A veloz e precisa atuação de policiais militares evitaram que uma tragédia maior ocorresse na tarde deste domingo (19) na vila Barraginha, na área do bairro Cidade Industrial, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O local, castigado há 27 anos em decorrência de chuvas, foi novamente alagado hoje – a água chegou na altura do pescoço em alguns pontos. Mas, ao contrário de 1992, quando 36 morreram, nenhuma morte foi contabilizada pelas autoridades.
Por volta das 15h, quando a chuva já mostrava a força, militares da 43ª companhia, do 39º batalhão da PM, receberam pedidos de socorro. A proximidade com a vila Barraginha, que fica a cerca de 5 minutos da unidade policial quando não tem trânsito, facilitou a rápida chegada dos militares.
“Quando chove da forma como choveu, as vias de acesso ficam travadas e fica bem difícil chegar lá. Por isso, chegamos primeiro, antes dos bombeiros e demos início aos trabalhos. Nossa principal função é a preservação do indivíduo”, relata ao BHAZ o sargento Gildazio Rodrigues, um dos policiais que participaram da operação.
Como a primeira viatura que chegou, obviamente, não tinha uma outra para dar apoio, alguns militares se jogaram na água mesmo com equipamentos pesados, tais quais armamento e colete, o que dificultou ainda mais o trabalho.
“Quando a gente chegou lá, a água já estava na cintura. Em alguns pontos, chegava até o pescoço. Eram pessoas precisando de socorro, não podíamos esperar”, relembra o militar. “Tivemos que retirar uma grávida bem do interior da vila, e teve que ser no braço mesmo. Até conseguimos colocar várias crianças em uma caixa d’água, mas, no caso dela, foi carregando mesmo”.
Uma idosa de 83 anos e um cadeirante também chamaram a atenção da equipe, pela dificuldade de mobilidade. “Tinha muita criança, bebê de colo… Os moradores ajudaram bastante, falavam onde tinha idoso, cadeirante… Ajudaram como puderam”, afirma Gildazio.
‘Dever cumprido’
Com um total de nenhuma vítima em estado grave mesmo com boa parte da vila tomada pela água, a sensação dos militares não podia ser outra. “Dever cumprido. Nosso trabalho é todo voltado pra preservação do indivíduo. Depois da vila Barraginha, ainda fomos à vila Itaú, onde também ficou tudo alagado. Os veículos dos moradores foram levados, o estrago foi grande. Foi muito trabalhoso, mas valeu a pena”, define o sargento.
O helicóptero do Corpo de Bombeiros, batizado como Arcanjo, também foi usado no trabalho das autoridades. Os militares conseguiram resgatar cinco pessoas que estavam ilhadas em uma residência. “O salvamento foi realizado em dois deslocamentos: no primeiro foram 3 vítimas e um bombeiro e, na segunda viagem, foram 2 vítimas e um bombeiro, todos foram deixados em local seguro”, afirma a corporação.
Helicóptero do @Bombeiros_CBMMG resgata cinco pessoas ilhadas após temporal de hoje. A corporação afirma que foi acionada em cerca de 70 ocorrências. pic.twitter.com/ZOXpUOblft
— BHAZ (@portal_bhaz) January 19, 2020
A Defesa Civil Estadual de Minas Gerais também foi mobilizada. “As vilas Barraginha e Itaú foram muito atingidas pela água. Algumas casas já foram interditadas porque possuem o risco de desabar. Estamos fazendo o cadastro de todas as pessoas, vamos acomodá-las todas, ou em casa de parentes ou em uma escola próxima. Tirar todos do perigo”, explica ao BHAZ o capitão José Ocimar de Andrade, enquanto ainda realizava o trabalho de campo.
Dever não cumprido
Se os militares saem deste domingo com sensação de dever cumprido, o poder público deve ficar com um sentimento oposto: foram reprovados. Em março de 1992, a mesma vila Barraginha foi palco de uma tragédia após uma fortes chuvas. Com o terreno instável, um deslizamento ocorrido no terreno de uma construtora fez com que uma enxurrada de lama atingisse o local.
Resultado: 150 residências destruídas, 70 feridos e 36 mortos. “Toda vez que eu vejo algo parecido na TV, como isso que aconteceu em Brumadinho, a lembrança volta e parece que foi ontem que a Barraginha afundou”, disse, ao repórter Carlos Amaral, do G1, a moradora Geralda Expedito dos Santos, de 81 anos.
Leia a reportagem sobre os 27 anos da tragédia, publicada em 2019, aqui.