Substância tóxica é encontrada em Belorizontina produzida neste ano, aponta análise contratada pela Backer

Amanda Dias/BHAZ + Divulgação/Instagram/@cervejariabacker

Análise independente contratada pela própria Backer apontou que uma remessa de Belorizontina produzida neste ano possuía a substância tóxica dietilenoglicol (DEG). A cerveja, no entanto, não chegou a ser comercializada – nem mesmo envasada – e apresentava uma quantidade de DEG menor do que a de lotes anteriores, que foram consumidos. Essa e outras informações foram reveladas nesta terça-feira (21) pelo autor da análise, o professor do departamento de Química da UFMG, Bruno Botelho.

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O especialista, que também é coordenador do LaBeer (Laboratório de Análise e Produção de Cerveja), afirmou ainda que não foi encontrada a substância tóxica na água utilizada pela Backer para produzir cerveja, ao contrário do que foi constatado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). No entanto, o especialista explicou que as amostras analisadas foram passadas pela própria cerveja (veja mais abaixo).

DEG em 2020 – e em queda

Botelho analisou amostras de produções realizadas em quatro datas distintas: 11 e 22 de novembro, 24 de dezembro e 3 de janeiro. Todas elas apresentaram DEG, substância com a qual a Backer garante não trabalhar, mas com uma queda na quantidade.

Concentração de DEG (g/100 mL) e data de produção

  • 11/11/2019 – L2 1348 – 0,83 g/100 mL
  • 22/11/2019 – L2 1354 – 0,67 g/100 mL
  • 24/12/2019 – L2 1557 – 0,41 g/100 mL
  • 03/01/2020 – amostra no tanque JB10 – 0,21 g/100 mL

“Analisei a cerveja e posso afirmar que ao longo do tempo a quantidade da substância vai diminuindo. Se eventualmente houvesse vazamento, esperaria que fosse constante [a presença do DEG] nos outros lotes. É difícil afirmar sobre o que aconteceu, pois não conheço o processo de produção da empresa. A causa precisa ser investigada”, afirma Botelho.

Apesar de afirmar que os números indicam que não houve vazamento, o professor disse que a possibilidade não pode ser totalmente descartada. “O DEG estar presente não é normal, mas a diminuição dele pode mostrar como ele foi parar na fábrica. Mas não sei indicar se houve falhas ao longo do processo”.

16 garrafas

O estudioso ainda afirmou que, de acordo com a literatura, para um homem de 70kg morrer intoxicado por DEG precisaria ingerir 16 garrafas de cerveja de 600 ml – considerando a quantidade mais alta da substância encontrada no rótulo Belorizontina.

No entanto, Botelho não soube precisar para qual período de tempo serve esse cálculo. E ainda complementou dizendo que é uma estimativa genérica, já que depende da reação do organismo de cada um e que a ingestão da substância pode gerar complicações que resultem na morte.

Água não contaminada

A análise feita pelo professor apontou ainda que a água utilizada na produção da cerveja pela Backer não está contaminada, ao contrário do que informou o Mapa. A pasta afirmou na semana passada que a água usada pela empresa tinha DEG e monoetilenoglicol.

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As amostras foram recolhidas de quatro pontos da cervejaria: restaurante, tanque, caixa d’água e trocador de calor. “Não foi detectada as duas substâncias. Eu não tive acesso aos laudos do Mapa, mas, pelas amostras enviadas pela Backer, de quatro pontos da empresa, não há contaminação”, disse Botelho.

Perguntado sobre as amostras serem recolhidas pela cervejaria, o professor explicou que esse é o procedimento padrão. “Independentemente de quem for o cliente, esse é o procedimento. Eles que recolhem e mandam”.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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