Mulher é abandonada agonizando em frente a supermercado de BH por medo de contaminação

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Mulher ficou deitada esperando ajuda por cerca de 1h (Thomaz Albano/BHAZ + Reprodução/WhatsApp)

O temor de contágio e a ignorância sobre como ocorre a contaminação de coronavírus propiciaram uma cena de pouca solidariedade, nessa segunda-feira (23), em frente a um supermercado de Belo Horizonte, no bairro Castelo, na região da Pampulha. Uma mulher deitada no chão agonizando foi ignorada por várias pessoas mesmo pedindo ajuda.

Por volta das 10h, uma funcionária da lotérica Feijão de Ouro, que fica em frente ao EPA do bairro Castelo, começou a se sentir mal. A mulher, que tem aproximadamente 30 anos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de BH, sentiu dor no peito e dificuldade para respirar e, então, saiu do quiosque e sentou-se logo em frente ao supermercado.

“Ela estava com dificuldade pra respirar, provavelmente por uma crise de ansiedade ou pânico. Mas, por causa da respiração ofegante, começaram a levantar suspeita de que ela poderia estar com coronavírus. Uma colega dela, então, comprou uma máscara em uma farmácia aqui do complexo”, afirma ao BHAZ um dos comerciantes do centro comercial que preferiu não ser identificado.

A colega da mulher é Daniely Miranda dos Santos, que também trabalha na lotérica Feijão de Ouro. “Nós, da lotérica, ficamos o tempo todo ao lado dela. Ficamos muito preocupados e ligamos para o namorado dela”, afirma ao BHAZ.

Ignorada

Se as pessoas que passavam pelo local já estavam receosas por causa da respiração da mulher, quando ela colocou a máscara ninguém mais se aproximou dela. “Mesmo ela pedindo ajuda, as pessoas ficaram com medo”, relata o comerciante.

“As pessoas ficaram de longe, só observando, com muita informação desencontrada, falando que ela estava com coronavírus… Só sei que ela ficou mais ou menos 1h caída no chão”, complementa uma funcionária de outra loja vizinha, que também prefere não ser identificada.

A cada cliente que saía do EPA e via a mulher com máscara deitada, nova onda de preocupação. “Ninguém vem socorrer a menina no EPA aí, ó. A menina da lotérica do EPA. Está vendo a situação aí? Tentar ligar para o Samu para tomar as providências cabíveis. Tá vendo aí a situação, desse jeito aí. Tá passando mal”, disse um homem que chegou a gravar um vídeo para mostrar a funcionária da lotérica.

Crise

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado e chegou a fazer um atendimento por telefone. A Secretaria Municipal de Saúde de BH, que responde pelo serviço, afirma que os sintomas descritos pela mulher não configuravam um quadro de coronavírus.

O namorado avisado pelos colegas da lotérica, então, chegou e levou a companheira para uma unidade de saúde. Lá, ela foi atendida e, por precaução, os médicos pediram para que ela ficasse de quarentena, já que alguns sintomas de crise de ansiedade também aparecem com Covid-19, tais quais dores no peito e dificuldade para respirar.

“Conversei com ela ontem a noite e ela está bem, apesar muito triste com tudo o que aconteceu”, afirma Daniely.

Lotérica fica no estacionamento do supermercado e amanheceu fechada (Thomaz Albano/BHAZ)

A unidade da lotérica amanheceu hoje fechada com o seguinte comunicado afixado na porta: “loja fechada para limpeza geral e quarentena de 10 dias”. A medida também é preventiva e acompanhada a orientação dada pela equipe de saúde que atendeu a funcionária.

A reportagem tentou falar com os proprietários do estabelecimento em quatro telefones diferentes atribuídos a eles, além de procurá-los em outra unidade, no Alípio de Melo, que está funcionando normalmente.

O que fazer?

Mesmo com alguns sintomas de coronavírus, a decisão das pessoas de não prestar socorro é equivocada, conforme explica o infectologista Estevão Urbano.

“Se alguém se deparar com uma pessoa com sintomas e pedindo socorro, deve ter uma reação normal: ajudar a pessoa. Depois de prestar o socorro, é só higienizar as mãos, como está sendo intensamente divulgado nos últimos dias”, afirma o especialista.

Em casos mais graves, se a pessoa estiver tossindo ou com secreções respiratórias, basta colocar uma máscara. “Se não houver esses sintomas, não há nem mesmo a necessidade de colocar o equipamento”, complementa. E, lógico, após a ajuda, higienizar bem as mãos.

Por fim, o estudioso reforça que o coronavírus não causa “esse tipo de comportamento da mulher do vídeo, como desmaios”. “Ninguém está andando e cai, de uma hora para outra, por causa do vírus. Esses casos mais graves, que evoluem até mesmo para morte, ocorrem depois de vários dias de CTI, no hospital”, finaliza.

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