Masculinidade fragilizada: Violência e homofobia

Reprodução/Twitter + Carlos Gregório Jr./Vasco da Gama

Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*

Vamos convir que o posto de embaixador do turismo internacional da Embratur é absolutamente irrelevante. Muito provavelmente, apenas os próprios nomeados – e alguns de seus familiares – se lembram de tal “honraria”. Em importância, deve se equiparar ao título de Rainha do Milho ou ao de Príncipe da Banana, e perde de longe para o Rei Momo.

De toda forma, por menos significativo que seja o cargo, causa muita estranheza o fato de que o seu ocupante faça uma declaração pública ameaçando fisicamente o presidente francês. Uau! O encarregado pela empresa responsável pela promoção do turismo no país diz que Macron “vai tomar um gogó no pescoço de franga” e encerra sua fala desferindo um soco no ar. Certamente isso não deve contribuir significativamente para o aumento do número de turistas internacionais. Afinal, se o próprio presidente é ameaçado, o que não aconteceria com o indivíduo comum…

O que mais chama a atenção no “embaixador do turismo”, porém, não é sua óbvia inaptidão para o posto. Isso parece ser o pré-requisito para se ocupar qualquer cargo no atual governo. O mais significativo é o desnecessário apelo à violência. Porque ameaçar fisicamente o presidente francês? O recurso à violência era necessário para a defesa pessoal do “embaixador do turismo” ou constitui uma forma de intimidar o seu oponente?

É impressionante como, cada vez mais, revela-se frágil a masculinidade. Se o presidente oferece abraços héteros, o “embaixador do turismo” fanfarrão distribui bravatas pelas redes sociais. Afinal de contas, “homem que é homem” não pode demonstrar afeto em um abraço. E “homem que é homem” também ameaça fisicamente o outro, além de ofender a sua mulher. E se esse outro não gostar, que resolva a questão no braço, como um “homem” faria…

Outro episódio, ocorrido no mesmo final de semana, evidenciou a quantas anda fragilizada a masculinidade. A torcida organizada de uma equipe de futebol entoou cantos homofóbicos em plena arquibancada, assim que o sistema de comunicação do estádio noticiou que o time rival levara um gol. Não adiantou o aviso do Superior Tribunal de Justiça Desportiva de que a homofobia nos campos de futebol não mais seria tolerada. Não adiantou a campanha de marketing lançada nas redes sociais, na quais o próprio time pedia que sua torcida respeitasse a diversidade. Não adiantou também a exemplar conduta do juiz que, logo na semana anterior, pela primeira vez na história, suspendeu uma partida para que os jogadores pedissem à torcida para parassem com a cantilena homofóbica. Como se sabe, “homem que é homem” usa a orientação sexual como ofensa.

É sintomática a necessidade de reafirmar socialmente, em cada oportunidade, a própria heterossexualidade. Essa reafirmação exige a prática de atos tradicionalmente atribuídos à condição masculina: o recurso à violência, a rejeição à homossexualidade, a não aceitação de comportamentos passivos e o desprezo pela mulher. As consequências dessa frágil masculinidade também estão presentes, desde o homem que não suporta mulheres inteligentes àquele que as mata ou espanca, por se sentirem “intimidados”, como já disse o ministro da justiça.

É passada a hora de iniciarmos uma mudança em nossa sociedade. Precisamos aprender a tolerar a diversidade, a compreendermos o próximo, a termos mais empatia com o outro. Precisamos respeitar as individualidades e personalidades, com suas vicissitudes e particularidades. Como já foi dito há mais de dois mil anos, chegou a hora de amar o próximo.

* Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é professor universitário e doutor em direito.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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