Tatuador julgado por abusos sexuais em BH é condenado a 6 anos de prisão em regime semiaberto

Divulgação/Tattoo Reggae Studio

O tatuador Leandro Caldeira Alves Pereira, de 44 anos, foi condenado a 6 anos de prisão em regime semiaberto pela Justiça mineira, por crime contra a liberdade sexual de três mulheres. O estúdio do qual era dono foi alvo de denúncias de assédio sexual realizadas por dezenas de mulheres. A defesa do tatuador declarou que acredita na inocência de Leandro e vai recorrer da decisão.

+ 40 mulheres: Estúdio de tatuagem na Savassi é alvo de denúncias de abuso sexual contra clientes

Inicialmente, a pena imposta a Leandro Pereira foi de 3 anos, mas o juiz Daniel Dourado Pacheco, da 3ª Vara Criminal, recalculou a pena após reconhecer uma falha na dosimetria. O BHAZ teve acesso à decisão final.

Trecho da decisão em que o juiz reconhece a falha na dosimetria inicial (Reprodução)

“Tendo em vista que o sentenciado, mediante mais de uma ação, praticou três crimes, aplicam-se-lhe as penas cumulativamente. Assim sendo, a pena fica definitivamente concretizada em seis anos de reclusão”, diz o magistrado em trecho da decisão.

Leandro poderá aguardar o trânsito em julgado em liberdade, desde que mantenha seu endereço atualizado. Daniel Pacheco considerou o fato do tatuador não possuir antecedentes criminais e e ter personalidade e conduta social “favoráveis”, segundo as testemunhas de defesa, para determinar a pena.

“Os motivos do delito são os naturais do tipo penal, ou seja, desejo de violar a liberdade sexual da pessoa mediante fraude; as consequências e circunstâncias do crime não ultrapassam o próprio do tipo penal; o comportamento da vítima não incentivou nem facilitou a conduta do agente”, justifica, em outro trecho.

‘Vamos recorrer’

Neste processo, o tatuador era acusado de abusos contra nove mulheres. No entanto, seis dessas reclamações jurídicas não tiveram efeito punitivo porque já prescreveram. Desse modo, a pena aplicada foi a soma de 2 anos para cada um dos crimes sem prescrição contra três das vítimas.

O advogado Marcelo Luiz Adomiram de Souza, que defende Leandro, disse que a defesa vai seguir buscando por justiça. “Eu não posso falar sobre o processo, pois ele está em segredo de justiça, mas posso dizer que vamos recorrer porque, embora a pena pareça irrisória, nós acreditamos na inocência dele e não há nenhuma prova de culpabilidade contra ele”, disse ao BHAZ.

O caso

O estúdio de tatuagem de Leandro Caldeira, na Savassi, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi apontado por mais de 40 mulheres como palco de abusos sexuais contra suas clientes.

Ele foi indicado como autor desses crimes – ocorridos desde, pelo menos, 2012, em dezenas dos relatos. Na época, o tatuador postou um comunicado no perfil que mantinha em uma rede social.

“Sou tatuador profissional há 22 anos, sem nenhuma mácula no meu currículo e afirmo como pai de família, marido e filho, que nenhuma destas acusações são verdadeiras”, publicou Leandro Caldeira no Instagram, que ainda disse que vai registrar um Boletim de Ocorrência “para apurar todas as calúnias, injúrias e difamações contra meu nome”, disse.

As denúncias vieram a público após a ex-candidata ao Senado, ativista e professora, Duda Salabert, fazer uma enquete em sua rede social questionando se as mulheres já haviam sofrido abuso em estúdios de tatuagem. Com isso, segundo Salabert, mais de cem mulheres entraram em contato relatando casos de abusos, 40 delas citaram o estúdio. O BHAZ conversou com quatro das vítimas.

Sem calcinha, sem blusa

Em dezembro de 2016, uma mulher – hoje com 28 anos – procurou o estúdio para fazer uma tatuagem na barriga, pouco abaixo do umbigo. O responsável pelo estabelecimento pediu para que ela retirasse a calcinha.

“Eu imaginei que fosse para facilitar o trabalho dele e, inocente, optei por tirar. Eu deitei na maca e me senti incomodada, pois ele estava apoiando a mão em minhas partes íntimas. Em um determinado momento ele forçou o dedo na direção da minha vagina, foi quando eu fingi que estava tossindo e ele perguntou se estava doendo”, relembra.

“Isso se repetiu algumas vezes ao longo das 4h de sessão. Eu queria que ele parasse, mas fiquei com medo da tatuagem ficar ruim. Saí de lá me sentindo muito mal e só contei para uma amiga o que tinha ocorrido”, relata.

No caso mais antigo dos relatos, em 2012, uma jovem de 19 anos – hoje, com 25 anos – afirma ter sido obrigada a tirar a blusa mesmo sem necessidade. A tatuagem foi realizada na costela. Além disso, a vítima afirma que o tatuador demorou de forma proposital e, em determinado momento, derrubou tinta e passou a mão em seu seio, alegando que estava limpando o local.

Em choque e amedrontada, a mulher ficou com medo de reagir, já que tratava-se de sua primeira tatuagem e o homem poderia prejudicar o desenho.

‘Ereção’

Já em junho do ano passado, outra mulher, que hoje também tem 25 anos, suspeita que o tatuador ejaculou em sua mão. Ele posicionou o braço dela de forma com que sua mão ficasse próxima ao pênis dele – um desenho simples durou mais de 1h para ser concluído.

“Durante a tatuagem ele ficava encostando a genital em mim. Deu para perceber que havia ereção. Em um momento eu senti minha mão úmida, mas não sei se ele ejaculou”, conta.

A vítima conta algo recorrente nas denúncias: pensou que fosse “algo da cabeça dela” e preferiu não denunciar. “Não contei nada para ninguém. Achei que ele estava fazendo aquilo por conta da posição do meu braço. Eu até pensei em voltar no estúdio para corrigir uma falha no desenho, mas evitei porque achei tudo muito estranho”.

Com o surgimento de várias denúncias envolvendo o mesmo tatuador, a vítima resolveu expor o caso. “Estou indignada, me sentindo ingênua. O pior é ver que a maioria das mulheres estava como eu, achando que era coisa da cabeça delas enquanto o tatuador estava claramente abusando. É triste passar por isso e ainda se culpar. É um absurdo. E ainda bem que somos várias e vamos conseguir alguma coisa”, afirma a vítima.

Outra vítima ouvida pela reportagem, uma mulher de 27 anos, conta que já havia feito tatuagens com o Leandro, em 2011. Na época ela estava acompanhada do namorado. Contudo, em janeiro do ano passado, ela voltou sozinha e percebeu a mudança de comportamento do tatuador.

“Fui fazer duas tatuagens, uma no braço e outra na perna. Ele me convenceu a fazê-las no antebraço e no bíceps e eu concordei. Durante a sessão, por diversas vezes, ele colocava meu braço em seu colo e eu recolocava na maca. Ficamos nessa até que eu decidi travar o braço e ele parou”, afirma.

“Quando começamos o segundo desenho, eu virei de costas e comecei a mexer no meu celular. Quando percebi, minha mão estava na região do pênis dele, que estava com uma ereção. Eu me assustei e perguntei se já estava acabando, pois eu tinha um compromisso”, diz ela.

Sinara Peixoto

Formada em Comunicação Social com Ênfase em Jornalismo no Centro Universitário de Belo Horizonte e com pós-graduação na PUC Minas em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa. Atuou como editora na CNN Brasil, desde a estreia do veículo no país, e na edição do Portal BHAZ. Também despenhou várias funções ao longo de 7 anos na TV Record Minas, onde entrou como estagiária.

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