Empresas de call-center que atendem Unimed, Copasa e Itaú descumprem medidas para frear novo coronavírus

Empresa de call-center não libera funcionários (Arquivo pessoal/Marcelo Casall Jr/Agência Brasil)

Duas das principais empresas de call-center de Belo Horizonte estão descumprindo as orientações dos órgãos de saúde para conter a disseminação do novo coronavírus. O BHAZ recebeu denúncias de funcionários de duas empresas: a Alma Via, que atente o banco Itaú e Anatel, entre outros; e a AeC, que faz trabalhos para Copasa, Cemig e Unimed, por exemplo.

Nas duas empresas, os funcionários não foram liberados para trabalhar de casa e temem a aglomeração e a falta de higienização dos instrumentos de trabalho, que são compartilhados. Em Minas Gerais, 29 pessoas já testaram positivo para a doença e outras 2.140 estão com a suspeita da enfermidade. No país, cinco pessoas já morreram em decorrência do microrganismo.

Sem higienização

Segundo um dos funcionários da AeC, de 25 anos, que não terá o nome divulgado, há vários pontos de discordância entre as orientações dos órgãos de saúde e o funcionamento da corporação. O primeiro deles tem relação com a higienização dos equipamentos.

Os turnos na AeC, segundo o denunciante, são de aproximadamente seis horas. O problema é que não há a higienização dos aparelhos em cada troca de pessoal. “Tem gente que entra meio-dia, outros meia-noite, e não dá para esterilizar. Só a espuma [do aparelho telefônico] é individual”, denuncia o trabalhador.

O mesmo acontece na Alma Viva. Uma funcionária de 22 anos, que também terá a identificação preservada, conta ao BHAZ que, se os funcionários não higienizarem seus aparelhos, ninguém da empresa se preocupa com essa questão.

“Estou com medo pela minha mãe que é idosa, hipertensa e tem problema de coração. Estou pensando em parar de ir [trabalhar]”, desabafou. A trabalhadora da AeC também não quer contaminar os entes queridos. “Meu marido está em casa e eu não. Posso levar o vírus pra ele”, complementa.

Na Alma Viva, conforme a denunciante, falta álcool em gel. “Alguns dias tem, outros não”, disse. Ela está ainda mais desesperada porque há suspeitas da doença na empresa. “Há quatro pessoas com a suspeita do novo coronavírus. É angustiante”, acrescenta.

Aglomeração

As duas empresas têm um quadro de funcionários grande. Na AeC, segundo o jovem, são cerca de 3 mil pessoas. Já na Alma viva, também de acordo com uma funcionária, são 4 mil pessoas.

“Eles orientaram que a gente evite aglomerações, mas a empresa [Alma Viva] é uma aglomeração em si. Na área em que eu trabalho, são ao menos 200 pessoas”, detalha. Na AeC, a situação é semelhante. “No setor que eu atuo, são ao menos 200 pessoas”, diz o rapaz.

Distância mínima não é respeitada

A orientação dos órgãos de saúde é de que as pessoas mantenham distância uma das outras. No entanto, essa recomendação está sendo ignorada pelas empresas de call-center. “As estações de trabalho não tem uma distância de um metro entre uma e outra”, revela a funcionária da Alma Viva.

Na AeC, as estações de trabalho também são coladas. “Não é possível manter um distanciamento”, explica o jovem.

Empresas tentam tranquilizar

O jovem que atua na AeC revela que a corporação fez comunicados, entregou panfletos e informou que não há pessoas doentes trabalhando no call-center. “Eles agradeceram o nosso empenho de comparecer, já que trabalhamos para empresas como a Unimed. Disseram que estamos salvando vidas. Falaram que estudam um trabalho remoto, mas não deram nenhum tipo de prazo”, informou o rapaz.

Na Alma Viva, a empresa fez uma pesquisa sobre quem tem computadores em casa, mas não foi além. “Ninguém fala nada oficialmente. Eu acho que vão afastar as pessoas do grupo de risco. Mas não sei. Está muito difícil”, acrescenta a moça.

Por que as empresas estão erradas?

O médico infectologista Marcelo Oliveira informou que as recomendações devem ser seguidas independentemente da profissão que a pessoa exerce. Oliveira ressaltou que é importante, por exemplo, evitar local com muita gente. “O ideal é evitar aglomerações e cuidar das pessoas do grupo de trabalho”, disse.

A limpeza de superfícies e equipamentos é outra preocupação do médico. “O vírus pode ser transmitido por meio de superfícies caso a pessoa toque nela”, salientou. Além disso, as pessoas devem ficar a pelo menos um metro de distância uma das outras e ter a “etiqueta” no momento em que for tossir ou espirrar (veja mais dicas abaixo).

O que dizem as empresas?

A AeC se defendeu dizendo que está tomando medidas de precaução e estuda um meio de trabalho remoto. Já a Alma Viva não atendeu às ligações da reportagem. Confira a nota na íntegra:

“Desde as primeiras notícias sobre o Coronavírus a AeC implementou em todas as suas unidades um rigoroso protocolo de ação baseado nas recomendações dos órgãos oficiais de saúde nacionais e internacionais.

Desde a confirmação do primeiro caso no Brasil, a empresa implantou as seguintes medidas:

– Disponibilização de álcool gel em todas as suas unidades e intensa campanha de conscientização e prevenção;

– Divulgação de palestras virtuais com profissionais da saúde e cursos EAD com orientações para todos os colaboradores;

– Forte aumento da frequência de limpeza de todas as suas instalações (estações de trabalho e áreas de uso comum tais como banheiros, lanchonete, catraca, recepção, elevadores, entre outros);

– Isolamento das saídas de água nos bebedouros, possibilitando apenas o abastecimento dos recipientes (copos e garrafas);

– Disponibilização de um grupo de profissionais da saúde na entrada de sua unidade com o objetivo de medir a temperatura dos colaboradores e explorar potenciais casos suspeitos (os quais imediatamente serão encaminhados a médicos e hospitais, sem contato com o ambiente interno da unidade);

– Esterilização completa do ambiente durante a madrugada, com o uso de equipamentos químicos utilizados nos mais modernos centros hospitalares.

Como medida adicional, nos próximos dias, já teremos distribuído kits individuais de higienização para 100% dos colaboradores da unidade.

A AeC também está trabalhando incansavelmente para viabilizar o trabalho remoto. Neste momento já temos 100% dos colaboradores com mais de 60 anos e 100% das gestantes com o direcionamento para que fiquem em suas casas e estamos evoluindo rapidamente para outros grupos de colaboradores.

Cabe ressaltar que a unidade Orion da AeC presta o atendimento a serviços essenciais para a capital mineira e todo o Estado de Minas, como os serviços de saúde, água e luz.

A AeC ressalta que a prioridade da empresa é e sempre será a segurança e bem-estar de todos os seus colaboradores e que valorizar as pessoas sempre foi base fundamental de seus valores e princípios inegociáveis e assim seguirá sendo durante a travessia desta situação“.

Cuidados para não pegar o vírus

A SES-MG orienta que a população tome algumas medidas de higiene respiratória para evitar a propagação da doença, são elas:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.
Aline Diniz[email protected]

Editora do BHAZ desde janeiro de 2020. Jornalista diplomada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) há 10 anos e com experiência focada principalmente na editoria de Cidades, incluindo atuação nas coberturas das tragédias da Vale em Brumadinho e Mariana. Já teve passagens por assessorias de imprensa, rádio e portais.

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