Avó sofre racismo ao levar o neto à praia e relata medo: ‘As pessoas são ruins’

Francisco e sua avó Olívia (Marina dos Santos Mergulhão/Arquivo pessoal)

“Eu acho que é ignorância das pessoas, a cor da pele da gente não nos define em nada. Infelizmente, acho que nunca vai mudar, as pessoas são ruins”. O desabafo é de Olívia Maria dos Santos, de 73 anos. A idosa passou por mais um episódio de racismo, apenas por estar junto do neto, em uma praia de Olinda (PE). O menino se queimou no sol, após a avó não ter coragem de tirá-lo da água, por medo de pessoas que a abordaram perguntando o que ela era dele. O caso não foi registrado na polícia.

Ao BHAZ, a empresária Marina dos Santos Mergulhão, que foi adotada por Olívia logo que nasceu, conta que esses episódios machucam. “Minha mãe foi levar meu filho na praia, no feriado do dia 15, e ele é muito branquinho e voltou bem vermelho. Quando ela me explicou o motivo, até engoli em seco, fico triste demais com isso, nem soube o que falar para ela na hora”, desabafa.

Olívia foi com o neto Francisco José Mergulhão de Morais, de 12 anos, para uma praia de Olinda (PE). “Quando ele [Francisco] entra na água, ninguém tira. É um menino muito bom, mas bem levado às vezes. Passei filtro solar nele antes de começar a brincar. Aí precisava reforçar um pouco, como ele já tinha ficado muito tempo na água”, lembra Olívia.

Marina dos Santos Mergulhão/Arquivo pessoal

A praia estava muito cheia e a avó, então, gritou para o neto sair da água. “Ele me disse que não, ainda falou assim: ‘me deixa, vó’. Aí eu ameacei ir buscá-lo, mas apareceram duas mulheres perguntando o que eu era dele. Falei que era avó e elas me olharam de cima a baixo, desdenhando. Ainda falei baixinho com elas: ‘abusadas'”, conta.

“Claro que tem uma diferença de cor, mas por que não cuidam da própria vida? Me irrita muito. Fiquei com medo de acharem que iria ‘sequestrar’ meu neto ou algo assim, fiquei um pouco acuada. Aí deixei ele na água e acabou se queimando”, desabafa Olívia.

Racismo virou rotina

“Racismo eu passo todo dia, toda hora, por todo canto que eu vou. É um olhar, uma palavra, essas coisas. Sou negra, sou pobre, mas sempre criei minha filha da melhor maneira possível, ela sempre teve de tudo, estudou no melhor colégio”, conta Olívia.

A idosa ainda lembra do dia em que foi matricular sua filha na escola, há muitos anos atrás. “A Marina é muito branquinha, sempre ouvi comentários. Quando fui fazer a matrícula dela na escola, um funcionário me perguntou ‘onde eu tinha achado’ essa menina. Além disso, ainda veio me perguntar como que eu iria pagar pelo colégio. Nunca faltou nada para a minha filha, nunca”, conta.

Marina dos Santos Mergulhão/Arquivo pessoal

Marina é só elogios à mãe. “Ela é uma pessoa sem defeitos. Me adotou quando eu tinha apenas três dias. É uma segunda mãe para o meu marido, a melhor avó do mundo para meus filhos. A gente pode contar com ela para todas as horas. Já teve câncer, enfrentou muitos problemas, mas não desiste. Uma mulher muito forte, não tem igual”, relata.

A filha de Olívia termina reforçando a dor que o racismo leva a quem sofre e às pessoas próximas. “Ela sofre, vejo nos olhos dela. Ela tenta esconder o que sente, para não se mostrar vítima daquilo. Sou muito orgulhosa de tê-la como mãe, uma verdadeira inspiração”, completa Marina.

Racismo x Injúria racial

A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Já o racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível. Clique aqui para saber mais.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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