Apresentadora da Globo liga agressão homofóbica a machismo e viraliza

@jessicasenra/Instagram/Reprodução

“É um dever buscar formas de combater a violência gratuita”. Assim, Jéssica Senra, apresentadora da afiliada da Globo na Bahia, começa a apontar, em entrevista ao BHAZ, os principais motivos do comentário de grande repercussão, feito por ela, na edição dessa quarta-feira (23) do Bom Dia Bahia.

Depois de noticiar o crime de tentativa de homicídio motivado por homofobia e registrado no fim de semana na região metropolitana de Salvador, Senra fez um desabafo indignado. “Na cabeça do homofóbico, beijar e fazer carinho ofende. Mas, agredir e tentar matar não ofende?”, questionou. “É uma coisa absolutamente irracional!”, rechaçou.

Os comentários se referiam ao absurdo caso do homem que levou quatro tiros depois de beijar outro rapaz em um bar. A apresentadora seguiu, ao vivo, com o discurso contundente contra a homofobia e conectou o ódio por homossexuais ao machismo e à misoginia, que é a aversão ao feminino. “O machismo oprime. Oprime mulheres, porque parte da ideia de que os homens são superiores às mulheres e que estas devem se submeter a eles”, destaca.

A jornalista prossegue: “A homofobia é isto: é ignorância, falta de qualquer lógica. Tem a ver com o machismo. Percebam que muitos homossexuais são chamados de ‘mulherzinha’, como se isso fosse ofensivo, como se ser mulher fosse uma ofensa. Por isso, a gente diz que o combate ao machismo precisa ser de absolutamente toda a sociedade” elabora a apresentadora.

Para Senra, estar conectado às questões da sociedade, é papel do jornalismo, o que ela sempre busca cumprir com seu posicionamento. “Comento não só de homofobia, mas também de racismo, machismo, misoginia, machismo. É um dever nosso provocar reflexões”, disse ao BHAZ.

Ela entende sua posição na mídia como um privilégio, que faz questão de utilizar para dar voz aos grupos oprimidos. “No caso dos homossexuais, por exemplo, muitos que se manifestam se colocam em risco. Quem tem esse espaço de privilégio, tem que falar”, defende a jornalista.

Em seu Instagram, a apresentadora disse que não pretendia explicar todas as nuances da homofobia, mas que não podia perder a oportunidade de falar ao grande público sobre o assunto. “Diante de um caso absurdo de um jovem agredido e baleado porque trocava carícias e beijava o companheiro, não pude me furtar de chamar a atenção para a barbaridade desse ato”, comentou.

Confira a fala da jornalista:

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O machismo oprime. Oprime mulheres, porque parte da ideia de que os homens são superiores às mulheres e que estas devem se submeter a eles. Oprime homossexuais. Oprime bissexuais. Trans. Porque está pautado, entre outras coisas, na heteronormatividade (a “norma” é ser heterossexual). Oprime os próprios homens, na medida em que exige um modelo de masculinidade viril, agressiva, insensível. A tal masculinidade tóxica. O assunto é profundo. Há dezenas de livros, textos e pesquisas sobre isso. Mas, estando na tv, falando para o grande público, a gente não pode perder a oportunidade de fazer refletir e tentar explicar complexidades de forma que todos entendam. Não tenho a pretensão de explicar todas as nuances da homofobia. Mas, diante de um caso absurdo de um jovem agredido e baleado porque trocava carícias e beijava o companheiro, não pude me furtar de chamar a atenção para a barbaridade desse ato. E explicar, sob UM ponto de vista, por que alguns odeiam homossexuais a ponto de querer agredi-los e matá-los. Bom, na minha cabeça nem existe explicação para que alguém se incomode com a vida afetiva ou sexual do outro a esse ponto. Mas há teóricos que relacionam a homofobia também à misoginia, ao ódio às mulheres. Ao machismo. Por isso é tão importante avançarmos sobre este tema. Quem quiser acrescentar ideias e opiniões construtivas, fique à vontade para comentar! Os homofóbicos, por favor, não se manifestem aqui. Ofensas não serão toleradas. #Respeito #Tolerância #ExercícioDeAmor #CombateÀHomofobia #Feminismo #Jornalismo #BahiaMeioDia #TamoJuntoBMD

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“Fada sensata”

Não faltaram elogios à atitude da jornalista. A grande maioria dos usuários enalteceu Jéssica nas redes sociais, mas alguns questionaram as falas. “Tanto homossexuais, quanto heterossexuais tem que respeitar o direito do próximo”, comentou um usuário no Instagram. A jornalista respondeu que fazer carinho e beijar em público, não ferem o direito de absolutamente ninguém.

Confira abaixo algumas reações:

O crime

A notícia que provocou o comentário é a da agressão homofóbica sofrida por Marcelo Macedo, de 33 anos. O homem foi espancado e baleado quatro vezes, em um bar da região metropolitana de Salvador, após dar um beijo no companheiro.

Segundo informações de testemunhas, a troca de carícias entre o casal incomodou um grupo de homens na mesa ao lado. Eles teriam, então, se levantado e perguntado à Marcelo se ele “não tinha vergonha de fazer isso na frente de pais de família”. Em seguida, desferiram socos e chutes contra a vítima e um deles disparou tiros de uma arma de fogo. Após o ataque homofóbico, os autores fugiram do local.

Segundo os familiares, Marcelo não corre risco de morrer e o estado de saúde é estável. A polícia informa que a investigação procede, com a análise de imagens das câmeras de segurança do bar e o depoimento das testemunhas.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT-BA), publicou, no perfil que mantém no Twitter, uma mensagem, na qual garante que a agressão não ficará impune. ” É inaceitável. Esse Brasil que quer hegemonizar a sociedade na base da força, medo e da truculência não é o país que nós queremos. O Brasil que merecemos é o da tolerância e do respeito”, declarou Costa.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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