O novo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, é belo-horizontino, assim como o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL). Isso não quer dizer que Minas, ou BH, ganhou mais um ministério. O mais certo é dizer que os militares ganharam o décimo cargo influente na Esplanada dos Ministérios, mais especificamente no Palácio do Planalto. É o mesmo prédio onde despacha o presidente Jair Bolsonaro, que, com a decisão, militarizou até o símbolo-sede do governo federal.
Além do próprio presidente, um ex-capitão do Exército, dão expediente no palácio outros quatro ministros militares. O ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o ministro chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. E, agora, Braga Netto comandará aquele ministério que, curiosamente, é chamado de Casa Civil. Todos os três são generais do Exército; apenas Augusto Heleno é da reserva. Como militar, tem ainda o major reformado da PM Jorge Oliveira na Secretaria-Geral. Com Braga Netto na Casa Civil, o presidente quer também um gerentão para organizar a máquina federal.
Com Bolsonaro e vice, são 11 militares
Em todo o 1º escalão, há outros cinco ministros militares, além do vice-presidente da República, general da reserva Hamilton Mourão. Tenente-coronel da reserva da Força Aérea, Marcos Pontes chefia a pasta da Ciência e Tecnologia. Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, é almirante da reserva da Marinha. Fernando Azevedo, da Defesa, é general da reserva do Exército. Wagner Rosário, chefe da Controladoria Geral da União, é capitão da reserva do Exército. Tarcísio Freitas, ministro da Infraestrutura, é capitão da reserva do Exército.
Queda de 2 ministros no mesmo dia
Para a chegada de Braga Neto, Bolsonaro demitiu dois ministros no mesmo dia, chegando à sétima mudança ministerial. Caíram os ministros Onyx Lorenzoni (DEM/RS), da Casa Civil, e Osmar Terra (MDB/RS), da Cidadania. Onyx foi para o lugar de Terra, que voltará para a Câmara dos Deputados, e cederá a vaga para ao general belo-horizontino.
A mudança consolida o aumento da influência do núcleo militar no governo. Após anunciar as mudanças pelas redes sociais, o presidente comemorou o governo “completamente militarizado”. “Ficou completamente militarizado o meu terceiro andar [do Palácio do Planalto]. São quatro generais ministros agora. Nada contra os civis. Tem civis excepcionais trabalhando, como o Sergio Moro [ministro da Justiça], por exemplo”, afirmou.
Além de Moro, ainda há os ministros civis, como o da AGU (Advocacia-Geral da União), André Mendonça, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Relação com o Congresso pode piorar
Tudo isso, claro, gerou aumento da apreensão em setores do Congresso Nacional. A relação política do governo com a Câmara dos Deputados e o Senado já é muito fragilizada e pode piorar a partir de agora. Por mais que não fosse o responsável, Onyx, que é deputado federal, de um jeito ou de outro, sempre foi demandado pelos parlamentares.
Para entender mais essa mudança ministerial, recomendo a leitura do livro ‘Tormenta – O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos’, de autoria da jornalista Thaís Oyama.
Presidente quer botar ordem no governo
A exemplo do que fez o então presidente Lula, ao convocar Dilma Rousseff para comandar a Casa Civil, Bolsonaro quer um gerentão na pasta. Militar quatro estrelas, Braga terá a missão mais gerencial do que política. Com isso, o presidente reconhece que a máquina não está funcionando bem.
Ao contrário de Onyx, Braga não irá se meter na negociação com o Legislativo, deixando o caminho livre para o ministro da área, Luiz Eduardo Ramos. Sem interesse ou projeto político, o novo gestor da Casa Civil ficará à vontade para cobrar com rigor a equipe ministerial. Ele é tido como disciplinado e competente, mas pouco sociável e de temperamento forte.
Braga Netto teve grande visibilidade na intervenção militar na área de segurança do Rio de Janeiro. Nesse período, registrou avanços e fracassos. De um lado, a melhoria de alguns índices de violência; do outro, a mortes de civis em favelas e o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).
Após a intervenção no Rio, subiu na carreira. Trocou o Comando Militar do Leste pela chefia do Estado-Maior do Exército, segundo maior cargo da Força.
+ Bolsonaros descobrem que pimenta nos olhos dos rivais não era colírio