Nem #todossomosMatilda (mas deveríamos ser)

Créditos da Imagem: TriStar Pictures 1997

#TodosDeveríamosSerMatilda

Matilda é um filme de 1996 baseado no livro de mesmo nome, lançado na Inglaterra, em 1988, e conta a história de uma menina muito inteligente que nasce em uma família de lunáticos.

Tudo o que Matilda quer fazer é ler e ir para a escola, mas seus planos são frustrados por um pai vigarista, uma mãe desocupada e um irmão bully.

Além do interesse pelo conhecimento, Matilda tem poderes especiais: quando fica brava, desenvolve telecinesia. Contudo, esse é apenas um detalhe da narrativa, que traz uma mensagem importante: crianças são essencialmente curiosas e adoram aprender.

Os pais de Matilda, Harry e Zinnia Warmwood, acreditam que a melhor forma de educar os filhos seja pela televisão. Demonstram, inclusive, a preocupação em adquirir um modelo mais moderno, adequado às suas necessidades.

Em uma das cenas, Harry é enfático ao dizer a Matilda, enquanto ela estava concentrada em sua leitura, que famílias unidas jantam assistindo televisão, e que o hábito de ler não faz parte desse ritual.

Você faz parte dessa família, Matilda? Então vá ver televisão e largue esse livro”.

Danny DeVito em Matilda

Vemos várias páginas de Moby Dick rasgadas e uma criança frustrada que, descobrindo poderes, explode a TV da sala com a força do pensamento.

Mais de 20 anos se passaram desde o lançamento do filme, mas o sentimento de que as coisas se repetem é real: a televisão, transformada também em computador, tablet e tela do celular, é uma das principais “ferramentas de educação” de jovens e adultos.

Nada contra a curiosidade pela tecnologia, mas fica a pergunta: será que não estamos perguntando às crianças que querem desbravar o mundo, brincar e ler se elas realmente fazem parte dessa família?

A impressão que eu tenho é a de que, cada vez mais, o tablet, celular e computador deixam de ser vistos como ferramentas para tornar as crianças mais curiosas e ativas, como deveria ser, e passam a ser a desculpa perfeita aos pais que não querem acompanhar os filhos nas aventuras da criatividade.

Se você tem criança em casa, faça um exercício rápido: conte quantas TVs, computadores, tablets e smartphones existem na sua casa e compare à quantidade de livros nas estantes.

Se a lista dos gadgets ganhar, reflita: pessoas dizem, o tempo todo, que a programação da TV/internet é perigosa e não traz nada de bom. Pra completar, destrói valores e o caráter. Não é mais ou menos isso que dizemos às crianças que querem ficar acordadas até tarde vendo televisão?

Por que, então, ninguém põe o livro, uma revistinha, na mão das pequenas pessoas?

Será que livros em mãos de crianças metem mais medo nos adultos que o conteúdo rápido das programações televisivas?

Imagine – apenas por um segundo – a quantidade de questionamentos que um livro proporciona. A imensidão de respostas que nós, adultos, não temos. E a facilidade de entreter crianças com conteúdo raso nos canais que, com o alcance que tem, e a diferença que poderiam fazer, se limitam a sugerir que as pessoas tentem não rir de uma série de imagens razoavelmente engraçadas.

Faça as contas.

Não seja os pais da Matilda!

Matilda é uma história divertida sobre uma menina que queria estudar, mas pode ser consumida, também, como uma ode ao que os livros fazem com a gente: eles nos obrigam a pensar. Dá trabalho, nem sempre é gostoso, mas a obrigação implícita da leitura é promover reações lógicas, ainda – e, talvez, principalmente – que você não concorde com o que está sendo lido.

Quando nos negamos, em uma feira, shopping, livraria, barraquinha de rua, ou até mesmo na internet, a comprar livros ou revistinhas para uma criança, quando temos o recurso financeiro para isso, estamos tirando dela a arma mais importante da vida: o interesse pelo conhecimento.

Mais: a frase “não vou/quero comprar esse livro para você” tem o poder de matar a curiosidade latente, que pode se esvair completamente dentro de poucos anos.

Não posso me opor às novas tecnologias ou ensinar às famílias sobre o que fazer com seus filhos. E nem devo. Quero, apenas, propor a reflexão sobre a falta de livros e revistas na rotina das crianças e como vemos, na condição de adultos, a compra desses produtos como um gasto, e não como investimento.

Lembre-se disso no próximo passeio com a criança que você ama. E, sempre que possível, dê uma chance de fazer feliz a criança que ainda vive dentro de você.

Boas leituras!

Lais Menini

Laís Menini é redatora sênior, com nove anos de experiência na criação de conteúdo para internet. Nas horas vagas, ministra cursos e oficinas de escrita criativa e é blogueirinha de literatura no Literama.

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