Governo ignora Covid-19 e faz campanha para pessoas voltarem às ruas; especialista fala em desastre

governo ignora medidas contra a Covid-19
Governo contraria medidas recomendadas pela OMS contra Covid-19 (Marcos Corrêa/PR + Reprodução/Shutterstock)

Alinhado ao contestado discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Governo Federal iniciou campanha pedindo o fim da quarentena e a retomada das atividades em todo o país, minimizando o avanço do novo coronavírus. A campanha do Governo contraria a recomendação de órgãos de saúde e foi repudiada pela SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). Especialista ouvido pelo BHAZ afirma que não há indícios para a redução da quarentena e que a medida por ser um “desastre”.

Em pronunciamento na noite dessa terça-feira (24), o presidente da República voltou a minimizar a pandemia provocada pelo avanço de casos do novo coronavírus em todo o mundo. O discurso foi criticado e considerado como “criminoso” e “irresponsável”.

Após o pronunciamento, a SBI, por meio de nota (confira na íntegra abaixo) assinada pelo presidente Clóvis Arns da Cunha, disse que o discurso do presidente pode dar uma “falsa impressão à população”.

“Neste difícil momento da pandemia de COVID-19 em todo o mundo e no Brasil, trouxe-nos preocupação o pronunciamento oficial do Presidente da República Jair Bolsonaro, ao ser contra o fechamento de escolas e ao se referir a essa nova doença infecciosa como ‘um resfriadinho’. Tais mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção social são inadequadas e que a COVID-19 é semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doença com baixa letalidade”, afirma.

A SBI também contestou as informações dadas pelo presidente em rede nacional. “É também temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é grave, pois até hoje já foram registrados mais de 420 mil casos confirmados no mundo e quase 19 mil óbitos, sendo 46 no Brasil. O Brasil está numa curva crescente de casos, com transmissão comunitária do vírus e o número de infectados está dobrando a cada três dias”, diz o órgão.

Nesta quarta (25), a página oficial do Governo Federal no Instagram fez uma postagem alinhada ao discurso do presidente. “No mundo todo, são raros os casos de vítimas fatais do coronavírus entre jovens e adultos. A quase-totalidade dos óbitos se deu com idosos. Portanto, é preciso proteger estas pessoas e todos os integrantes dos grupos de risco, com todo cuidado, carinho e respeito”, diz a postagem. Ainda no texto, o Governo pede a volta à normalidade. “Vamos, com cuidado e consciência, voltar à normalidade”, acrescenta.

Em conversa com o BHAZ, o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico infectologista, Estêvão Urbano, também criticou a medida.

“Não é o momento de parar a mobilização, na verdade, é algo que vai totalmente ao contrário do que é recomendado. O Governo precisa esperar as próximas semanas para ver a curva da doença no Brasil. Se estabilizar, podemos rever o processo. Agora, se for uma curva expressiva, o descontrole da quarentena agora pode acabar em um desastre”, diz.

Falta de alinhamento

Na manhã desta quarta, o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros se reuniram por teleconferência com os governadores Romeu Zema (MG), João Doria (SP), Wilson Witzel (RJ) e Renato Casagrande (ES). No entanto, a conversa não terminou de maneira alinhada entre os mandatários.

O governador Romeu Zema, disse após a reunião que vai manter as medidas recomentadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em Minas Gerais. “Queremos em primeiro lugar a preservação da vida”, disse Zema em vídeo publicado em sua rede social. O governador considerou a reunião com Bolsonaro e ministros foi “produtiva” e poupou o presidente de críticas.

Também após o encontro, o governador de São Paulo, João Doria, subiu o tom, criticou o presidente e disse que “faltou bom senso” por parte do mandatário. “O presidente prefere ouvir o gabinete do ódio em vez do gabinete do bom senso. Ele insiste em ter posicionamentos que contrariam a OMS e seu próprio Ministério da Saúde”, disse Doria ao destacar que o Estado paulistano seguirá com as medidas de quarentena já adotadas.

Nota da SBI

“Neste difícil momento da pandemia de COVID-19 em todo o mundo e no Brasil, trouxe-nos preocupação o pronunciamento oficial do Presidente da República Jair Bolsonaro, ao ser contra o fechamento de escolas e ao se referir a essa nova doença infecciosa como “um resfriadinho”.

Tais mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção social são inadequadas e que a COVID-19 é semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doença com baixa letalidade. É também temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é grave, pois até hoje já foram registrados mais de 420 mil casos confirmados no mundo e quase 19 mil óbitos, sendo 46 no Brasil.

O Brasil está numa curva crescente de casos, com transmissão comunitária do vírus e o número de infectados está dobrando a cada três dias.

Concordamos com o Presidente quando elogia o trabalho do Ministro da Saúde, Dr. Luiz Henrique Mandetta, e sua equipe, cujas ações têm sido de grande gestor na mais grave epidemia que o Brasil já enfrentou em sua história recente. Desde o início da epidemia, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estão trabalhando em conjunto com várias sociedades médicas científicas, em especial com a Sociedade Brasileira de Infectologia, com várias reuniões presenciais, teleconferências e trocas de informações quase que diariamente.

Também concordamos que devemos ter enorme preocupação com o impacto socioeconômico desta pandemia e a preocupação com os empregos e sustento das famílias. Entretanto, do ponto de vista científico-epidemiológico, o distanciamento social é fundamental para conter a disseminação do novo coronavírus, quando ele atinge a fase de transmissão comunitária. Essa medida deve ser associada ao isolamento respiratório dos pacientes que apresentam a doença, ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI) pelos profissionais de saúde e à higienização frequente das mãos por toda a população. As medidas de maior ou menor restrição social vão depender da evolução da epidemia no Brasil e, nas próximas semanas, poderemos ter diferentes medidas para regiões que apresentem fases distantes da sua disseminação.

Quando a COVID-19 chega à fase de franca disseminação comunitária, a maior restrição social, com fechamento do comércio e da indústria não essencial, além de não permitir aglomerações humanas, se impõe. Por isso, ela está sendo tomada em países europeus desenvolvidos e nos Estados Unidos da América.

Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e todos os demais profissionais de saúde estão trabalhando arduamente nos hospitais e unidades de saúde em todo o país. A epidemia é dinâmica, assim como devem ser as medidas para minimizar sua disseminação. “Ficar em casa” é a resposta mais adequada para a maioria das cidades brasileiras neste momento, principalmente as mais populosas”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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