Bolsonaro volta 1 ano depois: Vai ajudar ou ignorar como fez com Brumadinho?

Ministro Canuto, Zema e Kalil retornam de sobrevoo na Grande BH, foto Gil Leonardi/Imprensa MG

Deve acontecer, nesta quinta (30), às 14 horas, mais um sobrevoo de políticos sobre as tragédias em Minas. Desta vez, virá o próprio presidente Jair Bolsonaro quatro dias depois que o seu ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto. Como o ministro e outros, Bolsonaro deverá subir no helicóptero, fazer caras e bocas, e anunciar em entrevista promessas que se perderão na burocracia federal. Da última vez que aqui esteve, há um ano, foi ao local do crime da Vale, em Brumadinho (Grande BH), mas não há notícia de que Minas tenha sido acudida.

Com raras exceções, os políticos deixam as aeronaves para pisar na lama onde pobres teimam em sobreviver. E ainda há alguém, como o próprio governador Romeu Zema (Novo), que os culpa por morar em área de risco. Para onde iriam? Pampulha, onde mora o governador? Zona Sul, onde mora o prefeito Alexandre Kalil (PSD) e a maioria dos políticos? Como o metro quadrado por ali é proibitivo, se alojam onde nada pagam porque a vida deles é que é quadrada.

Cadê as emendas e o fundo partidário?

Todo mundo sabe, especialmente as autoridades, que, nessa época do ano, a situação climática se agrava e desastres podem acontecer. Os procedimentos são os de sempre. No último domingo, o ministro Gustavo Canuto seguiu o receituário. Ao descer do helicóptero, informou que o Governo federal tem R$ 90 milhões para socorrer municípios atingidos em todo o país. Ainda aconselhou os prefeitos a se capacitarem para conseguir a verba. Não, sr. ministro, precisa, não. Pode fazer falta em Brasília.

Na mesma linha, o governador Romeu Zema disse que tinha R$ 3 milhões para o socorro. Isso é muito pouco e nada representa quando o quadro não é de limpeza ou de adjutório, mas de recuperação, de reconstrução de cidades inteiras. Lamentável, triste e assustador tudo isso está acontecendo por contas das fortes chuvas. Em vez desse dinheirinho, deveriam buscar a fonte recursos como as emendas parlamentares e os fundos eleitoral e partidário.

Faltam obras de longo prazo

Os políticos precisam entender que é preciso trabalhar com planejamento de longo prazo e não apenas por 4 anos. Fazer obras que, embora ninguém veja quando seriam feitas ou inauguradas. Por quê? Porque ficariam no fortalecimento do solo ou debaixo dele, sob as ruas, nas galerias de rios e canais. As chamadas obras enterradas. É nessa hora grave, de tragédias humanas e ambientais, que elas são importantes, sejam as crises naturais ou provocadas, ou ainda, agravadas pela ação do homem e ou do poder público.

Quando a gente constrói faz uma casa não a planejamos para receber uma quantidade X de chuvas, mas para essas e incertezas maiores. E a cidade, como Belo Horizonte, apesar do déficit histórico de obras, não se preparou para situações como a da noite de terça (28). É preciso muito mais do que isso, senhor governador, presidente e prefeito. Talvez por isso, Bolsonaro está vindo após seu ministro para consertar a péssima impressão.

Zema precisa cobrar o que é devido a Minas

Está na hora de Zema cobrar de Bolsonaro o apoio político que lhe dá, ao contrário de São Paulo e Rio. Embora viraram de oposição, esses estados recebem mais recursos e ajuda federal. Minas, nada até agora.

Não é o caso de apontar esse ou aquele culpado (veja o vídeo abaixo), mas obras não podem ser apenas um puxadinho ou remendo. É necessário algo forte e estrutural, pensando em situações de gravidade, de emergência, como foi a de terça.

Burocracia federal trava o socorro, acusa AMM

Na segunda (27), o presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Julvan Lacerda, criticou a burocracia federal. Segundo Julvan, o papelório trava o socorro às vítimas e municípios atingidos pelas chuvas. “A burocracia federal é demasiada e não consegue atender com a urgência necessária nesses casos”, criticou ele, um dia após a visita do ministro Canuto.

Não é sem razão. No estado de emergência em que estão metidos, os prefeitos não podem parar para preencher formulários e conseguir a verba da urgência. Além disso, exigem de um município pequeno capacidade técnica-gerencial que ele não tem para poder ter acesso a esse recurso.

Por essa razão, a AMM está apoiando e dando suporte aos municípios nessa questão para ter socorro rápido. De acordo com ele, é preciso quebrar esse processo, já que o dinheiro deveria atender à população atingida prontamente. Especialmente, para comprar água, comida, colchões para os desabrigados.

Assembleia recomenda antecipar quitação de dívida

A Assembleia Legislativa, por sua vez, deverá aprovar, em fevereiro, diversos projetos de lei com o objetivo de apoiar as vítimas das chuvas. Uma delas, já apoiada pelo governador, será autorizar o Executivo a antecipar parcelas de recursos devidos pelo Estado aos municípios. Claro, para aqueles que estão com situação emergencial já reconhecida oficialmente. A antecipação de recursos defendida pelo presidente Agostinho Patrus (ALMG) se refere ao acordo firmado entre o governo mineiro e a AMM. O Estado deve R$ 7 bilhões às prefeituras, dos quais R$ 6 bilhões da gestão petista de Fernando Pimentel e R$ 1 bilhão da atual gestão.

Obra prometia em 1970 o fim das enchentes

Na gestão do prefeito de BH, Oswaldo Pieruccetti, em 1970, era anunciado o fim das enchentes na capital com a canalização e o “enterro” do córrego do Leitão. Veja o vídeo abaixo de mais uma promessa enganosa aos belo-horizontinos.

https://www.youtube.com/watch?v=a1haD8Q_0Gw
Vídeo sobre obra no córrego do Leitão em BH na década de 70

BH receberá R$ 200 milhões de verbas para reparar estragos da chuva

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!