Vale define local para despejar lama de barragem rompida em Brumadinho; outra estrutura é esvaziada

Bárbara Ferreira/BHAZ

O rejeito da barragem B1 da Vale, que se rompeu em Brumadinho, deixando 270 vítimas, será recolhido pela mineradora e despejado dentro da mina do Córrego do Feijão, na mesma região onde a estrutura entrou em colapso, em janeiro deste ano.

A operação foi autorizada pela Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) nessa sexta-feira (27). Ao todo, serão 7 milhões de metros cúbicos de rejeitos depositados dentro da mina. A licença para exercer atividade de Disposição de Rejeito em Cava, que foi autorizada pela secretaria, tem validade de 10 anos.

Lama será despejada dentro da cava do Córrego do Feijão (Bárbara Ferreira/BHAZ)

A cava do Córrego do Feijão atualmente está com as operações paralisadas por conta da tragédia. O rejeito que se espalhou em Brumadinho tem sido empilhado em locais temporários em regiões operadas pela Vale.

A mineradora fará o transporte do rejeito para dentro da cava por meio de na caminhões – durante o período chuvoso o processo poderá ser feito por drenagem. O Corpo de Bombeiros, que ainda trabalha para encontrar 11 vítimas desaparecidas na região, vai acompanhar o processo da Vale.

7 milhões de metros cúbicos de rejeito serão realocados para dentro da mina (Bárbara Ferreira/BHAZ)

De acordo com a secretaria, a mineradora apresentou estudos e projetos para a gestão de resíduos e monitoramento da cava. “Estes estudos foram avaliados pela Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) e pelo Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) que emitiram relatório técnico que subsidiaram a decisão da Semad”, diz em nota (confira na íntegra abaixo).

Rejeito será transportado por caminhões ou via drenagem (Reprdução/StretView)

Ao BHAZ, o professor Carlos Barreira Martinez, fundador do centro de pesquisas hidráulicas da UFMG e especialista em barragens, disse que a ação pode ser considerada razoável.

“Tudo depende de como vão recolocar os rejeitos. É uma operação que funciona basicamente assim: retira-se o minério da lama e coloca o rejeito de volta no local de origem que é a cava. Com uma boa composição, em breve, a região estará reflorestada”, explica o professor.

Lição do passado

Ainda de acordo com o professor, o processo de transposição proposto pela Vale em Brumadinho evita casos como a mina de Águas Claras, que fica em Nova Lima, “nas costas” da Serra do Curral, um dos pontos turísticos de Belo Horizonte.

Região do bairro Mangabeiras e a mina de Águas Claras vista por cima (Reprdução/StretView)

A extração de minério de ferro na região “oculta” da serra ocorreu entre 1973 e 2002, quando o complexo pertencia à MBR (Minerações Brasileiras Reunidas). A extração teve fim e a cava não foi drenada, formando um lago com aproximadamente 150 metros de profundidade e com a água contaminada por minério. A área foi adquirida pela Vale em 2006, onde atualmente funciona a sede administrativa da empresa.

Lago formado na Cava de Águas Claras (Amanda Dias/BHAZ)

“Se não voltar com o rejeito – em Brumadinho – vai encher de água, assim como Águas Claras, que é um problema para o futuro. Ali, dependendo do nível da água, pode haver uma instabilidade no local. E o detalhe é que é uma área que está praticamente dentro de Belo Horizonte, em cima da capital. Então, para o futuro, é algo que precisa ter uma solução estudada”, conta.

Barragem desfeita

A Vale anunciou no início do mês o fim do processo de descomissionamento da Barragem 8B, também na Mina de Águas Claras. A estrutura, que foi construída com método à montante, considerada o mais perigoso, é a primeira de outras nove barragens que a mineradora prometeu desativar.

Barragem 8B depois de ser descomissionada (Divulgação/Vale)

A barragem 8B foi substituída por um “lago de pedra”, com 50 mil toneladas de pedras. Agora, a mineradora promete refazer 12,7 mil metros quadrados de vegetação, com mudas de espécies nativas da região.

As outras oito barragens já estão incluídas no processo de reintegração, e a próxima estrutura a ser descomissionada será a de Fernandinho, que fica em Nova Lima. A previsão é que o desmonte seja concluído no fim do ano que vem.

Divulgação/Vale

O BHAZ tentou contato com a Vale para entender mais detalhes sobre o processo de manejo do rejeito de Brumadinho e sobre os descomissionamentos, contudo, não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

Nota da Semad

“Foi autorizado nessa sexta-feira (27/12), pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), à VALE – MINA CÓRREGO DO FEIJÃO, licença para exercer atividade de Disposição de Rejeito em Cava. O volume total solicitado de disposição na cava de Feijão é de 7.000.000 m³ com ocupação de 124,47 ha, sem necessidade de supressão de vegetação. A validade da licença é de 10 anos.

O processo foi formalizado na Superintendência de Projetos Prioritários (Suppri) da Semad em 19 de dezembro de 2019. Por possuir potencial poluidor médio e porte pequeno o empreendimento foi enquadrado na classe 2. Conforme Deliberação Normativa COPAM 228/2018, no art. 1º, § 4º

“I – para a atividade enquadrada nas classes 2 ou 3, aplica-se o licenciamento ambiental simplificado, nos termos do inciso II do §4º do art. 8º da Deliberação Normativa Copam nº 217, de 2017;

Parágrafo único − Não haverá a incidência de critérios locacionais de enquadramento para as atividades descritas no caput quando estiverem inseridas em área já licenciada. ”

A licença solicitada foi enquadrada na modalidade de licenciamento Ambiental Simplificado (LAS/RAS).

Para a concessão da licença foi solicitado apresentação de estudos hidrogeológicos, bem como os procedimentos de gestão de resíduos e monitoramento da cava. Estes   estudos foram avaliados pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) que emitiram relatório técnico que subsidiaram a decisão da Semad.

A lavra da mina Córrego do Feijão encontra-se paralisada em decorrência do rompimento da barragem B1. Atualmente, as operações da Vale realizadas na área se restringem às obras emergenciais de engenharia e meio ambiente para mitigação dos impactos decorrentes do rompimento da Barragem I.

O rejeito extravasado da Barragem I vem sendo disposto na Pilha de Menezes III e temporariamente na Pilha União (Mina de Jangada), além de uma nova pilha que está operando na região da antiga pera ferroviária – PDR-TCF.

A disposição na cava é considerada ambientalmente correta pois, além de ser realizada em uma área tecnicamente segura, sem a necessidade de construção de barramentos, diques ou novas estruturas de contenção, é uma área antropizada, o que reduz o impacto ambiental, visual e facilita a recuperação da área, quando do seu descomissionamento.

A atividade de transporte e disposição de rejeito na cava será realizada por meio de caminhões, mas a Vale estuda a possibilidade de, no período chuvoso, realizar a disposição por meio de dragagem. Toda operação de carga, remanejo, triagem e disposição de rejeitos é acompanhada pelo Corpo de Bombeiros e as áreas somente são trabalhadas após liberação pelos mesmos. Inicialmente é realizada triagem com revolvimento do rejeito no próprio local de deposição ou em área próxima. Em seguida, realiza-se a separação dos resíduos perigosos, metálicos, veículos, madeiras, entre outros, e procede-se a destinação temporária.

Diversos monitoramentos adicionais serão realizados ao longo do processo e fazem parte das condicionantes para a licença acompanhamentos como:

*Apresentar, relatório anual da disposição dos rejeitos, as medidas de controle ambiental aplicadas, cumprimento de programas de monitoramento conforme apresentado no RAS e possíveis medidas corretivas adotadas.

*Apresentar relatório dos resultados obtidos da caracterização dos rejeitos coletados na área impactada pelo rompimento da Barragem BI.

*Apresentar comprovação da formalização das atualizações sistemáticas do modelo numérico com base nos resultados de monitoramento obtidos, e considerando as adequações solicitadas pela Feam em parecer.

*Seguir as recomendações técnicas apresentadas no Relatório Técnico da Feam.*Programas de automonitoramento das águas superficiais e subterrâneas; dos Efluentes atmosféricos e de ruídos e vibração”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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