Bolsonaro e aliados mantêm fritura do ministro da saúde; mortos já são mil

Charge publicada na revista britânica The Economist (Reprodução/The Economist)

A fritura do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, continua e ganha ares de conspiração palaciana na república bolsonarista. Pelos diálogos vazados pela CNN Brasil, nessa quinta (9), o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB), que é médico e deputado federal, articula a demissão do Mandetta. Terra conversou com seu sucessor no Ministério, Onyx Lorenzoni, se oferecendo para ajudar a trocar o titular da Saúde. Cotado para o cargo, o ex-ministro ainda disse que não precisava ser ele o indicado.

Onyx deu a entender, na conversa, que o Bolsonaro deu mole e que, se fosse ele o presidente, “teria cortado a cabeça” de Mandetta na última segunda-feira (6). Osmar Terra observou, em seu comentário, que o atual ministro da Saúde “está se achando”, repetindo – ou revelando que foi dele – a expressão usada pelo presidente. Quando falou sobre o assunto, Bolsonaro disse que um ministro estava falando demais, se achando estrela e que chegaria a hora dele.

A hora não chegou, mas parece ser uma contagem regressiva. Bolsonaro voltou a dizer ontem que “médico não abandona paciente, mas que o paciente pode trocar de médico”. A crítica direta foi feita sobre a fala de próprio Mandetta, ao dizer que não abandonaria o barco.

Ex-ministro errou na previsão

O fato é que, infelizmente, nessa contagem regressiva, a bomba vai explodir no colo do cidadão, que fica atordoado com a realidade próxima e assustadora da pandemia do Covid-19. Ela foi chamada de “gripezinha” por Bolsonaro, mas já matou mais gente do que a previsão feita pelo seu preferido para assumir o Ministério da Saúde. Osmar Terra disse, há um mês, que a doença não mataria mais do que a gripe do H1N1, que, em 2019, vitimou cerca de 700. O número de mortos pela Covid-19 já está na casa dos mil mortos no Brasil e dos 100 mil no mundo todo.

The Economist: “Tem cíumes de Mandetta”

Em vez de gastar energia para combater o inimigo público número 1 e mundial, que é a Covid-19, eles brigam entre si e travam o trabalho de Mandetta. Bolsonaro briga com ele por conta do isolamento social ao defender que seja vertical, só para os grupos de risco, o que é difícil de ser operacionalizado. Bolsonaro quer usar um medicamento e o politiza, sendo que o ministro, que é médico, e outros especialistas não recomendam. Bolsonaro quer colocar a economia no mesmo nível da saúde e da vida, o que é uma combinação explosiva.

E mais, o trabalho do ministro é bem avaliado por mais de 70% da população, que se sentem seguros com suas orientações e postura firme. Bolsonaro é aprovado por pouco mais de 30%. Tudo somado, talvez, a revista britânica The Economist tenha razão. Em sua edição dessa quinta (9), a publicação disse que Bolsonaro tem, na verdade, ciúmes da popularidade de Mandetta, assim como já teve de Sérgio Moro (da Justiça) e tentou fritá-lo também.

Confiram o que disse a revista no artigo com o seguinte título: “Jair Bolsonaro isolates himself, in the wrong way” (Jair Bolsonaro se isola de maneira errada). “A interferência de Jair Bolsonaro para minar esforços do seu próprio governo para conter o vírus pode marcar o início do fim de sua Presidência”, afirmou. A Economist já criticou outras vezes Bolsonaro e avalia que ele é apoiado por “um pequeno círculo de fanáticos ideológicos que incluem seus 3 filhos”.

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Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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