O traficante e o presidente

Praça São Pedro vazia após ser fechada ao público (Divulgacão/VaticanoNews)

Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*

O chefe do tráfico na Cidade de Deus, Rio de Janeiro, mandou um recado claro para a comunidade: quem estiver de bobeira nas ruas vai ser punido exemplarmente. No mesmo dia, a Embaixada dos EUA no Brasil comunicou que, de acordo com o Aviso de Saúde Global de Nível 4 do Departamento de Estado, todo cidadão americano deve deixar imediatamente o País. Já o General Pujol, Comandante do Exército, afirmou que o combate ao coronavírus seria a missão mais importante de nossa geração, ao comentar a utilização das tropas na cidade de Vitória para conscientizar a população sobre a importância do confinamento.

Kalil, Dória e Witzel, que determinaram o lockdown na cidade de Belo Horizonte e nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, aparentemente concordam que a rápida disseminação do coronavírus exigiria uma atitude mais forte. O Ministério da Saúde, capitaneado por Mandetta, tende a concordar com essa avaliação, e também está tomando medidas que visam a contenção do vírus.

Essa forma de agir, a propósito, não é exatamente uma invenção que as autoridades e cientistas brasileiros tiraram do nada: é recomendado pela OMS e foi adotada na China, na Itália, na França, na Espanha, na Coréia do Sul e mesmo nos EUA. Até o Papa Francisco celebrou uma inédita missa em uma esvaziada Praça de São Pedro.

O presidente brasileiro, no entanto, acha que o mundo está errado. No mais desastrado discurso da história do País, ele conseguiu se superar. Abriu sua “torneirinha de asneiras”, tal como a boneca de pano do Sítio do Pica Pau Amarelo, e atacou a imprensa e os governadores, desautorizou seu próprio Ministério e conclamou a população a sair para as ruas. Ignorou as dezenas de milhares de contaminações já constatadas mundo afora – e seu consequente impacto sobre o sistema de saúde -, fez pouco das milhares de mortes e despejou dados incorretos e sem qualquer comprovação científica, em um misto de alucinação e irresponsabilidade.

Para quem se recusou a reconhecer o risco apresentado pelo coronavírus, omitindo-se em controlar os passageiros oriundos de regiões em que o contágio já ocorria; para quem não providenciou estímulos para o aumento da produção dos bens necessários para a contenção da crise, faltando até mesmo os kits para realização dos testes; enfim, para quem não assumiu a responsabilidade pela coordenação e integração das ações de combate ao vírus, boicotando o trabalho feito pelos governadores e prefeitos, o presidente foi muito longe. Ele, de fato, colocou em risco a saúde da população e a integridade e operabilidade do sistema de saúde.

Pobre do país em que até o chefe do tráfico tem mais prudência do que o presidente da nação.

* Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito e professor universitário. Foi o primeiro presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG e é membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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