A PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) tem transportado vacinas de maneira irregular para os postos de saúde da capital. Segundo denúncia, o material tem é levado em carros não adequados para o serviço e sem a refrigeração necessária. Uma especialista ouvida pelo BHAZ explica que a irregularidade na logística pode afetar a qualidade das vacinas e colocar em risco a saúde da população de BH, já que o material pode perder a vida útil.
Outro problema apontado pelo denunciante é que exames de fezes e urinas são conduzidos em caixas térmicas junto de amostras de sangue, o que não é recomendado pelo protocolo de logística de materiais biológicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Procurada, a SMS (Secretaria Municipal de Saúde) reconheceu o erro no transporte do material e disse que vai apurar o caso. “A situação apresentada não representa a recomendação e muito menos a rotina dos serviços da Secretaria Municipal de Saúde para transporte de materiais imunobiológicos (vacinas) e biológicos (amostras de fezes, urina e sangue)”, disse a secretaria em nota (confira na íntegra abaixo).
Segundo o denunciante, o motorista Eduardo Otoni, funcionários da Coopertur, empresa contratada pela prefeitura para realizar serviços de transporte, estão usando carros de passageiros para levar vacinas, amostras de fezes, urina e sangue.
“Os motoristas são obrigados a buscar as vacinas na Secretaria de Saúde e transportar o material no carro, sem segurança nenhuma e sem equipamentos necessários. O veículo não tem refrigeração e é um carro para passageiros, não para levar esse tipo de material. Muitas vezes, por conta do peso, é preciso abrir as caixas da vacina e levar até o posto de saúde”, conta.
Segundo Angelica Pinto, que é professora do ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade) e diretora da empresa Multiaplic, especializada em vacinas, o processo de transporte e logística de vacinas é o mais importante para a eficácia do medicamento.
“A vacina precisa estar armazenada entre 2ºC e 8°C. Se ficar acima ou abaixo disso, ele perde parte da vida útil. A vacina é um produto vivo e essa variação de temperatura no transporte pode provocar a perda da eficácia. Uma vacina não transportada corretamente perde qualidade, perde imunogenicidade e pode trazer complicações aos pacientes, que não são os problemas já esperados de uma vacina”, diz a especialista.
Alto valor
De acordo com documentos apresentados, em duas viagens realizadas no ano passado, um motorista levou cerca de R$ 200 mil em vacinas acondicionadas em local inapropriado.
Em março de 2018, um lote com 5 mil vacinas contra gripe influenza, custando R$ 75,8 mil foi transportado em um veículo da Coopertur inadequado. O material foi coletado na Secretaria Municipal e levado ao Centro de Saúde do Horto, na região Leste da capital.
Já em abril do ano passado, outro lote com 8,5 mil vacinas contra influenza, no valor de R$ 128 mil, foi novamente transportado de maneira irregular. A carga também saiu da Secretaria Municipal e, desta vez, seguiu para o Centro de Saúde Marco Antônio Menezes, no Horto.
De acordo com Angelica, o PNI (Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde), mantido pela Anvisa, deve ser seguido à risca para garantir a eficiência das vacinas.
“A vacina é um medicamento imunobiológico que contém substâncias antigênicas, ou seja, o próprio vírus atenuado ou inativado. Portanto, é preciso ter uma preocupação diferente com o transporte deste material. A má gestão deixa de garantir a qualidade ímpar e imunobiológica das vacinas”, diz.
A SMS teve acesso a imagens que mostram o transporte inapropriado dos materiais. Em nota, a secretaria disse que o trabalho está fora dos protocolos recomendados. “O protocolo da Secretaria Municipal de Saúde é que o transporte destes materiais seja feito em veículos separados e em condições de temperatura, tempo entre coleta para envio para laboratório e acondicionamento adequados”, diz.
Quanto às amostras de sangue, fezes e urina transportadas na mesma caixa, a secretaria também alega que o processo está fora dos protocolos. “Tanto material imunobiológico quanto material biológico seguem em caixas fechadas com termômetro. Para amostras biológicas são usadas duas caixas, uma de fezes e urina e outra de sangue”, acrescenta. O órgão garante ainda que “a situação apresentada está inadequada e será apurada”.
Nota da SMS na íntegra
A situação apresentada não representa a recomendação e muito menos a rotina dos serviços da Secretaria Municipal de Saúde para transporte de materiais imunobiológicos (vacinas) e biológicos (amostras de fezes, urina e sangue).
O protocolo da Secretaria Municipal de Saúde é que o transporte destes materiais seja feito em veículos separados e em condições de temperatura, tempo entre coleta para envio para laboratório e acondicionamento adequados.
Tanto material imunobiológico quanto material biológico seguem em caixas fechadas com termômetro. Para amostras biológicas são usadas duas caixas, uma de fezes e urina e outra de sangue.
A situação apresentada está inadequada e será apurada.