Empresário é confundido com pedinte e alega racismo na rodoviária de BH

Igor alega que sofreu racismo dentro da rodoviária de BH (Vitor Fernandes + Amanda Dias/BHAZ)

O empresário Igor Alexandre de Souza, de 27 anos, foi confundido com um morador de rua e dois seguranças da rodoviária tentaram impedi-lo de retirar passagem, na tarde dessa quinta-feira (17), em Belo Horizonte. O mineiro de Ipatinga, no Vale do Aço, voltava de uma viagem ao Rio da Janeiro e tentava retirar o bilhete para voltar à cidade natal.

Igor voltou do Rio nessa quarta-feira, às 21h. Mais cedo, na praia, todos os pertences dele foram roubados. “Levaram minha carteira com documentos e dinheiro, celular, mochila, tudo. Para retirar minha passagem, eu precisava de R$ 24, tinha apenas R$ 5 no bolso da minha bermuda. Fui pedir ajuda para uma senhora, ainda no RJ, e ela completou o dinheiro que faltava. Cheguei em BH às 4h30, aí fui ligar para a minha tia me ajudar. Ela comprou o bilhete de forma on-line, ligou para a empresa de ônibus e explicou como eu estava vestido”.

O momento em que se sentiu oprimido pelos seguranças foi por volta das 14h30, em uma das bilheterias perto da entrada A. “Eu estava no guichê para retirar minha passagem e dois seguranças me abordaram dizendo que eu não poderia ‘pedir’ ali dentro. Aí eu falei que não estava pedindo, que eu só queria retirar minha passagem”, explicou o empresário ao BHAZ.

“Eles falaram que eu estava sendo monitorado. Perguntei o motivo, já que sou um cidadão de bem, comum. Eu falei que faria uma reclamação contra eles e um boletim de ocorrência. Eles responderam: ‘pode fazer, pode ficar à vontade’. Eu sei que foi por causa da minha cor, porque eu estava de chinelo”, desabafa Igor.

Procurada pela equipe do BHAZ, a administração da rodoviária confirmou a abordagem ao jovem e diz ter sido um procedimento padrão e preventivo “em prol da segurança do espaço público, no qual transitam cerca de 40.000 pessoas todos os dias”. Além disso, ressalta que a administração do local ficará mais atenta aos procedimentos realizados (leia abaixo o posicionamento na íntegra).

Igor conta, ainda, que foi até a unidade da Polícia Civil que fica dentro da rodoviária. Mas, de acordo com o empresário, ele foi informado pelos policiais que precisaria dos nomes dos envolvidos para dar queixa. “Eu não consegui fazer nada ainda, infelizmente. Eu precisava pegar o ônibus das 15h para voltar para casa. Decidi chegar em Ipatinga e registrar o boletim de ocorrência, isso não pode ficar impune”.

“Eu me senti totalmente constrangido com esse tratamento desrespeitoso. Sei como funcionam as coisas no nosso país, sei do racismo na sociedade. Isso é muito triste. É uma revolta muito grande. Esse julgamento pela aparência não deveria existir. É horrível”, completa.

Questionada sobre o requerimento padrão de informações que se deve ter para realizar o boletim de ocorrência, a Polícia Civil informa que realmente no caso do crime de racismo não é necessário qualificar o suspeito. Sinaliza, ainda, que a Polícia Militar já foi informada sobre o caso. “Além disso a Delegacia Especializada de Crimes Raciais se coloca à inteira disposição para o registro da ocorrência, caso ele tenha interesse”, informou a assessoria de comunicação da entidade ao BHAZ.

Nota da CODEMGE

“Em resposta à solicitação feita e tendo em vista a gravidade das informações relatadas, a Administração da Rodoviária procedeu a uma cuidadosa apuração dos fatos. Após a verificação, constatou-se que foi realizada uma abordagem ao senhor Igor Alexandre de Souza por parte dos vigilantes da Rodoviária, conforme procedimento padrão e preventivo feito pela equipe de segurança. Depois disso, o senhor Igor adquiriu normalmente sua passagem, dirigiu-se ao setor de informações e solicitou um contato com o supervisor da segurança, o que lhe foi prontamente concedido.

A Administração da Rodoviária acrescenta ainda que o monitoramento feito por meio da equipe de vigilância e de câmeras é uma medida de prevenção e controle, em prol da segurança do espaço público, no qual transitam cerca de 40.000 pessoas todos os dias. As mais de 200 câmeras abrangem toda a extensão Terminal, conforme avisos espalhados nos ambientes.  Ressalta-se também que a Administração ficará ainda mais atenta aos procedimentos realizados.

Esclarecemos que as empresas Plantão e Prominas não têm mais relação com a Rodoviária de BH. Atualmente, os serviços de vigilância são prestados pela empresa Bromo Segurança e Vigilância Armada, contratada pela Codemge pelo pregão eletrônico nº 019/2017. As informações disponíveis no site foram atualizadas.”

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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