Jornalista da Globo critica volta de goleiro Bruno ao futebol: ‘Feminicida na posição de ídolo’

@jessicasenra + @oficialbrunogoleiro/Instagram/Reprodução

Conhecida por expor sua opinião na televisão e se posicionar contra injustiças sociais, a jornalista Jéssica Senra, apresentadora da afiliada da Globo na Bahia, levantou um debate moral ao se manifestar contra a volta do goleiro Bruno ao futebol.

Na edição do Bom Dia Bahia, dessa segunda-feira (6), a âncora comentou a possível contratação do jogador, sentenciado pelo assassinato da modelo Eliza Samudio, cogitada pelo time baiano Fluminense de Feira.

Ela explicou porque reprova a ideia de que um homem, condenado por matar a mãe do próprio filho, retorne à posição de ídolo no esporte. “Desejamos e precisamos que pessoas que cometem crimes tenham a possibilidade de refazer suas vidas. Mas, diante de um crime tão bárbaro, tão cruel, poderíamos tolerar que o feminicida Bruno voltasse à posição de ídolo? Que mensagem mandaríamos à sociedade? Atletas são referências. Contratar para um time de futebol um assassino, um homem que mandou matar a mãe do seu filho, esquartejar, dar o corpo para os cachorros comerem é um desrespeito a nós mulheres”, afirmou a jornalista.

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Eu acredito na recuperação do ser humano. Acredito que a maioria das pessoas merece outras chances depois que comete erros, porque errar é da essência humana. O perdão é um dos sentimentos mais belos que podemos cultivar. Mas perdoar alguém não significa esquecer o que esse alguém fez nem permitir que esse alguém continue em nossa vida. Perdoar e dar uma nova chance não apaga o que foi feito, não se pode fingir que nada aconteceu. Embora juridicamente o cumprimento de uma pena libera o condenado para seguir sua vida normalmente, é socialmente que precisamos pensar no que toleramos ou não. Nem tudo é apenas questão de lei. Há comportamentos legais que são imorais. Um condenado pode e deve ser ressocializado. Deve merecer uma segunda chance. Mas penso que, depois de um crime tão perverso, voltar a ser ídolo, a estar numa posição que lhe confere status de ídolo, é bastante questionável. Penso que o feminicida deve voltar ao trabalho, mas não no futebol, não como ídolo. Defendo sua ressocialização, mas longe de qualquer torcida. E isso não é a lei que vai decidir. É a sociedade. E se ele tivesse estuprado um bebê? O que os “fãs” diriam? Lembro que há pouco mais de dois anos, jogadores foram flagrados num vídeo masturbando uns aos outros no vestiário de um clube gaúcho. Os quatro jogadores foram dispensados. Seus nomes, inclusive, foram poupados para evitar que eles fossem banidos do futebol. E é bom que fique bem claro: eles não cometeram crime algum, não fizeram nada contra a vontade de ninguém! Mas, absurdamente, a homossexualidade ainda é intolerável no futebol. Ser feminicida é aceitável? O que você pensa disso? #NãoAoFeminicídio

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A apresentadora explicou ainda que é a favor da ressocialização e reinserção social de detentos, mas que, apesar disso, ela acredita que neste caso ela deve ser feita longe de onde o jogador possa ter fãs e admiradores.

“Quando a gente condena judicialmente, mas tolera socialmente a convivência, o recado dado é que aquela atitude não é tão grave. Portanto, na minha visão, o feminicida Bruno pode e deve voltar a trabalhar, refazer sua vida, mas não na posição de ídolo. Não alçado socialmente a uma posição de admiração. Um time de futebol que contrata um feminicida como Bruno é tão desprezível quanto os crimes que ele cometeu”, finalizou.

O discurso dividiu opiniões nas redes sociais. De um lado, usuários elogiaram a apresentadora. “Você, sua opinião representa a nossa sociedade Jéssica. Maravilhosona!”, comentou uma seguidora. Do outro, a volta do goleiro ao futebol é defendida. “Todos merecem uma segunda chance. Sei que é difícil em concordar com o absurdo feito por Bruno. Porém só quem pode nos julgar é Deus”, opinou um usuário.

‘Apavora pensar que ele pode ser ídolo de uma criança’

Em setembro de 2010, Bruno Fernandes foi preso, suspeito de envolvimento no sumiço da modelo Eliza Samudio, com quem mantinha uma relação íntima. Em 2013, ele foi condenado a 20 anos e 9 meses de prisão pelo homicídio triplamente qualificado e ocultação do cadáver de Eliza e, também, pelo sequestro e cárcere privado do filho.

Mesmo sabendo dos crimes cometidos, torcedores do Flamengo se uniram, em dezembro de 2019, para tietar o goleiro em um shopping de Cabo Frio, no Rio de Janeiro. No Instagram, Bruno registrou o momento e recebeu elogios nos comentários. “Eterno ídolo” e “Vamos lutar para você voltar para o Mengão!” foram algumas das mensagens deixadas na rede social.

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Em outubro de 2019, a mãe de Eliza, Sônia Samúdio, contou ao BHAZ sobre seu medo do assassino de sua filha se tornar um exemplo para crianças. Sua opinião sobre a ressocialização reafirma o discurso de Jéssica Senra.

“Acho que ele deveria trabalhar sim, mas numa outra profissão, onde não trabalhe com pessoas. O cenário, hoje, o transforma em ídolo, não em um reeducando condenado por crime hediondo. Me apavora a possibilidade dele ser o ídolo de uma criança, por exemplo”, contou Sônia.

Confira a entrevista completa e a visão de especialistas sobre ressocialização aqui.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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