Kalil diz que ‘escola sem partido’ é assunto estúpido; Frente Cristã vai ignorar prefeito

Amira Hissa/PBH + Marcelo Camargo/Agência Brasil

O prefeito Alexandre Kalil (PSD) disse na manhã desta terça-feira (17) que o Projeto de Lei que visa implantar a chamada “escola sem partido” em BH é “uma bobagem”. Ele ainda criticou os vereadores que defendem a medida e disse que o assunto é “estúpido e idiota”. As declarações do prefeito irritaram a Frente Cristã da Casa, que pretende dar seguimento ao assunto por meio da Lei Orgânica Municipal, sem a anuência de Kalil.

“Está na Câmara e quando chegar aqui eu vou decidir. Eu disse e vou repetir: para mim, escola é para saber ler e escrever. Então, para mim, esse é um assunto estúpido e idiota que sempre vem à tona. É uma bobagem. Qual a preocupação que se tem com quem não está sabendo ler e escrever? Esses estúpidos que mexem com isso não me interessam”, disse o prefeito, durante a abertura da Semana Municipal de Educação, no Teatro Francisco Nunes, na manhã desta segunda.

O prefeito também ressaltou que tem outras preocupações relacionadas à Educação na capital. “Eu quero o alimento que faltou aqui em Belo Horizonte e nunca foi noticiado, faltou comida para aluno aqui em Belo Horizonte já, e não vai faltar enquanto eu for prefeito. Colocamos escolas, reformamos creches mais de 100, reformamos escolas, colocamos comida, treinamos professores esse é o assunto que interessa. Então vamos parar com pautazinha política e cuidar dessa meninada que está precisando”, afirmou.

Contra-ataque

O vereador Jair di Gregório (PP), que compõe a base de Kalil e é ex-presidente da Frente Cristã da CMBH, disse a bancada já traça uma estratégia para incluir a proibição do ensino de “ideologia de gênero” em BH, sem precisar da aprovação do prefeito.

Vereador Jair di Gregório disse que Kalil se equivocou (Karoline Barreto/CMBH)

“O Kalil vai ganhar um neném quando souber da minha Proposta de Emenda à Lei Orgânica (Pelo), que proíbe o ensino de ideologia de gênero e outras coisas que ferem as nossas crenças nas escolas de BH”, disse Jair.

A Pelo 6 (confira aqui), que foi apresentada pelo vereador, é uma proposta que muda um trecho da Lei Orgânica Municipal, que está em discussão na CMBH. Para que a mudança seja aprovada, ela precisa de 28 votos favoráveis dos 41 vereadores da capital. Além disso, o prefeito não tem poder de veto sobre a proposta.

 A Frente Cristã considera a ação como um caminho para contornar a anuência de Kalil, que já demonstrou indigestão com a proposta. A frente é composta por 26 parlamentares, sendo necessário a captação de mais dois votos para aprovar a Pelo.

“Nós não aceitamos a fala do prefeito. Ele está namorando com a esquerda, está se sentindo o centro da esquerda. Nós não vamos travar projetos do executivo pois não agimos assim. Mas, já temos uma resposta, não vamos deixar que alunos aprendam nas escolas o que vai contra aos nossos valores”, afirma o vereador.

Conflito com a secretaria

O atual presidente da Frente Cristã, o vereador Wesley Autoescola (PRP) disse que, no mês que vem, quando as sessões plenárias forem reiniciadas, será proposta na Câmara uma medida para derrubar um trecho da Organização e Funcionamento Escolar. O documento foi publicado pela PBH no Diário Oficial do Município (DOM), no dia 30 de agosto (veja aqui).

Wesley Autoescola é o atual presidente da
Frente Cristã (Karoline Barreto/CMBH )

“O artigo 19 dessa resolução, coloca como matéria interdisciplinar a orientação sexual, sexualidade e ideologia de gênero nas escolas municipais. Queremos que a secretária municipal de Educação Ângela Dalben nos dê explicações. Além disso, protocolamos um pedido de cassação dessa portaria que fere nossa ideologia”, explicou Wesley.

Trecho questionado publicado no DOM que está sendo questionado pelo vereador (Reprodução/DOM)

O BHAZ procurou a secretária Ângela Dalben, mas não conseguiu contato até o fechamento da matéria. Caso a secretária se posicione, a matéria será atualizada.

Inconstitucional

O Projeto de Lei 1911/16 foi apresentado pelo ex-vereador Sérgio Fernando Pinho Tavares. O PL tramita na Casa e tem encontrado dificuldades para avançar, já que a bancada da esquerda tem obstruído a votação do projeto na casa.

De acordo com o vereador Gilson Reis (PCdoB), que se opõe ao projeto, a matéria deve avançar pelo tamanho da bancada cristã, mas não deve ir longe, pois trata-se de um tema inconstitucional.

“É um projeto que interfere no livre direito da cátedra, o Supremo Tribunal Federal (STF) quando tratou desse assunto entendeu que se tratava de um projeto inconstitucional. O professor tem direito de ensinar aos alunos o que está previsto nos livros, nas bases, nas constituições, no plano nacional de educação etc. Esse é o princípio básico da educação”, afirma.

Ainda de acordo com Gilson, a bancada cristã quer intervir na educação. “O ministro do Supremo, Luís Roberto Barroso, analisou um projeto semelhante ao de BH, que havia sido aprovado em Alagoas, e entendeu que era inconstitucional. Eles – Frente Cristã – querem atacar o que chamam de ideologia de gênero, alegam que a educação está formando grupos de homossexuais. Isso é uma excrescência, as pessoas não se tornam gays, isso é uma decisão pessoal. As pessoas precisam aprender a respeitar o pensamento, e isso só vem através do conhecimento”, ressalta Gilson.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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