‘Amei’ em postagem política faz jovem ser expulsa de igreja evangélica junto com o irmão

Imagem ilustrativa + Arquivo Pessoal

ATUALIZAÇÃO: O BHAZ recebeu uma nota de posicionamento da Igreja Adventista do Sétimo Dia e acrescentou na matéria, às 12h30.

Dois irmãos foram expulsos da Igreja Adventista do Sétimo Dia após publicações partidárias em apoio à esquerda. Um enfermeiro de 23 anos, que preferiu não se identificar, concedeu entrevista ao BHAZ e disse que tudo começou durante a campanha eleitoral de 2018. O jovem recebeu uma mensagem, pelo Facebook, da secretária da igreja, na qual ela explica que a remoção dos dois acontecerá no dia 7 de dezembro deste ano. Ao BHAZ, a instituição afirma que “a remoção do membro ocorreu em razão de incompatibilidade com normas internas e questões de natureza doutrinária”.

O caso ocorreu em São Paulo (SP), na igreja localizada no bairro Campo Belo. “Eu cresci na Igreja Adventista. Fiquei perplexo quando li a mensagem, sem acreditar mesmo. Fui batizado aos 9 anos e era muito assíduo, mas parei de frequentar em 2015. Mesmo não indo mais, os membros da igreja continuavam indo até a minha casa, me assediando para que eu voltasse”, explica.

Na mensagem, uma secretária da igreja avisa sobre a remoção dos dois. Ela ainda alerta que tentou entrar em contato pessoalmente nos últimos dias, mas o enfermeiro afirma que a informação não procede. Ele conta que sua mãe fica em casa durante todo o dia e ninguém chegou a procurá-los.

Segundo o enfermeiro, a igreja foi apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PSL) durante na campanha eleitoral do ano passado. “Nessa época comecei a discutir com alguns anciões da igreja. Falei que era um absurdo que apoiassem um candidato que prega o ódio à minorias. Falei que eram hipócritas. A igreja fala tanto em amor ao próximo, mas toma atitudes muito diferentes disso”.

Nos últimos dias, o jovem conta que postou algo sobre a soltura do ex-presidente Lula. “Acho que foi por isso que decidiram me remover. Comecei a discutir novamente com os anciões”, explica. A irmã do enfermeiro reagiu com “amei” a algumas publicações do irmão e, por isso, também será expulsa.

“Vão nos remover do hall de membros da igreja. Éramos bem ativos quando frequentávamos. Se quisermos ir à igreja ainda podemos, mas não seremos mais membros”, continua o enfermeiro.

Homossexual assumido, ele acredita que a política foi um meio usado para sua expulsão. “Existe um preconceito velado dentro da igreja, sei disso. Como não poderiam me expulsar por conta disso, conseguiram um outro meio para me tirar dali”, relata.

Após as discussões pelo Facebook, o jovem conta que os membros da igreja fingem que não o conhecem mais. “Viram a cara na rua, passam direto mesmo, fingem que nem estão me vendo”, diz.

Mesmo com essa atitude extrema, o enfermeiro conta que esse não é o perfil da igreja que conhece. “Sei de muitos membros que são de esquerda, que têm posicionamentos divergentes. Já frequentei outra igreja quando morava em Salvador (BA). Essa igreja daqui do meu bairro que adotou esse tipo de posicionamento radical”, completa.

O BHAZ entrou em contato com a assessoria de comunicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que disse ser “defensora da liberdade em todas as suas formas constitucionalmente garantidas, especialmente no que se refere à liberdade de pensamento, consciência e expressão”.

Sobre o caso específico, a instituição afirma que “a remoção do membro ocorreu em razão de incompatibilidade com normas internas e questões de natureza doutrinária”.

Nota da Igreja Adventista do Sétimo Dia

“A Igreja Adventista do Sétimo Dia é defensora da liberdade em todas as suas formas constitucionalmente garantidas, especialmente no que se refere à liberdade de pensamento, consciência e expressão. Embora seja apartidária, cumpre com seus deveres cívicos e respeita as autoridades constituídas.

A instituição, também, contribui com o poder público na implementação de políticas que promovem o bem-estar, a erradicação da pobreza e de toda e qualquer espécie de desigualdade social. E repudia todo e qualquer ato de preconceito e discriminação. Por isso, seus membros não sofrem qualquer tipo de sanção por manifestar sua preferência política.

No caso apresentado, a remoção do membro ocorreu em razão de incompatibilidade com normas internas e questões de natureza doutrinária. Os detalhes são preservados por se tratar de um assunto que deve ser protegido pelo sigilo entre os envolvidos e o pastor. Contudo, pode-se afirmar, com segurança, que a disciplina eclesiástica não está associada a nenhum tipo de manifestação de ordem político-partidária.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem como missão ensinar o amor de Deus por meio de ensinos bíblicos, da promoção do bem-estar físico e de boas ações, a fim de reduzir ao máximo a vulnerabilidade social, sem distinção de raça, cor, credo, orientação sexual ou ideologia”.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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