A prefeitura não gasta com o Carnaval de Belo Horizonte, pelo contrário

Amanda Dias/Bhaz

Por Kerison Lopes*

Desde que o samba é samba é assim. A folia do povo é sempre a culpada pelos pecados que não são dela. Com a tragédia que se abateu sobre a capital mineira nas chuvas dos últimos dias, começou a circular pelas redes sociais propostas de destinar o dinheiro que a PBH “gasta” com o Carnaval para recuperar a cidade. Na verdade, ao contrário de investir, a prefeitura arrecada, e muito, com a festa carnavalesca. Desde recursos diretos em patrocínios privados, até indiretos com a arrecadação de impostos.

Vamos aos números: a Belotur (Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte) recebeu para este ano um patrocínio máster da cervejaria AmBev, com a sua marca Skol, e do aplicativo iFood, no valor de R$ 6 milhões em verba direta e R$ 8,3 milhões em planilhas de estruturas e serviços, como banheiros químicos, gradil e outros gastos em logística. Além deste montante arrecadado, ainda está aberto outro edital, que vai arrecadar ainda mais de outras empresas que vão patrocinar fornecendo bens e serviços.

Fora o investimento direto, o Carnaval de BH arrecada milhões em impostos, já que alcançou o patamar de ser um dos principais destinos turísticos do país. Em 2019, durante os 23 dias de período oficial, as ruas receberam cerca de 4,3 milhões de foliões, sendo 80,1% moradores da região metropolitana e 19,9% visitantes. O número de turistas na cidade durante os dias de feriado foi de 204 mil, e a economia movimentou mais de R$ 700 milhões.

É o único período em que a rede hoteleira fica praticamente lotada, os restaurantes e bares cheios, táxis, aplicativos de transporte correndo o tempo todo. As lojas de fantasias, as confecções de camisetas, toda a economia criativa se movimenta com a folia. E isso significa empregos e renda. Só de ambulantes cadastrados pela PBH em 2019 foram 13.111, número que aumenta numa média de 36% a cada ano.

O Carnaval mostra a força da indústria criativa, uma esperança para a geração de empregos, cada vez mais escassos na indústria tradicional. A cultura, a arte, a gastronomia e o entretenimento marcam a atual fase do desenvolvimento, com a função de ressignificar as nossas relações com o mundo e as coisas.

Milhares de trabalhadores da cultura sustentam suas famílias ao longo do ano todo graças ao reflorescimento recente do Carnaval de BH.

De todo o valor arrecadado pela prefeitura, ela investe uma pequena parte nas organizações que realizam a festa, através de concorridos editais. Ao contrário das mentiras que se espalham, os reais realizadores do Carnaval, como blocos e escolas de samba, muitas vezes saem endividados por não conseguirem o recurso mínimo necessário para desfilar.

Lucro

Voltemos aos números: em 2020, 453 blocos de rua, que alimentam e mantêm vivo o Carnaval de BH, foram cadastrados para desfilar pela cidade. Destes, apenas 102 blocos foram contemplados no edital que distribui R$ 850 mil em cotas que vão de R$ 5 mil até R$ 12 mil para cada um dos contemplados.

Para as 8 tradicionais escolas de samba, que representam comunidades carentes da capital e envolvem milhares de pessoas, foi distribuído R$ 1,6 milhão, cada uma ficando com R$ 200 mil. Para os blocos caricatos, foi distribuído um valor total de R$ 405 mil, contemplando 11 agremiações, em cotas de R$ 50 mil e R$ 35 mil para cada um deles.

Basta fazer as contas pra perceber que dos 6 milhões em patrocínio direto, depositado na conta da Belotur, ela investe menos da metade do valor nos realizadores do Carnaval. Ou seja, a prefeitura lucra, e muito, com a realização do Carnaval, já que todos os gastos em logística são realizados pelas empresas na outra parte do patrocínio, através de planilhas de estruturas e serviços.

Portanto, antes de ir para as redes defender o cancelamento do Carnaval, saiba que é também graças ao dinheiro arrecadado com ele que a prefeitura terá condições de cuidar das vítimas e reconstruir a infraestrutura destruída pelas chuvas.

Enquanto muitos perdem o tempo falando mentiras nas redes contra o Carnaval, muitos blocos e escolas de samba estão fazendo campanha de solidariedade às vítimas, arrecadando alimentos e roupas nos seus ensaios para serem doados aos necessitados.

Volta Belchior/Divulgação

Na foto acima, nós do Bloco Volta Belchior estamos entregando tudo que arrecadamos no ensaio de domingo (26) para a Cruz Vermelha. Faça o mesmo, vamos construir ao invés de destruir. Nós construímos o lindo Carnaval de BH e vamos sempre defendê-lo, afinal, é a cidade e o seu povo que ganha com ele.

* Kerison Lopes foi presidente do Sindicato dos Jornalistas e atual presidente da Casa do Jornalista. É diretor da Escola de Samba Cidade Jardim e fundador de vários blocos de rua, como o Volta Belchior.

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