Chernoboys e a grama verde do vizinho: É preciso combater a masculinidade tóxica

petrix assedio roberto justus
Reprodução/Globo + Instagram/@robertojustus

Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*

As mulheres de 50 anos eram “velhas”, mas agora até “dá para fazer alguma coisa”, graças aos “recursos estéticos e de saúde” que as “tornam interessantes”. Mas elas não devem se “esquecer de se arrumar quando o marido estiver chegando”, repetindo o equívoco daquela que, depois que se casa, “aparece de bobes no cabelo, fica desleixada”, porque esse comportamento “desgasta a relação”. Como “o ombrinho do homem dá uma proteçãozinha”, não precisam se preocupar muito, mas sempre devem se lembrar de servir e agradar adequadamente o seu homem, pois “a partir do momento em que a relação esfria e percebo que a grama do vizinho está mais verdinha, eu vou pastar em outro lugar”.

As falas acima bem poderiam ter sido retiradas de uma comédia de costumes ou de um manual para a boa dona de casa de meados do século passado. Infelizmente, apareceram nas Páginas Amarelas da revista Veja, que entrevistou Roberto Justus. Com desabrida e desconcertante honestidade, o empresário desfiou sua visão particularmente machista – e repugnante, pode-se acrescentar – sobre as mulheres.

Na mesma semana em que a revista circulou, o integrante de um reality show apalpou os seios de outra participante, que estava visivelmente embriagada. E ainda protagonizou vários outros episódios igualmente sexistas, que mobilizaram as redes sociais por dias, culminando com sua eliminação no paredão quádruplo, com mais de 80% dos votos, após uma inquietante complacência da emissora responsável pelo programa.

É preciso dar um basta a essa masculinidade tóxica, que valoriza o homem rude, grosseiro, violento, agressivo, mulherengo, infiel, sexista e homofóbico.

O idoso entrevistado pela Veja, já sexagenário, realmente acha que “dá para fazer alguma coisa” com a mulher de 50 anos, desde que ela esteja “conservada”. Seria irônica a afirmação, se não refletisse um pensamento bastante comum, que infelizmente é introjetado pelas próprias mulheres. Ao comentar os seus 52 anos, Cláudia Raia fala da opressão sobre as mulheres, que ou se mantém jovens e gostosas ou ficam relegadas ao papel de avozinhas. Já os homens, estes são coroas charmosos, grisalhos, maduros…

Quantas mulheres não se submetem a procedimentos cirúrgicos com finalidade exclusivamente estética? Quantas mulheres não se preocupam com a velocidade com a qual perderão peso logo após a gravidez? Quantas mulheres não se sujeitam a um padrão inalcançável, apenas para se manterem jovens e desejáveis? Para evitar que seus companheiros resolvam pastar uma grama mais verdinha? Até mesmo a cirurgias plásticas íntimas as mulheres têm se submetido…

Já passou da hora de os homens enfrentarem essa questão.

A mulher não é um veículo ou um imóvel para estar “conservada”. Ela não se torna mais ou menos interessante por sua aparência física, por sua idade, por seu peso ou pelo conformação de seus grandes lábios.

A sua personalidade, a sua inteligência, a sua simpatia e caráter, dentre vários outros atributos, não estão subordinados a uma prévia aprovação de seu aspecto físico. Ela não precisa estar bonitinha para receber o marido e tampouco precisa de seu ombrinho para lhe dar proteção. A bem da verdade, ela nem mesmo precisa de um marido.

Os homens devem entender que as mulheres precisam de respeito e reconhecimento. Precisam ver seus direitos e interesses legitimados e observados pelo estado e pela sociedade. Elas não são troféus ou bibelôs a serviço de uma masculinidade fragilizada ou insegura. Não basta aos homens não serem machistas; eles devem lutar contra o próprio machismo.

* Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito e professor universitário. Foi o primeiro presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG e é membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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