clara, abotoada até o pescoço. Quando abriram os caixões que estavam dentro da cova, um corpo estava com uma camisa estampada, outro de terno e outro era uma mulher”, conta a filha.

Rogéria relata que pediu a exumação do corpo no fim do mês de maio, para transferir para outro jazigo, comprado no mesmo cemitério. Segundo ela, o objetivo da família é reunir os restos mortais de João e de um filho dele, que faleceu sete meses após a morte do pai.

“Nós só compramos um novo espaço porque funcionários do cemitério ficaram fazendo pressão na família dizendo que, depois de três anos de morte, os corpos são retirados das covas comunitárias e levados para ossários”, conta. “Minha irmã, a Eliane, responsável por comprar o novo jazigo, pagou algo em torno de R$ 7,5 mil”, acrescenta a técnica.

A viúva de João, a senhora Maria Violeta, de 76 anos, lamenta por não conseguir cuidar dos restos do marido. “É uma tristeza, né?! A gente sabe que ali estão só os restos, mas gostaríamos de dar esse último cuidado. Estamos bem chateados com a situação”, conta.

Em nota (confira na íntegra abaixo), a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, que administra os cemitérios da capital, disse que a família deverá solicitar a realização de exame de DNA, que pode ser feita de forma gratuita, judicialmente, para comprovar se o corpo é ou não do senhor João.

“Até lá, os jazigos envolvidos ficarão bloqueados para quaisquer fins que não o da realização do referido exame. Sendo comprovado erro, a Prefeitura adotará as medidas necessárias para reparação”.

CPI dos cemitérios

Durante a visita ao Cemitério da Paz, a família do senhor João registrou um vídeo em que mostra o descaso com a manutenção dos jazigos. A filmagem mostra o mato tomando conta dos túmulos.

A situação dos quatro cemitérios públicos municipais – Bonfim, Paz, Saudade e Consolação – foi discutida em audiência pública da Comissão de Administração Pública nessa terça (27).

Diante dos fatos, o vereador Jair Di Gregório (PP) sugeriu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a situação dos cemitérios de BH.

Durante visita técnica, os parlamentares de BH identificaram uma série de irregularidades nas necrópoles da capital. Dentre elas, o fornecimento irregular de lanches por funerárias, uso de drogas próximo às sepulturas, falta de segurança e cobranças indevidas de particulares por serviços de manutenção dos sepulcros.

De acordo com o parlamentar, a “máfia das enxadinhas” faz cobranças irregulares daqueles que têm sepulturas para que seja realizada a manutenção das mesmas, no entanto, a falta de qualificação para o exercício da função acabaria por danificar os túmulos.

Nota da fundação

“A Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica informa que a Sra. Eliana Moreira, filha de João Santos, após descartar a possibilidade de reconhecimento dos restos mortais resultantes de sepultamento realizado em abril de 2016 no jazigo 390, quadra 20 do cemitério da Paz, apresentou dúvidas com relação ao reconhecimento dos restos mortais de um dos jazigos comunitários laterais que foram abertos para possível reconhecimento (números 387 e 395).

Por esta razão, com a finalidade de comprovar que de fato os restos mortais não são do pai da munícipe, ela deverá solicitar a realização de exame de DNA, que pode ser feita de forma gratuita, judicialmente. Até lá, os jazigos envolvidos ficarão bloqueados para quaisquer fins que não o da realização do referido exame. Sendo comprovado erro, a Prefeitura adotará as medidas necessárias para reparação. A quantia paga pela munícipe refere-se à aquisição de uma concessão de jazigo perpétuo, que poderá ser usado tanto para sepultar os restos mortais do Sr. João quanto para outros sepultamentos (futuros ou de restos mortais exumados), mediante autorização pela titular do Jazigo, no caso a Sra. Eliana.

Vale lembrar que, em caso de sepultamentos em jazigos comunitários, como o fato em questão, a família deve manifestar-se, em até 2 anos e 11 meses, acerca do destino dos restos mortais ali sepultados: adquirir uma concessão perpétua no mesmo cemitério para transferência dos restos mortais, proceder à  exumação para cremação (em crematório privado) ou transferir os restos mortais para um outro cemitério a critério da família”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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