Autista de 12 anos come alimento sólido pela primeira vez e se emociona

Nívea Costa dos Santos/Arquivo pessoal

“Foi a redenção, um alívio muito grande. Meu filho foi muito forte, corajoso. A gente levava mamadeira escondido porque ele era grandão já. As pessoas olhavam, julgavam”. A fala é de Nívea Costa dos Santos, uma mãe que abriu mão de tudo pelo filho Márcio Costa Fortuna, de 12 anos, diagnosticado logo cedo com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“Foi algo gradativo, não foi de uma hora para outra. Desde bebê ele sempre rejeitou comida sólida. Esse foi um dos fatores de alerta para a gente. Tinha alguma coisa que não estava certa. Isso aliado a alguns comportamentos que não eram típicos da idade dele”, explica ao BHAZ.

O diagnóstico do autismo veio aos 4 anos e, para alimentar o filho, Nívea precisou se virar. “Ele rejeitava a textura da comida, ou era mole demais, ou seca demais. Fomos descobrir depois que era uma característica do transtorno. Eu pegava os legumes junto com a carne e fazia uma sopa bem batida, depois fazia uma vitamina de frutas, um suco. Ele não comia biscoitos, nem nada que criança gosta”, relata.

Segundo a mãe de Márcio, tudo começou a melhorar quando o filho entrou para a terapia, com 6 anos. “Foi essencial falar abertamente sobre o autismo, entender e ter um bom acompanhamento. Na clínica, ele é auxiliado por uma fonoaudióloga, faz terapia ocupacional, tem psicóloga, pedagoga e outros profissionais. Aí ele começou a colocar alguma coisa na boca. Como ele nunca foi acostumado, era tudo muito sensível”, conta.

Nívea Costa dos Santos/Arquivo pessoal

Outra parte importante foi a inserção do menino na escola. “Quando ele começou a ter o convívio com outras crianças, vendo todos comerem normalmente, ele começou a se questionar. Viu os coleguinhas comendo biscoitos, lanches e outras coisas de criança mesmo. Foi o primeiro passo”, explica a mãe de Márcio.

“O trabalho inicial foi com o visual e exercícios. Aí ele começou a comer biscoito, pastel, pão com manteiga, algo realmente gradativo. Ele foi perdendo o medo. Mas o arroz, feijão, carne, ele continuava rejeitando”, continua.

Primeiro almoço sólido

Nívea começou a perceber que ele estava perdendo o receio. “Era medo mesmo, não era dificuldade nem nada, em relação a mastigar, engolir, etc. Começamos a conversar com ele, explicar que tem que comer. Aos poucos ele começou a aceitar a ideia”.

Mãe e pai ansiosos, o grande dia tinha chegado. Em um restaurante do Shopping Nova América, na região Norte do Rio de Janeiro (RJ), Márcio fazia sua primeira refeição sólida, nesse sábado (16).

“Ele viu aquele monte de comida no bufê e deixei ele escolher. Ele colocou purê de batata, carne, linguiça e batata frita no prato. Aí fomos para a mesa, para o momento tão esperado. Ele virou, pegou o garfo e me perguntou: ‘Mãe, será que eu vou conseguir?’. Acenei positivamente para ele”, explica.

Nívea Costa dos Santos/Arquivo pessoal

A mãe de Márcio conta que ele começou a comer e que o garoto ficou emocionado. “Ele viu que conseguia, que não tinha acontecido nada. Os olhinhos dele se encheram de água. Não estávamos com tensão, nem tanta expectativa. Conversamos com ele durante todo o almoço, para acalmá-lo. Eu e meu marido nos entreolhando, tentando não chorar”, lembra Nívea emocionada.

“Ele comeu o prato quase todo, deixou só um pouquinho. Não tocamos mais no assunto, ele relaxou de vez. Para a gente é uma vitória, porque desde quando ele era bebê que não comia nada disso. Acredito que todas as dificuldades ele vai conseguir, vai tirar de letra”, conta a mãe de Márcio.

‘Não desistir jamais, ter persistência’

Atualmente, Márcio está no 6ª série do ensino fundamental. “Ele é bem ativo, verbal, está em uma turma regular e consegue acompanhar os colegas. Ele é pró-ativo, às vezes faz birra, mas é um garoto muito tranquilo”.

A mãe de Márcio deixa um recado para os pais que estiverem passando por algo parecido. “Não desistir jamais, ter persistência. Pode parecer que não vai dar certo, mas não desista. Tudo o que o médico falava a gente tentou. É importante respeitar o tempo do seu filho. Deixar ele sentir o cheiro, gosto. Os pais precisam estar prontos para se dedicar totalmente”, continua.

Nívea sonha tudo o que qualquer mãe deseja para um filho. “Que ele seja o máximo independente possível. Quero que ele consiga estudar, termine o fundamental, possa entrar para a faculdade. Ele adora rádio, sabe os nomes de todos os repórteres da CBN. Gosta muito de jornalismo esportivo, tem o sonho de ser jornalista. Só quero que ele realize todos os sonhos, que seja feliz”, completa.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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