“Me trouxe um gás novo, renovou minhas energias, muita emoção. Pude olhar e dizer: valeu muito a pena”, o relato emocionado é de Helaine Regina Maurici Mistura, mãe do Nicolas Maurici Mistura, de 13 anos, que nasceu com uma má formação severa e é cadeirante. Nicolas já nasceu lutando e, com expectativa de vida de apenas 60 dias, surpreendeu médicos e todos a sua volta. Mesmo com esses obstáculos, um professor o colocou para jogar capoeira.
No vídeo de uma das aulas, o aluno é conduzido pelo professor ao centro da quadra, em sua cadeira de rodas pelo professor Eliomar Paulo Gomes, conhecido como Mestre Urso, no Centro de Treinamento Barro Negro. A cerimônia foi parte do “batizado” do garoto no esporte.
O evento foi realizado nesse sábado (16), na escola Renascer Extracurricular, e emocionou os presentes. “Coloquei todas essas crianças para jogar, e o Nicolas não poderia ficar de fora. Ele participa da aulas, acompanha tudo sempre. Não tem como ele dar uma estrelinha ou um salto, mas colocamos ele para tocar pandeiro, cantar”, relata Mestre Urso ao BHAZ.
Um professor de capoeira colocou um aluno cadeirante para praticar o esporte e deu uma verdadeira aula de inclusão em Brusque (SC). No vídeo, Nicolas Maurici Mistura, de 13 anos, é conduzido ao centro da quadra em sua cadeira de rodas pelo professor Eliomar Paulo Gomes. pic.twitter.com/FWluhiAbvZ
— BHAZ (@portal_bhaz) November 19, 2019
“A capoeira vem de dentro, não é algo somente físico. O esporte que ele pratica vem da emoção, de se sentir um capoeirista. Os outros alunos têm um papel fundamental e ajudam ele a se sentir incluído no processo”, conta o professor.
Para o professor, a inclusão é algo essencial no esporte. “É mostrar que somos todos iguais. A gente tem que olhar mais para esses alunos, sem os olhares com diferença. Acabar com esse preconceito de que alguém não pode fazer isso ou aquilo por causa de outros fatores. É muito importante colocá-los em nosso meio, são pessoas extremamente talentosas”.
Emoção
Helaine tem 51 anos e era empresária mas, há 8, vive por conta do Nicolas. “É meu filho do coração, foi adotado com 29 dias. Assim que ele veio para nossa casa, descobrimos os problemas. A expectativa de vida dele era de 60 dias, mas tudo foi se revertendo, acredito que, pelo amor. Estou cansada fisicamente, emocionalmente. Carreguei ele durante esses anos todos, fiquei fraca, mas o amor cura”, relata.
O Nicolas saiu do ensino regular por conta de seus problemas de saúde. “Dentro da limitação, ele sempre foi muito bem. O pessoal da Renascer o acolheu de imediato. Ele vai lá e faz aulas de música duas vezes por semana. O trabalho deles é maravilhoso. Ele vai para a horta, passeia no bosque, participa de tudo”, conta.
“Me trouxe um gás novo”
Para a mãe, o vídeo do filho participando dessa forma da capoeira foi uma surpresa. O momento foi registrado por uma outra mãe. “Ele geralmente só toca e canta, pelas limitações mesmo. Sabe quando você ganha uma medalha? Para mim foi isso. Foi olhar e ver que ainda tem muita coisa que ele pode participar, pode ser estimulado. Vão surgir outras coisas, tenho certeza. Me trouxe um gás novo, renovou minhas energias, muita emoção. Pude olhar e dizer: valeu muito a pena”, continua a mãe emocionada.
Sobre o futuro, Helaine prefere não pensar. “Eu não planejo nada, nunca planejei. Vivo um dia de cada vez, sempre com certa preocupação. Os médicos sempre foram muito céticos. Teve uma médica que disse que eu teria que estar preparada, pois ele ‘estava no lucro’. São coisas duras de ouvir para uma mãe”, desabafa.
“Um filho excelente”: é assim que Helaine descreve Nicolas. “Ele é uma criança saudável, uma pessoa extremamente alegre, cheia de vida. Não dá para ver isso em um vídeo, mas ele é uma criança que tem vida no olhar. Por ele, se tivesse condições, estaria fazendo de tudo. Tem uma força muito grande, que sei que vem de Deus”, completa.
