Galba Velloso cessa consultas psiquiátricas e equipes temem ‘explosão’ de casos associados à Covid-19

Hospital Galba Velloso está localizado no bairro Gameleira
Hospital Galba Velloso está localizado no bairro Gameleira (Google Street View/Reprodução + Banco de imagens/Shutterstock)

Desde que começou a se preparar para receber possíveis casos de pessoas com Covid-19, o Hospital Galba Velloso está de “portas fechadas” para novos atendimentos psiquiátricos. A unidade de saúde, localizada na região Oeste de BH, deixou de atender pacientes – são 130 leitos disponíveis e apenas 21 registram ocupação. Com a estrutura “esvaziada” pela Covid-19, funcionários temem que a interrupção do serviço provoque uma explosão no número de indivíduos em busca de tratamento.

A suspensão dos atendimentos, que ocorre desde a semana passada, tornou-se alvo do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais), que já solicitou junto à Justiça a garantia da prestação dos serviços médicos a novos pacientes. A Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), por sua vez, alega que ainda não foi notificada sobre o caso.

Uma enfermeira contou ao BHAZ, sob anonimato, que a direção do hospital surpreendeu os funcionários com a decisão. Na última semana, pacientes teriam sido impedidos de entrar na unidade acompanhados de familiares. “Nós, funcionários, fomos surpreendidos com o comunicado da direção impedindo, até mesmo, o porteiro de autorizar a entrada de pacientes no Galba. Ficamos e estamos perplexos”, conta a profissional.

Os servidores do hospital questionam a forma como foram comunicados – via grupos de WhatsApp e por meio interlocutores da direção. A Fhemig informou ao BHAZ que a comunicação do fechamento da unidade ocorreu por meio de ofício entregue aos funcionários, após entendimento conjunto entre a Diretoria Assistencial e a diretoria do Hospital Galba Velloso.

Mensagem sobre mudanças no Galba surpreendeu funcionários (Reprodução/WhatsApp)

A enfermeira contou à reportagem que as equipes receberam a ordem de dar alta aos 50 pacientes que estavam internados na unidade. “Tínhamos acabado de fazer avaliação nos 50 pacientes internados para olhar aqueles que tinham condições de receber alta e fomos pressionados a fazermos a loucura de liberar todos. A justificativa era de que o hospital seria usado para tratar casos de coronavírus”, explica.

Alguns profissionais, segundo a profissional, aceitaram cumprir o determinado pela direção, enquanto outros se negaram. A Fhemig informou à reportagem que a orientação não existiu e que os pacientes que receberam alta foram considerados estáveis. Eles ainda receberão, segundo a fundação, assistência médica, via rede municipal de saúde.

Mesmo sem receber novos pacientes, 21 pessoas seguem internadas e tratadas no Galba Velloso. Os demais foram liberados ou transferidos ao Instituto Raul Soares.

‘Sem estrutura pro Covid-19’

O “esvaziamento”, forma como a funcionária se refere à dispensa dos pacientes, e à chegada de novos casos, ocorreu para tratar possíveis infectados pelo novo coronavírus. Apesar disso, a enfermeira questiona a falta de estrutura da unidade de saúde para estes atendimentos.

“Aqui não tem condições nenhuma de receber essas pessoas. Os leitos são para atender casos psiquiátricos. Para você ter ideia, nos quartos não há tomadas pois temos que prever possíveis acidentes com os pacientes. Galba Velloso não tem estrutura para atender quadros clínicos”, conta.

A Fhemig informou que o hospital vai passar por “readequações para atendimento, como retaguarda, para os demais hospitais da rede – para pacientes que necessitam de internações por outros motivos clínicos, ou seja, não Covid-19”.

Transtornos do Covid-19

Diante da situação da unidade, os servidores se unem pedindo ajuda para o caso ter uma solução e mostram que a demanda pelos serviços do Galba pode aumentar. “O hospital não pode ser fechado. Estudos mostram que em cenários de pandemias, guerras, recessão e catástrofe a demanda da psiquiatria aumenta”.

A enfermeira relaciona o possível aumento de casos ao novo coronavírus. “A questão do coronavírus traz medo para a população e temos que lembrar que daqui a pouco as mortes vão começar, as pessoas terão de lidar com o luto. Já outras podem perder o emprego, a fonte de renda, tudo isso é gatilho para alterações psíquicas”, diz.

MPMG pede volta dos atendimentos

Com o intuito de restabelecer os atendimentos no Galba Velloso, o MPMG ajuizou uma ACP (Ação Civil Pública) na Justiça. No entanto, isso não garante a retomada da rotina do hospital, já que a Justiça precisa acatar a demanda para então notificar a Fhemig, responsável pela unidade.

Na ACP, entre os motivos apresentados pelo MPMG, está a defesa de que os serviços essenciais ao tratamento de pacientes em sofrimento mental não podem ser interrompidos, por conta da readequação da rede pública de saúde para atender a pandemia do coronavírus.

Procurada pelo BHAZ, a Fhemig informou que não foi notificada pela Justiça sobre o pedido apresentado pelo MPMG.

Com MPMG

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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