Ataques machistas e sexistas contra jornalista da Folha são repudiados

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Hans River prestou depoimento em audiência da CPMI da Fake News (Jane de Araújo/Agência Senado)

Órgãos oficiais repudiam os ataques de cunho sexual e machista à jornalista da Folha de S. Paulo Patricia Campos Mello, iniciados nessa terça-feira (11), após depoimento de Hans River do Nascimento à CPMI das Fake News (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito). Hans é ex-funcionário da empresa Yacows, que teria feito disparos em massa pelo WhatsApp, durante a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. A denúncia foi reportada pela jornalista na época, gerando uma onda de ataques contra ela na ocasião.

À Folha, o senador Major Olímpio (PSL-SP), líder da sigla no Senado, disse nesta quarta-feira (12) que Hans mentiu à CPMI das Fake News ao falar sobre o disparo de mensagens. O senador disse também que e cometeu crime ao atacar a repórter da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello.

“Em uma comissão parlamentar de inquérito, e estando sob juramento, qualquer cidadão tem que dizer a verdade, sob pena de cometer crime. Acusações sobre a honra, a conduta profissional e moral da jornalista, ao meu ver, caracterizam crime”, afirmou Olímpio. O senador disse ainda que Hans deveria ter sido preso em flagrante. “[A comissão] deveria ter feito a prisão em flagrante pelo cometimento de crimes”, disse ao jornal.

Nessa terça, em depoimento, Hans atacou a jornalista e a acusou de ter se insinuado sexualmente em troca de informações para prejudicar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante o período eleitoral.

“Quando eu cheguei na Folha de S.Paulo, quando ela [Patricia] escutou a negativa, o distrato que eu dei e deixei claro que não fazia parte do meu interesse, a pessoa querer um determinado tipo de matéria a troco de sexo, que não era a minha intenção, que a minha intenção era ser ouvido a respeito do meu livro, entendeu?”, disse Hans em depoimento.

Após o depoimento do ex-funcionário, a reação nas redes sociais não foi diferente, a jornalista voltou a sofrer ataques.  Dentre os agressores, Eduardo Bolsonaro (sem partido), filho do presidente, que reiterou em sua rede social que a jornalista teria se oferecido sexualmente em troca de informações para prejudicar seu pai durante o período eleitoral.

Para desmentir Hans, a Folha publicou um material ainda na tarde desta terça, que mostra as mentiras contadas pelo ex-funcionários e defende a jornalista.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse em sua rede social que Hans deve ser punido por ter mentido em depoimento. “Dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei”, escreveu Maia.

Em nota (veja abaixo), a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) repudiaram os ataques.

A Fenaj considerou as ofensas como de “caráter misógino, violento e sexista do ataque à profissional jornalista, utilizado para colocar em dúvida a credibilidade das informações apuradas por Patrícia, uma das profissionais mais respeitadas e premiadas do país. O ataque atinge não só a repórter da Folha, mas também os princípios democráticos, constitucionais e a liberdade de imprensa”, disse.

A Abraji criticou o deputado Eduardo Bolsonaro pelas insinuações em sua rede social. “É assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam, sobretudo apelando ao machismo e à misoginia. Além disso, esta é mais uma ocasião em que integrantes da família Bolsonaro, em lugar de oferecer explicações à sociedade, tentam desacreditar o trabalho da imprensa”, afirmou o órgão.

Cerca de 850 jornalistas mulheres assinaram nesta quarta um manifesto repudiando as ofensas contra profissional da Folha. A carta (confira abaixo), critica o machismo nos ataques. “Não vamos admitir que se tente calar vozes femininas disseminando mentiras e propagando antigos e odiosos estigmas de cunho machista”, diz trecho do documento.

Pelas redes sociais, a jornalista agradeceu o apoio. “E queria agradecer também a todos os homens e jornalistas homens que vêm mostrando repúdio a essas ofensas e me tiras misóginas. Muito obrigada. Esse não será o novo normal, não vamos deixar”, disse.

Nota da Abraji

“A jornalista Patricia Campos Mello (Folha de S. Paulo) voltou a ser alvo de ofensas machistas e misóginas nas redes sociais, nesta terça-feira (11.fev.2020), depois que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) reproduziu, em sua conta no Twitter, difamações contra a repórter por parte de um depoente à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News e mais tarde repetiu em manifestação no plenário da Câmara as alegações. A Folha apresentou documentos que refutam o depoimento.

A nova rodada de agressões à jornalista se intensificou depois que Eduardo Bolsonaro replicou insinuações do depoente Hans River do Nascimento, em tom jocoso, em seu perfil no Twitter. O ex-funcionário da empresa Yacows afirmou à CPMI que a jornalista da Folha de São Paulo se insinuou para ele sexualmente em troca de informações para uma reportagem, veiculada em outubro de 2018, sobre disparos em massa de mensagens via Whatsapp, durante a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro à presidência. Não satisfeito em reproduzir as alegações nas redes sociais, o deputado mais tarde as reiterou no plenário da Câmara:

– Então, só para destacar esse ponto, eu fiquei aqui perplexo de ver, mas eu não duvido, que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro.

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) repudia a ação do deputado, que repercutiu para milhões de seguidores alegações difamatórias. É assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam, sobretudo apelando ao machismo e à misoginia. Além disso, esta é mais uma ocasião em que integrantes da família Bolsonaro, em lugar de oferecer explicações à sociedade, tentam desacreditar o trabalho da imprensa.

Não é a primeira vez que a jornalista Patrícia Campos Mello é alvo de assédio direcionado nas redes sociais. Tais ações tiveram início logo após a publicação da reportagem “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”, assinada por ela, na Folha de S.Paulo, ainda durante a campanha eleitoral de 2018. Centenas de usuários da rede social fizeram comentários agressivos, tentando manchar a credibilidade da repórter. Na época, a Abraji emitiu nota de apoio à jornalista.

Campos Mello é uma das mais respeitadas jornalistas do país. Repórter experiente, premiada, cobre relações internacionais, economia e direitos humanos há décadas. No ano passado, foi uma das vencedoras do International Press Freedom Award do Comitê de Proteção de Jornalistas (CPJ, sigla em inglês), ao lado de jornalistas da Índia, da Nicarágua e da Tanzânia que, assim como ela, sofreram ameaças e agressões em decorrência de seus trabalhos. Patrícia também faz parte da atual diretoria da Abraji”.

Nota da Fenaj

“A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) manifestam-se em solidariedade à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, alvo de ataques nas redes sociais após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) repercutir, em sua conta no Twitter e no plenário da Câmara dos Deputados, declarações falsas contra a jornalista, por parte de um depoente à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News.

Uma das fontes de Patrícia Campos Mello na apuração jornalística sobre empresas contratadas para disparos em massa de mensagens de whatsapp nas eleições de 2018, Hans River do Nascimento declarou à CMPI das Fake News que a jornalista queria “um determinado tipo de matéria a troco de sexo”. Ao repercutir a afirmação, o deputado Eduardo Bolsonaro disse não duvidar que a jornalista “possa ter se insinuado sexualmente”.

As declarações difamatórias foram desmentidas por reportagem da Folha, que disponibilizou provas, como gravações dos contatos e trocas de mensagens de Patrícia com Hans durante a apuração da matéria. A FENAJ e o SJSP repudiam as condutas do depoente e do parlamentar, entendendo que contribuem para a perseguição a jornalistas e descredibilização da profissão, reflexos dos ataques deliberados e estimulados pelo governo.

A Federação e o Sindicato repudiam, ainda, o caráter misógino, violento e sexista do ataque à profissional jornalista, utilizado para colocar em dúvida a credibilidade das informações apuradas por Patrícia, uma das profissionais mais respeitadas e premiadas do país. O ataque atinge não só a repórter da Folha, mas também os princípios democráticos, constitucionais e a liberdade de imprensa.

A Fenaj e o SJSP se colocam à disposição da jornalista para discutir e encaminhar as medidas cabíveis para defender o exercício do jornalismo e punir as mentiras e as ofensas utilizadas para atacar a jornalista e seu importante trabalho de reportagem.

Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP)”

Carta de repúdio assinada por jornalistas

“Manifesto em repúdio aos ataques à jornalista Patricia Campos Mello

Nós, jornalistas abaixo assinadas, repudiamos os ataques sórdidos e mentirosos proferidos em depoimento à CPMI das Fake News por Hans River, ex-funcionário da empresa Yacows, especializada em disparos em massa de mensagens de WhatsApp, à jornalista da Folha de S.Paulo Patricia Campos Mello.

Sem apresentar qualquer prova ou mesmo evidência, o depoente acusou a repórter, uma das mais sérias e premiadas do Brasil, de se valer de tentativas de seduzi-lo para obter informações e forjar publicações.

É inaceitável que essas mentiras ganhem espaço em uma Comissão Parlamentar de Inquérito que tem justamente como escopo investigar o uso das redes sociais e dos serviços de mensagens como WhatsApp para disseminar fake news.

Nós, jornalistas e mulheres de diferentes veículos, repudiamos com veemência este ataque que não é só à Patricia Campos Mello, mas a todas as mulheres e ao nosso direito de trabalhar e informar.  Não vamos admitir que se tente calar vozes femininas disseminando mentiras e propagando antigos e odiosos estigmas de cunho machista”.

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