Em mais um desfile de Carnaval com muita crítica social, a Mangueira fez uma releitura da história de Jesus, representando-o como um jovem negro e uma mulher negra. A agremiação fez um manifesto na Sapucaí, no domingo (23), pedindo o fim a violência contra as minorias.
A escola de samba contou a história universal por outros olhares e mostrou faces diferentes da história de Jesus. Como jovem negro, ele apareceu crucificado com balas alojadas no corpo e, na cruz, no lugar de “INRI”, estava escrito “negro”.
Jesus feito de cabelo platinado e corpo de menino, e no lugar de “INRI”, temos “NEGRO”. Impossível não relembrar de tantos casos de crianças da favela que perderam suas vidas em nome da opressão.
— Tweetdochar (@tweetdochar) February 24, 2020
Jesus da gente, Jesus periférico crucificado!
Mangueira, que obra! #Globeleza pic.twitter.com/3ozGmdd5bn
Em uma crítica à violência policial, a comissão de frente fez uma performance impactante. Jesus, desta vez branco, estava entre amigos que representavam minorias. Todos dançavam, até que a polícia apareceu e enquadrou o grupo, menos o protagonista, denunciando o racismo das autoridades.
jesus com seus amigos negros pobres sendo o único que não é enquadrado pela polícia não por ser Jesus mas por ser branco CARALHO MANGUEIRA QUE INCRÍVEL ESSA COMISSÃO DE FRENTE pic.twitter.com/TbC4JSIClo
— Gui (@Aguinaldinho) February 24, 2020
Representando Cristo como uma mulher negra, Evelyn Bastos usou uma coroa de espinhos e interpretou o sofrimento contado na história. Em entrevista depois do desfile, a rainha de bateria da Mangueira questionou: “Se fôssemos ensinados desde pequenos que Jesus poderia ser de qualquer gênero, uma mulher, será que estaríamos no topo do feminicídio?”.
O desfile dividiu opiniões na internet e a Mangueira foi um dos assuntos mais comentados no Twitter na noite de domingo. Na maioria dos comentários, a Mangueira foi exaltada pelo posicionamento e as críticas foram bem recebidas.
a mangueira trouxe:
— Gabriela Muraro (@gabimurarooo) February 24, 2020
jesus periférico sofrendo violência policial
jesus mulher negra
jesus jovem negro platinado morto com varios tiros
jesus bandido bom é bandido morto
bandeira lgbt escrito “vai tacar pedra”
a mangueira nao é só uma escola de samba, é símbolo de resistência
Quem não consegue compreender o impacto que Mangueira causa com esta mensagem, provavelmente não vive a realidade que muitos de nós, pretos, favelados, vivemos
— Jonas di Andrade (@jonasdiandrade) February 24, 2020
Se Jesus voltasse e fosse preto, provavelmente seria crucificado mais uma vez…
Escrevo isso com lágrimas nos olhos. pic.twitter.com/OebnQVcT97
Ontem foi lindo o desfile da Mangueira. Jesus do povo, dos pobres e sem arma na mão!
— Pastor Henrique Vieira (@pastorhenriquev) February 24, 2020
Ainda assim, alguns se sentiram ofendidos pelo desfile e se posicionaram contra a escola de samba no Twitter. “O carnaval lacrador da estação primeira de mangueira, onde não basta homenagear bandido. Tem que colocá-lo no lugar de Jesus Cristo”, escreveu Daniel Silveira, deputado federal pelo Rio de Janeiro.
Um escárnio, um desrespeito total, um ABSURDO esse enredo da Mangueira !
— Direita Brasil (@DireitaBrasil) February 24, 2020
Estão cometendo CRIME previsto no art 208 do Código Penal! Vai ficar por isso mesmo @MPF_PRRJ ??!?
RESPEITEM NOSSO SR JESUS CRISTO!
VERGONHA @gresmangueira ! CANALHAS! https://t.co/qAUBszx2Bw