Conhecido mundialmente por ser palco de episódios racistas com frequência, o Campeonato Italiano de Futebol lançou uma campanha contra o racismo que acabou evidenciando ainda mais o problema. Com o objetivo de “combater o preconceito com a arte”, uma série de pinturas de chimpanzés foi escolhida como símbolo da campanha.
As obras, criadas pelo artista italiano Simone Fugazzotto, foram divulgadas pela Lega Serie A com o slogan #WeAreAllTheSame (somos todos iguais). Os três chimpanzés foram pintados com fisionomias que representam etnias diferentes.
Essa é a nova campanha do Campeonato Italiano “Não ao racismo”
— ?? FutebolNews (@ofutebolnews) December 16, 2019
??♂️ pic.twitter.com/amDhtVWrvm
“Eu uso macacos como uma metáfora para seres humanos. Nós usamos o conceito contra os racistas, já que somos todos macacos originalmente. Então eu pintei um macaco ocidental, um asiático e um negro”, explicou o artista ao site Football Italia.
De início, a ideia de combater o racismo associando pessoas negras a macacos pareceu tão inaceitável que, antes da publicação oficial da Liga Italiana, usuários das redes sociais não acreditaram que a campanha seria oficial. Depois de divulgar a ação em tom de crítica, o Football Italia enfatizou várias vezes que a iniciativa era real, depois de receber tantas postagens com questionamentos.
“Para responder suas perguntas inevitáveis: a) Sim, é real. b) O artista usa macacos em todas suas pinturas. Eles o contrataram especialmente para este projeto. c) Sim, é realmente real. d) A Liga não vê nada errado em usar macacos em uma mensagem anti-racista. e) Sim, honestamente, é real”, postou a página no Twitter.
To answer your inevitable questions:
— footballitalia (@footballitalia) December 16, 2019
a) Yes, it’s real.
b) The artist uses monkeys in all his paintings. They hired him specifically for this project.
c) Yes, it’s really real.
d) @SerieA_EN see nothing wrong with monkeys in an anti-racism message.
e) Yes, honestly, it’s real.
O problema da campanha
Para explicar o que há de errado na campanha, o professor Juarez Xavier, que coordena o Núcleo Negro da Unesp (Universidade Estadual Paulista), listou três motivos pelos quais a ação é de mau gosto e não contribui no combate ao racismo.
Segundo Juarez, o primeiro problema da campanha é que ela reforça estereótipos que já estão associados à pessoa negra. “O xingamento de ‘macaco’ é o mais comum no esporte, especialmente na Europa. Usá-lo nesse contexto é reforçar um xingamento que já se tornou universal nos campos de futebol, é associar novamente a imagem do negro ao macaco”, explicou o professor ao BHAZ.
Outro impasse que a iniciativa provoca é o constrangimento aos próprios jogadores. Em toda a Europa, e não só na Itália, os episódios de racismo no futebol são muito frequentes e, para o professor, a campanha pode constranger os jogadores que já são minoria nos times.
Além disso, Juarez acredita que a ação pode ser uma brecha para que os violadores se manifestem livremente, com a desculpa de que estão apoiando a iniciativa. “A partir do momento em que uma campanha oficial reforça um xingamento tão comum, ela dá de bandeja o argumento de que os racistas não estão fazendo nada errado, só reforçando a campanha. Isso dificulta os protocolos, que já são complicados, que podem combater comportamentos racistas no futebol”, explicou.
Assim como grande parte dos usuários das redes sociais, que reprimiram a iniciativa por todo o mundo, o professor considera a campanha “de extremo mau gosto e de um primarismo absurdo”. “Se eles acompanhassem o que os torcedores estão dizendo, teriam tido mais cuidado e não teriam caído em uma armadilha como esta”, diz.
A campanha da Série A “contra o racismo” serve pra mostrar q na Itália o racismo é institucional e quebrar aquela imagem de q italiano é “o brasileiro da Europa”, q recebe tds bem e é cordial. Cada vez mais é um país racista, xenófobo e preconceituoso, personificado em Salvini
— ripk?️barbosa ? (@ArthurRipka) December 16, 2019
Combater o racismo sendo racista ??♂️
— MatHeus (@Math2228) December 16, 2019
A campanha contra racismo na Itália utiliza o símbolo de um macaco pra significar que somos todos iguais, justamente o animal no qual são comparadas a maioria das pessoas que sofrem ou já sofreram racismo… ??♂?? https://t.co/SH8q5jZgh7
— Jonatas Chaves (@jonatas_jcf) December 16, 2019
É inacreditável como a Itália e alguns outros países europeus estão MUITOS passos atrás na discussão sobre racismo e xenofobia.
— Assessor 2 (@oleomorato) December 16, 2019