Casal gay denuncia agressão após beijo em terminal de ônibus: ‘Começou a chamar a gente de viado’

Arquivo Pessoal

Por Maria Teresa Cruz, da Ponte Jornalismo

Um casal de namorados foi vítima de agressão neste domingo (12) no terminal de ônibus ao lado da estação da Linha-5 Lilás do Metrô, no extremo sul de São Paulo. De acordo com o assessor de eventos Lucas Trindade Alves, 24 anos, ele estava com o namorado, Caio Costa Souza, 20, esperando o ônibus linha 193 (Embu das Artes – Santa Teresa) na plataforma do terminal quando os dois deram um beijo. Na sequência, Lucas foi golpeado com um pedaço de pau com pregos.

“Um homem falou que estávamos fazendo safadeza na fila, que estávamos desrespeitando as pessoas da fila e começou a chamar a gente de ‘viado’”, declarou Lucas à Ponte.

“Eu virei para a fila e perguntei: ‘alguém está incomodado com a gente, com o selinho que dei no meu namorado?’. E todo pessoal falou que não, que era o carinho entre nós. Ele nem estava na fila, estava sentado no banco dos fiscais. Aí depois ele seguiu ameaçando, dizendo que tinha uma arma e que iria matar a gente. Aí ele saiu e eu voltei a conversar com meu namorado. De repente, o Caio viu que ele estava vindo com um pedaço de madeira. Eu me aproximei dele para tentar contê-lo, mas ele acabou me acertando e quatro pregos enferrujados que estavam nessa madeira me furaram”, conta.

Lucas mostra os ferimentos ao lado esquerdo do seu corpo, um pouco abaixo da costela, onde foi atingido (Arquivo Pessoal)

Lucas afirma que luta artes marciais e que foi se defender da agressão. “A gente entrou em luta corporal, eu já estava machucado, queria evitar algo pior, quando chegaram uns funcionários, uns fiscais, e separaram a gente, mas foram proteger ele. Em momento algum me perguntaram como eu tava ou ofereceram algum tipo de auxílio. Eu estava sangrando e não tive respaldo nenhum”, critica.

Lucas e Caio namoram há pouco mais de dois anos e meio e o assessor de eventos afirma que, embora saibam que a homofobia existe, nunca passaram por nada parecido. “A gente não esperava por esse tipo de situação, essa agressão. A gente tomou um choque de realidade. O carinho que trocamos foi algo bobo, nada diferente do que faria um casal hétero”, desabafa. “E é claro que fica um receio sim, do tipo: quando é que posso mostrar o carinho pelo meu namorado? Vou ter que ficar olhando para os lados, checar se alguém homofóbico está perto?”, indaga.

O agressor não foi identificado, mas segundo a vítima, seria um vendedor ambulante que aparenta ter cerca de 35 anos e é bastante conhecido por funcionários e seguranças do terminal. “Nas redes sociais apareceram fotos dele. Fácil de encontrar”, disse Lucas.

Eles registraram o boletim de ocorrência nesta segunda-feira (13) na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância). De acordo com o advogado José Beraldo, que acompanha o caso, houve uma lesão corporal motivada por homofobia. “Isso pode até caracterizar uma tentativa de homicídio motivada por homofobia. Além disso, constitui racismo. Então a pena pode ser aumentada em 5 anos, de acordo com entendimento do próprio STF (Supremo Tribunal Federal). Por fim, cabe ação de indenização contra a empresa [EMTU] e o Estado”, explicou o defensor.

Procurada, a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) enviou uma nota repudiando o episódio e informando que vai acompanhar a apuração dos fatos. “A EMTU/SP repudia atitudes homofóbicas e tem realizado, juntamente com as empresas operadoras, campanhas para combater o preconceito. Não houve funcionário da EMTU/SP envolvido na ocorrência citada”. Também na nota a empresa afirma que, segundo o Consórcio Intervias, que opera as linhas metropolitanas do terminal Capão Redondo, o agressor é um vendedor ambulante e que “houve revide de um dos rapazes”.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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