Recomeço! Tatuadora de BH ressignifica cicatrizes de automutilação sem custo

Manoela Lages/Arquivo Pessoal

O passado pode deixar marcas desagradáveis, mas a arte pode ajudar a ressignificá-las. A tatuadora Manoela Lages, a partir do projeto Meu Recomeço, decidiu fazer sua parte e ajudar quem tem cicatrizes de automutilação ao cobri-las, de graça, com tatuagens.

O projeto, idealizado pela tatuadora curitibana Heloise Sutil, tem como objetivo “ajudar pessoas que possuem marcas de um passado não muito bom”. Tocada pela ideia, depois de superar um período de depressão, Manoela, de 26 anos, decidiu fazer o mesmo e se disponibilizar para cobrir as cicatrizes sem cobrar nada.

“Eu já tinha visto outros projetos, como de pessoas que tatuam sobreviventes do câncer de mama, ou cicatrizes de homens trans que removeram os seios, mas, quando descobri o ‘Meu Recomeço’, me encontrei. Ele tocou uma parte muito sensível da minha vida e percebi que eu deveria ajudar”, contou a tatuadora ao BHAZ.

Depois de divulgar a participação no projeto, há aproximadamente três meses, Manoela recebeu quase duas mil mensagens de pessoas interessadas em ter suas cicatrizes ressignificadas. “Ainda estou tentando organizar a agenda, mas já tenho mais de 250 pessoas em uma fila de espera. Consigo atender no máximo duas por semana, então quero conversar com outros tatuadores para que eles também participem e eu não faça as pessoas esperarem tanto tempo’, explicou.

Até agora, ela já fez 15 tatuagens pelo projeto e se emociona com cada atendimento. A tatuadora contou que a maior parte das demandas é de desenhos de flores e que as justificativas para a escolha são, muitas vezes, parecidas: “Muita gente explica que quer fazer florescer um jardim onde um dia já houve dor. Outros dizem que simboliza uma semente plantada como símbolo de renascimento, superação”.

Empatia e emoção

A cada tatuagem, Manoela recebe mensagens de agradecimento que a incentivam a continuar. Muitas vezes, ao olhar para a tatuagem, a pessoa sente força para respirar, se acalmar e não se machucar de novo. Um dos casos que mais marcou a tatuadora foi a de um jovem de 14 anos que foi fazer a tatuagem com a mãe.

“Foi o primeiro caso mais grave que peguei, as cicatrizes eram muito profundas, porque foram de uma tentativa de suicídio. O caso mexeu muito comigo e o momento da sessão foi muito sensível. A mãe dele estava lá e contou sobre como ela se sentia culpada por não ter percebido o problema antes. Depois que terminamos, ela pediu para me dar um abraço e me agradeceu”, contou Manoela, emocionada.

Depois da sessão, o adolescente enviou uma mensagem de agradecimento à tatuadora que a tocou muito. “Gostaria de agradecer mais uma vez pela oportunidade de recomeçar. Sinto que o que aconteceu já não define quem eu sou nem a forma que as pessoas me veem”, dizia um trecho da mensagem. Para Manoela, são reações como esta que a fazem querer ajudar cada vez mais.

Meu Recomeço

O projeto Meu Recomeço, idealizado em outubro de 2018, conta com 84 tatuadores participantes de todo o Brasil. O site da iniciativa lista todos os colaboradores e incentiva outros profissionais a participarem da ação voluntária.

Para encontrar um tatuador disposto a cobrir cicatrizes de um passado a ser deixado para trás, entre no site ou cadastre-se neste link. Para ser um dos colaboradores e ajudar no recomeço de alguém, inscreva-se neste formulário.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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