Carta de familiares denuncia descaso da Backer com vítimas e pacientes em estado grave

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(Reprodução/Instagram/Backer + Marcello Casal/Agência Brasil)

Familiares das vítimas de intoxicação por dietilenoglicol divulgaram uma carta aberta, nesta segunda-feira (10), em que denunciam o descaso da Backer na assistência aos pacientes. Segundo o documento, a cervejaria está coletando dados das vítimas para uma “investigação própria” em vez de auxiliar os afetados.

“Ficou claro que, além de a cervejaria não estar preocupada com as vítimas e seus familiares, também não pretende arcar com os gastos referentes aos tratamentos. Muito pelo contrário. Frases como ‘vocês não sabem o que a Backer está passando’ ou ‘está cheio de oportunistas por aí’ para justificar a exigência de documentos pela empresa comprovaram a total FALTA de humanidade da empresa”, diz a carta dos familiares (confira na íntegra abaixo).

Procurada pelo BHAZ, a Backer disse que está notificando o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) sobre as ações que tem tomado. “As tratativas feitas em conjunto com o Ministério Público Estadual estão sendo observadas na íntegra e todas as comunicações oficiais estão sendo formalizados perante a autoridade competente que está ciente do cumprimento dos atos pela empresa”.

A carta mostra ainda a situação grave de pessoas que foram afetadas pela substância tóxica. “Existem vítimas que estão em coma, tetraplégicas e entubadas, outras em CTI com problemas nos rins, fazendo diálises diariamente, e com problemas neurológicos como paralisia de movimentos e facial, além de prejuízo a questões básicas como visão, fala e paladar. Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão”, afirma o documento.

Os familiares alegam ainda que, no dia 30 de janeiro, se reuniram com representantes do MPMG e da cervejaria. Após a conversa, ficou acertado que a empresa custearia as despesas envolvendo o tratamento de saúde das vítimas intoxicadas e auxílio psicológico a todos os familiares.

“Ficou acordado que a empresa realizaria reuniões individualizadas com os representantes das vítimas e, em 72 horas, efetivaria o custeio das despesas por eles apontadas ou apresentaria negativa fundamentada”, diz.

No entanto, segundo os familiares, até o momento nenhuma medida de auxílio foi tomada pela empresa. “Ocorre que, até a presente data, nenhuma família foi respondida. nenhum contato foi informado. Não está sendo prestada qualquer assistência mesmo após o vencimento do seu prazo de 72 horas, a empresa ignora o nosso sofrimento”, afirmam os afetados.

As investigações por conta da presença de substâncias tóxicas nas cervejas da Backer chegaram ao seu 34º dia nesta segunda. Até o momento, 28 pessoas, entre vítimas e familiares, foram ouvidas pela Polícia Civil. As autoridades investigam 34 casos suspeitos de intoxicação. Até o momento, seis mortes também são apuradas, em uma delas, o dietilenoglicol foi confirmado como a causa da morte.

Desde o início das investigações, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) ordenou que a Backer suspendesse a venda de suas cervejas e recolhesse os rótulos do mercado. Segundo o ministério, os contaminantes etilenoglicol ou dietilenoglicol foram encontrados em 41 lotes de cerveja de dez rótulos da empresa.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), instaurou processo administrativo contra a Backer por inadequação do recall apresentado e pelas consequências da ingestão das cervejas improprias por consumidores.

A pasta afirma que o recolhimento da cerveja só ocorreu depois de a Backer ter sido notificada pela Senacon e não ao tomar “conhecimento do problema, como estabelece a lei”.

A Cervejaria Backer será intimada para apresentar Defesa Administrativa e terá oportunidade de se manifestar no processo. Caso condenada, a multa poderá chegar até cerca de R$ 10 milhões.

Carta dos familiares na íntegra

“CASO BACKER – CARTA ABERTA DAS VÍTIMAS À COMUNIDADE DE MINAS GERAIS

Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2020.

As vítimas da intoxicação por dietilenoglicol e seus familiares vêm, por meio desta carta aberta, denunciar o comportamento atroz que a Cervejaria Três Lobos – Backer vem apresentando perante os consumidores que estão com gravíssimos problemas de saúde após a ingestão da cerveja Belo Horizontina.

É importante desde já indicar que dentre os mais de 30 (trinta) casos relacionados e 6 (seis) mortes, existem vítimas que estão em coma, tetraplégicas e entubadas, outras em CTI com problemas nos rins, fazendo diálises diariamente, e com problemas neurológicos como paralisia de movimentos e facial, além de prejuízo a questões básicas como visão, fala e paladar. Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão.

Diferentemente do que a empresa afirma na mídia, ATÉ AGORA, MAIS DE 30 (TRINTA) DIAS DA CONFIRMAÇÃO DO CASO E 5 (CINCO) DIAS DEPOIS DO PRAZO ESTABELECIDO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, A BACKER NÃO PRESTOU QUALQUER AUXÍLIO.

No dia 30 de janeiro deste ano, o Ministério Público de Minas Gerais notificou familiares das vítimas e a cervejaria para uma audiência pública, na qual ficou ajustado que a cervejaria custearia as despesas envolvendo o tratamento de saúde das vítimas intoxicadas e auxílio psicológico a todos os familiares. Ficou acordado que a empresa realizaria reuniões individualizadas com os representantes das vítimas e, em 72 (setenta e duas) horas, efetivaria o custeio das despesas por eles apontadas ou apresentaria negativa fundamentada.

Durante essas reuniões individualizadas, ocorridas em 03 de fevereiro, o enfoque da Backer passou longe de ser a saúde das vítimas. A empresa pretendia coletar informações por meio de um questionário que envolviam perguntas sem nenhuma relação com as necessidades e custeios de tratamento. Tratou-se de investigação própria que pode até mesmo embasar teses de defesa em face das vítimas. Ficou claro que, além de a cervejaria não estar preocupada com as vítimas e seus familiares, também não pretende arcar com os gastos referentes aos tratamentos. Muito pelo contrário. Frases como “vocês não sabem o que a Backer está passando” ou “está cheio de oportunistas por aí” para justificar a exigência de documentos pela empresa comprovaram a total FALTA de humanidade da empresa.

Em 06 de fevereiro, a empresa enviou nota à imprensa comunicando que por iniciativa própria (o que não é verdade), recorreu ao Ministério Público para ampliar o apoio humanitário que tem dado aos familiares dos consumidores intoxicados pela cerveja Belo Horizontina, e informando que a logística do atendimento seria definida e formalizada junto aos familiares. Além disso, disseram que seria informado contato para agendamento com psicóloga.

Ocorre que, até a presente data, NENHUMA família foi respondida. NENHUM contato foi informado. NÃO está sendo prestada qualquer assistência. Mesmo após o vencimento do seu prazo de 72 horas, a empresa ignora o nosso sofrimento.

Perante a mídia, no entanto, a Backer informa que está prestando assistência, inclusive por questão de humanidade e solidariedade. Onde está a humanidade em ser tratado como número, com descaso e sem respostas?

Como se não bastasse, a empresa utilizou do prazo concedido de boa-fé pelo Ministério Público de Minas Gerais e todas as vítimas da intoxicação para tomar providências em benefício próprio. O Pub Backer Gourmet, localizado no aeroporto de Confins, já teve seu nome alterado. Qual é o próximo passo? Esconder patrimônio?

Temos certeza de que a comunidade mineira deseja que nossas empresas prosperem, mas não às custas de vidas, desprezo e tanto desamparo. A falta de respeito conosco e a postura dissimulada da empresa devem ser de conhecimento de todos, contamos com a ajuda de cada um de vocês.

Minas Gerais não merece ter mais essa marca em seu povo.

Libertas quæ sera tamen”.

Nota da Backer

“As tratativas feitas em conjunto com o Ministério Público Estadual estão sendo observadas na íntegra e todas as comunicações oficiais estão sendo formalizados perante a autoridade competente que está ciente do cumprimento dos atos pela empresa”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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