Escola adventista aplica prova com questões homofóbicas para alunos

Facebook/Colégio Adventista de Correios/Reprodução + Instagram/@makeupheri/Reprodução

“Homossexualismo tem perdão?”. Essa foi uma das questões de uma prova aplicada para alunos do 9º ano do Colégio Adventista de Correios, na capital do Pará, Belém. Imagens da avaliação foram compartilhadas no Instagram pelo irmão de uma aluna. Com a grande repercussão nas redes repercussão, o assunto “colégio adventista” está entre os mais comentados do Twitter na manhã desta terça-feira.

Instagram/@makeupheri/Reprodução

O irmão da estudante, Herisson Lopes, contou ao BHAZ que ficou indignado quando viu as questões, abordando a homossexualidade de forma tão tendenciosa, em uma prova de língua portuguesa. “Não teve nenhuma questão falando de gramática ou regra ortográfica. Ao invés de estar dando assuntos que possam cair no Enem, estão falando disso no país que mais mata LGBT no mundo”, desabafa.

Em nota (veja na íntegra abaixo) ao BHAZ, o Colégio afirma que as respostas para as questões contidas no questionário tinham como objetivo colher as diversas opiniões e sentimentos sobre a temática em estudo. “Davam a cada estudante a oportunidade de expressar livremente sua opinião”, acrescenta.

Após ter acesso à prova, Herisson foi até a escola questionar sobre o ocorrido e conta que a coordenadora afirmou não ter conhecimento do questionário. “Como vou ter confiança numa escola assim? A gente não sabe como isso chega na cabeça dos adolescentes, que são pessoas ainda no processo de formação”, avalia.

Livro didático fala de “cura gay”

As questões sobre sexualidade deveriam ser respondidas, com base em um livro chamado “De Bem com Você”, dos autores Sueli Oliveira e Marcos Benedicto. Segundo Herisson, a compra deste material foi exigida pelo professor de Língua Portuguesa.

Em um trecho divulgado no Instagram, o livro responde perguntas sobre homossexuais. “‘Existe cura?’ Discussões à parte quanto à propriedade da palavra ‘cura’, existe sim”, lê-se no trecho publicado.

A nota enviada pelo Colégio esclarece que o livro serviu como auxílio na tarefa, o que ocorre em várias disciplinas. “O Colégio afirma que, acima de tudo, respeita todos os indivíduos sem qualquer tipo de discriminação sexual, racial, religiosa, ou de outra natureza”, acrescenta.

Repercussão

Com o grande alcance da denúncia e a repercussão no Twitter, a maioria dos usuário criticam a escola por inserir a doutrina da religião nas aulas. “Eu estudei em colégio adventista muitos anos, sofria preconceito da própria escola, [..] julgavam todo mundo que não acreditava na religião deles e obrigavam os alunos a terem aula em capela”, relatou um deles.

https://twitter.com/marielybn/status/1196767668981960706

Outras pessoas que estudaram em escolas adventistas, também usaram as redes sociais para relatar intolerância no ensino. “Eu estudo no colégio adventista e nunca vi escola tão homofóbica e machista”, escreveu uma usuária do Twitter.

No entanto, algumas pessoas acreditam que a instituição tem o direito de incluir as práticas da doutrina no ensino. “Se acha absurdo, peça para seus pais não te colocarem lá”, retrucou uma delas.

https://twitter.com/COnTVReal2/status/1196756885728313346
https://twitter.com/Pazpeacelove/status/1196768849586245634

A deputada estadual do Pará Marinor Brito (PSOL) procurou Herisson para avaliar a possibilidade de uma ação no Ministério Público do Pará. “Eu só quero que chegue ao Conselho de Educação. Isso não pode acontecer mais”, ressalta.

Existe ‘cura gay’?

A utilização de “cura gay” é defendida por algumas religiões, como o caminho desejável para homossexuais “corrigirem” a orientação sexual. No entanto, desde 1990 a Organização Mundial de Saúde já reconhece que a homossexualidade não é doença. Além disso, já existe uma Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), se posicionando contra qualquer processo de “tratamento” da homossexualidade. Leia abaixo:

RESOLUÇÃO CFP N° 001/99 DE 22 DE MARÇO DE 1999

“Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual”

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais,

CONSIDERANDO que o psicólogo é um profissional da saúde;

CONSIDERANDO que na prática profissional, independentemente da área em que esteja atuando, o psicólogo é freqüentemente interpelado por questões ligadas à sexualidade.

CONSIDERANDO que a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade;

CONSIDERANDO que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão;

CONSIDERANDO que há, na sociedade, uma inquietação em torno de práticas sexuais desviantes da norma estabelecida sócio-culturalmente;

CONSIDERANDO que a Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações;

RESOLVE: Art. 1° – Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão notadamente aqueles que disciplinam a não discriminação e a promoção e bem-estar das pessoas e da humanidade.

Art. 2° – Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.

Art. 3° – os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.

Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.

Art. 5° – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 6° – Revogam-se todas as disposições em contrário.

Brasília, 22 de março de 1999.

Nota do Colégio Adventista de Correios na íntegra

O Colégio Adventista de Correios esclarece alguns aspectos relacionados a uma notícia sobre uma atividade escolar:

1. As questões contidas no questionário tinham como objetivo colher as diversas opiniões e sentimentos sobre a temática em estudo e davam a cada estudante a oportunidade de expressar livremente sua opinião. Um livro serviu como auxílio na tarefa, o que ocorre em várias disciplinas.

2. A tarefa que o professor elegeu levou em conta o conhecimento prévio do aluno. E, com isso, procura proporcionar um debate qualificado a respeito do assunto. A ideia é a de formar um cidadão que respeita opiniões diversas, bem como seja capaz de pensar por si próprio sobre as temáticas apresentadas.

3. O Colégio afirma que, acima de tudo, respeita todos os indivíduos sem qualquer tipo de discriminação sexual, racial, religiosa, ou de outra natureza.

4. O Colégio, que é uma instituição confessional, é reconhecido pela confiança e credibilidade que transmite, especialmente por apresentar uma proposta educacional de alta qualidade, pautada em valores baseados na Bíblia e direcionada a promover o desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, intelectuais, espirituais e sociais de cada aluno.

5. O Colégio está e sempre esteve à disposição para os que desejam esclarecer dúvidas a respeito de qualquer tipo de tarefa utilizada.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!