Novo técnico, vergonha na cara dos jogadores, torcida jogando contra e um clube endividado. Estes foram alguns dos temas da coletiva de Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo e gestor do futebol, nesta sexta-feira (29), na Toca da Raposa, após mais uma derrota do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro. O revés custou o emprego de Abel Braga e deixou o clube celeste mais próximo do rebaixamento.
Com a saída de Abel quem passa a assumir o comando é Adilson Batista. A estreia será, na próxima segunda-feira (2), em partida contra o Vasco da Gama, no Rio de Janeiro.
Em sua despedida, o agora ex-técnico do Cruzeiro lamentou não ter conseguido tirar o clube da crise. “Levo o lamento de não conseguir o objetivo. Estava convicto [que isso aconteceria] pois o ambiente é excepcional. Todos os jogadores deram o seu máximo. Queira Deus que o novo técnico tenha um pouco mais de sorte”, disse.
Ao anunciar a volta de Adilson, técnico que levou o Cruzeiro à final da Copa Libertadores de 2009, Zezé disse ter total confiança em uma recuperação nestas três rodadas que restam. “Venha. Vamos tirar o Cruzeiro dessa. Não tem contrato”, disse ao ligar para o ex-zagueiro.
Apesar do pouco tempo para trabalhar com o elenco, Adílson terá respaldo da diretoria, garante Perrella, para fazer as alterações, inclusive se desejar afastar algum jogador. “Se ele quiser barrar o time todo e colocar o júnior, terá todo apoio. Eu ainda acredito que podemos dar a volta por cima. Eu confio muito que o Cruzeiro não caia”, disse.
‘Vergonha na cara’
O gestor de futebol confirmou os atrasos nos salários dos jogadores, mas ressaltou que eles são os responsáveis pelo momento do clube no Brasileiro. Perrella ainda confirmou a veracidade do áudio vazado no qual Thiago Neves pede para que o salário fosse pago antes da partida contra o CSA.
“Aquela conversa houve e se vazou foi por ele. Não vejo absolutamente nada de anormal [na mensagem enviada pelo jogador]. Estão fazendo tempestade em algo normal”, contou.
Perguntado sobre o possível afastamento de jogadores, o dirigente respondeu. “Eu posso contratar alguém? O que tenho é isso aí. Que eles tenham vergonha na cara. A responsabilidade é deles. Eu não contratei ninguém. Quem tem que tirar o Cruzeiro [dessa situação] são esses caras”, disparou.
Mesmo com os resultados positivos não aparecendo, Perrella garante que a tranquilidade paira no elenco celeste. “O ambiente está tranquilo, os jogadores com confiança. Muitos deles podem ser ruins mesmo, mas estão tentando. Ninguém tá largando o osso antes da hora. Queria que eles tivessem mais vergonha na cara”.
Após a partida contra o Santos, a diretoria do Cruzeiro impediu a realização de entrevistas coletivas dos jogadores. “Nesse momento a melhor coisa é ficar calado. Ninguém é obrigado a falar, pois o Cruzeiro não vive de notícias. Enquanto eu entender que ele tem que ficar calados, eles ficarão”.
Torcida celeste
A torcida do Cruzeiro tem marcado presença nos jogos no Mineirão para apoiar o time. Na partida de ontem contra o CSA, o público total foi de 34.290 torcedores e o lançamento de sinalizadores no campo não agradou o dirigente. “Ontem o torcedor jogou contra o Cruzeiro. Mais uma vez seremos punidos e o torcedor invés de ajudar faz um negócio desse”, disse.
O dirigente relembrou as recentes brigas entre as torcidas organizadas do clube: “As organizadas acham que são donas do clube. Bando de vândalos em usa boa maioria e só atrapalham o clube”.
Bastidores do clube
A conturbada situação do Cruzeiro se estende para fora das quatro linhas: nos bastidores, a dívida de R$ 450 milhões e a divisão entre conselheiros também foram lembradas por Perrella. “Quando terminar o Campeonato Brasileiro vou fazer um balanço da real situação do Cruzeiro. Primeiro nós temos que sair dessa coisa”.
Perrella disse ainda que não está preocupado em ser lembrado como um dirigente que estava no clube no ano de um possível rebaixamento. “Isso pra mim é só um papel na parede. Quero ser lembrado por alguém que deu a cara”, afirmou.
Agenda
O Cruzeiro vai viajar para o Rio de Janeiro neste sábado (30) para iniciar a preparação para o jogo contra o Vasco. Depois, viaja para Porto Alegre, onde enfrentará o Grêmio.
A rotina do clube não foi alterada, segundo Perrella, e a única coisa que o deixa “entristecido” é a situação da torcida. “O sofrimento que ela vem passando é a única coisa que me faz triste de corpo e alma. Jamais falei que seria a salvação sou apenas uma peça para que esse clube não se afunde vez”.