Campeonato Italiano usa imagens de macacos em campanha antirracismo

@ObRacialFutebol/Twitter/Reprodução

Conhecido mundialmente por ser palco de episódios racistas com frequência, o Campeonato Italiano de Futebol lançou uma campanha contra o racismo que acabou evidenciando ainda mais o problema. Com o objetivo de “combater o preconceito com a arte”, uma série de pinturas de chimpanzés foi escolhida como símbolo da campanha.

As obras, criadas pelo artista italiano Simone Fugazzotto, foram divulgadas pela Lega Serie A com o slogan #WeAreAllTheSame (somos todos iguais). Os três chimpanzés foram pintados com fisionomias que representam etnias diferentes.

“Eu uso macacos como uma metáfora para seres humanos. Nós usamos o conceito contra os racistas, já que somos todos macacos originalmente. Então eu pintei um macaco ocidental, um asiático e um negro”, explicou o artista ao site Football Italia.

De início, a ideia de combater o racismo associando pessoas negras a macacos pareceu tão inaceitável que, antes da publicação oficial da Liga Italiana, usuários das redes sociais não acreditaram que a campanha seria oficial. Depois de divulgar a ação em tom de crítica, o Football Italia enfatizou várias vezes que a iniciativa era real, depois de receber tantas postagens com questionamentos.

“Para responder suas perguntas inevitáveis: a) Sim, é real. b) O artista usa macacos em todas suas pinturas. Eles o contrataram especialmente para este projeto. c) Sim, é realmente real. d) A Liga não vê nada errado em usar macacos em uma mensagem anti-racista. e) Sim, honestamente, é real”, postou a página no Twitter.

O problema da campanha

Para explicar o que há de errado na campanha, o professor Juarez Xavier, que coordena o Núcleo Negro da Unesp (Universidade Estadual Paulista), listou três motivos pelos quais a ação é de mau gosto e não contribui no combate ao racismo.

Segundo Juarez, o primeiro problema da campanha é que ela reforça estereótipos que já estão associados à pessoa negra. “O xingamento de ‘macaco’ é o mais comum no esporte, especialmente na Europa. Usá-lo nesse contexto é reforçar um xingamento que já se tornou universal nos campos de futebol, é associar novamente a imagem do negro ao macaco”, explicou o professor ao BHAZ.

Outro impasse que a iniciativa provoca é o constrangimento aos próprios jogadores. Em toda a Europa, e não só na Itália, os episódios de racismo no futebol são muito frequentes e, para o professor, a campanha pode constranger os jogadores que já são minoria nos times.

Além disso, Juarez acredita que a ação pode ser uma brecha para que os violadores se manifestem livremente, com a desculpa de que estão apoiando a iniciativa. “A partir do momento em que uma campanha oficial reforça um xingamento tão comum, ela dá de bandeja o argumento de que os racistas não estão fazendo nada errado, só reforçando a campanha. Isso dificulta os protocolos, que já são complicados, que podem combater comportamentos racistas no futebol”, explicou.

Assim como grande parte dos usuários das redes sociais, que reprimiram a iniciativa por todo o mundo, o professor considera a campanha “de extremo mau gosto e de um primarismo absurdo”. “Se eles acompanhassem o que os torcedores estão dizendo, teriam tido mais cuidado e não teriam caído em uma armadilha como esta”, diz.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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