Empresas desrespeitam decreto, abrem as portas e colocam funcionários em risco: ‘Acham que somos imunes’

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UFMG e lojas abertas em Minas (Arquivo Pessoal + UFMG/Divulgação)

Apesar do decreto do governador Romeu Zema proibir que empresas abram as portas em todo o Estado, vários trabalhadores não foram liberados de suas jornadas diárias. O decreto de calamidade pública determina que apenas serviços essenciais (supermercados, farmácias, centros de saúde, entre outros) sejam mantidos em Minas. A medida foi anunciada na última sexta-feira (20) e começou a valer nesta segunda-feira (23).

O objetivo do mandatário do Executivo mineiro é reduzir a circulação do novo coronavírus nos 853 municípios do Estado. Conforme a SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais), Minas tem 128 casos confirmados da enfermidade.

O Estado informou, por meio de nota, que as prefeituras são responsáveis por “cassar” os alvarás de empresas que descumprirem o decreto. No entanto, a Polícia Militar pode ser acionada para dar apoio pelo 190.

Ameaça de demissão em Contagem

Em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, várias lojas de motos funcionaram normalmente nesta segunda-feira (23). Uma familiar de um dos trabalhadores do complexo, localizado na avenida Tito Fulgêncio, na altura do número 421, revelou ao BHAZ que o trabalhador sofreu ameaças. “Eles falaram que se alguém não fosse trabalhar seria demitido”, contou a denunciante, que terá a identidade preservada.

Conforme a familiar, há grande possibilidade de contágio no local. “São 20 pessoas em cada loja. A única coisa que tem é álcool em gel. Todos manuseiam o estoque, por exemplo, sem luvas. O local onde ficam as peças é fechado e abafado”, detalhou. A pessoa revelou ainda que o trabalhador mora na companhia de idosos, que estão no grupo de risco.

Lojas com portas abertas em Contagem (Arquivo Pessoal/ Divulgação)

O BHAZ tentou, por diversas vezes, contato telefônico com as empresas que aparecem na foto. No entanto, as ligações não foram atendidas.

Loja elétrica

Uma parente de um trabalhador de uma das unidades da loja elétrica, que não será identificada, contou que a loja está funcionando normalmente. “Eles não fizeram escala, não há higienização e um funcionário da loja está afastado com a suspeita da enfermidade”, revelou a mulher.

No Instagram, a empresa explicou que as unidades serão mantidas abertas porque fornecem materiais elétricos utilizados em larga escala na sociedade. Esses materiais são usados em supermercados, farmácias, entre outros. No entanto, a denunciante afirmou ao BHAZ que esse trabalho poderia ser feito com as portas fechadas. “No caso do serviço público, a compra é feita de outra maneira, não na porta”, enfatizou. O BHAZ tentou, sem sucesso, contato telefônico com a empresa. Veja a nota:

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Nota de Esclarecimento.

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Várias pessoas criticaram a empresa na rede social. “A loja elétrica continua funcionando normalmente e os funcionários continuam expostos. E os clientes continuam comprando normalmente! Todos irresponsáveis”, escreveu uma internauta.

“Estão despotencializando o perigo iminente, que arquem com as consequências quando houver número expressivo de funcionários e familiares contaminados”, escreveu outra.

Terceirizados da UFMG na ativa

O BHAZ recebeu ainda denúncias de uma funcionária terceirizada que atua na do campus da UFMG. Segundo ela, os prédios estão fechados, mas cerca de 10 pessoas trabalham diariamente na limpeza de edifícios vazios. “Não liberaram ninguém. Eu tenho filho em casa e moro com pessoa idosa. Estou com medo de contrair o vírus”, contou ao BHAZ. Outra preocupação é o trânsito de pessoas dentro do campus. “Hoje (segunda-feira) vi pessoas andando de bicicleta e fazendo caminhada. Os portões estão abertos”, disse.

O medo aumenta porque os funcionários precisam pegar ônibus todos os dias. “Ainda nos arriscamos nos coletivos. Não entendemos o porquê”, acrescentou. Os trabalhadores não teriam recebido recomendações para evitar o contágio. “Eles acham que a gente é imune”, finalizou.

A UFMG informou que está tomando medidas para evitar a disseminação do novo coronavírus entre membros da sua comunidade.

“Sobre os serviços de segurança privada e limpeza, considerados fundamentais por manter e proteger o patrimônio da instituição, orientamos para que as atividades prossigam com obediência às recomendações de higienização e distanciamento social. Tratam-se de atividades que não ocorrem em grandes aglomerações. O campus Pampulha segue aberto, uma vez que parte dos laboratórios seguem em funcionamento, também seguindo as medidas recomendadas pelo Ministério da Saúde”, disse em nota.

Empresa de alimentos

A mulher de um homem que trabalha em um frigorífico de Belo Horizonte, que terá o nome preservado, contou ao BHAZ que os funcionários estão trabalhando sem os cuidados devidos.

“A empresa não fornece máscara, eu que forneço para o meu marido”, revelou a mulher de 27 anos. O casal está preocupado, já que tem filho pequeno e a mãe do trabalhador é idosa.

Conforme o decreto de calamidade pública, serviços essenciais, como o alimentício, podem funcionar. Nesse caso, no entanto, é preciso que os funcionários mantenham distância de pelo menos um metro uns dos outros e que os materiais sejam esterilizados. Além disso, o local deve ser arejado. Veja mais recomendações abaixo.

E os call-centers?

Na sexta-feira (20), o BHAZ mostrou que as empresas de telemarketing não estavam seguindo as recomendações dos órgãos de saúde pública. O prefeito Alexandre Kalil chegou a determinar a suspensão das atividades do setor a partir desta segunda-feira (23).

No entanto, o governo federal declarou que o serviço de call center é essencial para a sociedade, já que atende planos de saúde, Copasa, Cemig, entre outros. Por isso, as empresas podem ser mantidas abertas. No entanto, todas as medidas para impedir a propagação do vírus devem ser observadas. Trabalhadores idosos e do grupo de risco devem ser liberados.

+ Empresas de call-center que atendem Unimed, Copasa e Itaú descumprem medidas para frear novo coronavírus

Após a medida de Bolsonaro, um dos trabalhadores que conversou com o BHAZ revelou que foram distribuídos kits de higienização e o espaço entre as “baias” de trabalho foi aumentado.

No entanto, o funcionário da AeC (que atende Unimed, Copasa e Cemig em BH) informou que todos continuam usando os mesmos aparelhos telefônicos e que não há livre circulação de ar.

A palavra do especialista

O médico infectologista Marcelo Oliveira informou que as recomendações devem ser seguidas independentemente da profissão que a pessoa exerce. Oliveira ressaltou que é importante, por exemplo, evitar local com muita gente. “O ideal é evitar aglomerações e cuidar das pessoas do grupo de trabalho”, disse.

A limpeza de superfícies e equipamentos é outra preocupação do médico. “O vírus pode ser transmitido por meio de superfícies, caso a pessoa toque nela”, salientou. Além disso, as pessoas devem ficar a pelo menos um metro de distância uma das outras e ter a “etiqueta” no momento em que for tossir ou espirrar”. (veja mais dicas abaixo).

Cuidados para não pegar o vírus

A SES-MG orienta que a população tome algumas medidas de higiene respiratória para evitar a propagação da doença, são elas:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.

Aline Diniz[email protected]

Editora do BHAZ desde janeiro de 2020. Jornalista diplomada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) há 10 anos e com experiência focada principalmente na editoria de Cidades, incluindo atuação nas coberturas das tragédias da Vale em Brumadinho e Mariana. Já teve passagens por assessorias de imprensa, rádio e portais.

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